… A obra positiva do Homem, não se realiza através de todos os caminhos. Há caminhos que conduzem para a frente, e outros para trás. E frequentemente os que conduzem para frente são fruto de trabalho humilde de poucas pessoas. Como na lenda hebraica dos trinta e seis justos que silenciosos e desconhecidos, mantêm vivo o mundo…Francesco A.
Valor social e familiar
O lar familiar é essencial ao desenvolvimento integral das crianças e hoje mais do que nunca, ao sustentamento afectivo dos idosos, então as dificuldades, sejam elas de que tipo for, não podem levar-nos a substituí-lo por acantonamentos desumanizantes, provocando a desagregação das famílias, a desafiliação e a ausência de uma residência fixa.
É na família que devemos investir, com serviços capazes de melhorar as respostas a que cada modelo de si mesma (família) se vê obrigada, todos os dias, na gestão que faz da habitação, da saúde, da alimentação, do trabalho, da formação, da cultura e do descanso.
A inversão desse valor, é a precariedade das relações, o desemprego, a insatisfação e o desânimo, a violência doméstica, a indiferença dos membros da família que gera a perca de valor familiar e humano e leva ao detrimento do valor social de uma forma geral.
Os valores constituem um conjunto de princípios estruturantes da vida das pessoas e da organização da sociedade.
Então…
O que são valores?
Os valores são critérios ou padrões de julgamento a que as pessoas recorrem para tomar decisões perante situações sociais em que são confrontadas com variadas alternativas possíveis. (sociólogo Talcott Parsons, 1952).
O psicólogo social Milton Rokeach (1973) foi quem caracterizou os valores como crenças individuais. Schwartz, realça outras características típicas dos valores, como o facto de transcenderam situações específicas e serem funcionais na medida em que têm força motivacional suficiente para guiar as atitudes e os comportamentos dos indivíduos, como aliás, Parsons (1952) já havia destacado no contexto da sua teoria geral de acção.
O que leva as pessoas a adoptar um conjunto de valores e não aderir a outro?
Schwartz e colegas, explicam a origem dos valores, dizem que podem ser encontrados em três necessidades que consideram universais:
- necessidades biológicas;
- necessidades de relações sociais estáveis;
- necessidades de bem-estar e sobrevivência de grupos.
Um dos principais objectivos seria identificar as motivações básicas que determinam a adesão das pessoas a um conjunto de valores. È o esforço dos investigadores para aferirem uma medida que permita entender como uma pessoa adopta um valor e o hierarquiza no seu sistema de valores. Criou a Schwartz Value Survey (SVS) de 57 items, onde se perguntou às pessoas princípios-guia nas suas vidas. Conseguiu detectar 10 motivações básicas que seriam a razão pela qual as pessoas aderem a alguns valores e não a outros.
Agregados por domínios ou tipos motivacionais:
Universalismo, benevolência, tradição, conformidade, segurança, poder, realização, hedonismo, estimulação e auto-determinação.
Em que medida representam diferenças entre culturas?
Os valores têm sido estudados como sinónimos de crenças individuais relativamente estáveis sobre os comportamentos e princípios-fins considerados prioritários, isto é, os valores individuais que regem a vida das pessoas. São vistos como princípios-guia de uma sociedade, isto é, os valores culturais que se reflectem nas disposições normativas que regem as sociedades e que permitem o estudo das diferenças culturais.
A nível científico ainda muito há a fazer na compreensão dos processos de mudança social e identificação dos processos individuais. Dos contextos sociais que estão na origem das diferentes configurações normativas e adoptadas pelos indivíduos ao longo da vida. (Cícero Roberto Pereira e Alice Ramos).
Os valores culturais e a educação dos filhos
A criança é sociabilizada para se tornar membro de uma sociedade, quer seja fruto de um grupo de pastores nómadas, uma tribo de pescadores da Polinésia ou uma metrópole.
Culturas que vivem da agricultura ou pastorícia tendem a dar importância à obediência, a conformidade e responsabilidade na educação dos filhos, enquanto outras culturas darão primazia a outros valores.
É Interessante que na cidade acentua-se o conceito de classe social dos pais, onde a classe dita “operária” tende a realçar a importância dos controlos externos (obediência) enquanto a “classe média” tende a inculcar o controlo interno (auto-controlo).
Os mecanismos de sociabilização
- Recompensa
- Punição
- Imitação ( segundo um modelo escolhido ou imposto)
- Aprendizagem por observação
A teoria do reforço, de acordo com as teorias do comportamento operante e psicanalítica, a criança é socializada por um cálculo de dor e prazer. Ela continuará a fazer (como a desejar, a pensar, ou a recordar) o que lhe trouxe anteriormente gratificação e reprimir o provocou punição e ansiedade.
Acto moral e julgamento
A acção moral diz respeito tanto ao “faz” como ao “não faças”, tanto como fazer o bem e como não fazer o mal.
Lawrence Kohlberg, deu-nos uma explicação como funciona no desenvolvimento moral em que o método base consiste em confrontar os sujeitos como uma série de histórias que colocam um dilema moral. Ele chegou à conclusão, ao analisar as repostas, que nos pacientes o raciocínio moral se processa através de uma série de estádios sucessivos, como uma progressão primitiva orientada por um medo pessoal do castigo ou pelo desejo de ganhos.
No raciocínio moral dos homens e das mulheres, existirão diferenças?
Carol Gilligan, introduziu este debate, para ela os homens tendem a ver a moralidade como uma questão de justiça baseada em princípios abstractos e racionais que permitem tratar todos os indivíduos justamente e as mulheres por seu lado vêem a moralidade em termos mais concretos e sociais, para elas as questões centrais são as de compaixão, das relações humanas e das responsabilidades para com aqueles quem estamos intimamente ligados.
Terminando…
Os estádios de Kohlberg não indicam somente os princípios morais dos indivíduos mas eles também revelam a capacidade da pessoa para descrever esses princípios e raciocinar com base neles.
O desenvolvimento futuro de nós todos passará pela “meta-moralidade”, a capacidade para reflectir sobre as regras morais, independentemente de vivermos ou não segundo elas.
E isso faz toda a diferença, sermos capazes em situações de guerra, por exemplo, ou de socorrismo saber usar os processos mentais de forma a saber discernir correctamente numa dada situação crítica e ter capacidade de decisão numa acção específica (caso do caos ou confusão) onde reina a falta de moral, onde a regra está intrínseca no individuo mas a situação é dúbia e vamos estar dependentes das capacidades especificas de nós próprios para saber agir na ausência de estabilidade. A liderança, o heroísmo, a ajuda altruísta passa por estes parâmetros e são cada vez mais precisos…. (Rodrigues I.)
Deixo-vos com estas palavras do meu livro…
MUNDO: O caos faz parte de um processo de confusão, de desordem social e de desapego à ordem estabelecida. Resta saber se desse caos, me torno renovador e gerador de mudança, ou contributo para um maior empobrecimento das gerações futuras…a nível geral…
Tem de haver, no próprio caos, a noção que o objectivo inicial que o gerou se mantém e que o resultado deu frutos ao longo do tempo…senão, temos no final a triste sensação que tudo ficou na mesma e nada foi alterado.
In outros lados do prisma(Rodrigues I.)
Termino…
O valor humano é algo que deve continuar a ser estudado e a ser reflectido como algo que é intrínseco ao homem e o torna digno na sua conduta. O homem não teria tido a evolução correcta dentro de uma sociedade que precisa de progredir e ser pró-activa se não existissem os valores.
Se o ser humano fosse simplesmente passivo e expectante e não entendesse a consistência dos princípios, os valores e premissas criava uma sociedade sem estrutura coesa de saúde mental e social uma vez que tem de ter cuidado porque os actos que comete é algo que passa de geração em geração e vai naturalmente criando uma ordem do que é correcto e incorrecto que ficará impresso no “livro” interno do homem que age, ama, interage, se alimenta, que pensa e simplesmente age reflectidamente em qualquer acto espontâneo ao longo dos séculos.
Isto é, os valores pessoais e sociais, são uma força interior que constrói nações e criam desenvolvimento social, é algo que ficará escrito na pedra milenar dos valores humanos o tempo suficiente para à sua utilização coerente e duradoura. Esta força só será substituída por outra “premissa” quando esta fizer mais sentido, quando for mais útil e assim sendo será novamente impressa aos olhos dos homens e “das alturas” como tendo um valor incalculável a preservar. (Rodrigues I.)
Bibliografia:
Plano Lx, Olhares sobre a Família. Plano Municipal de Prevenção e inclusão de toxicodependentes e sem abrigo
Rodrigues I. Os outros lados do Prisma, Ed.Chiado Editora, 2015
Cardoso Luís J., Magalhães, P. Pais M. J. Portugal Social A.Z. Pág 271-281.
Francesco A. Valores. Círculo de Leitores. 2002
Gleitman H. Psicologia. Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 4 Edição.1999