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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Secção ‘Tiempo de História’, o lugar dos documentários no Festival de Valladolid

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

69ª SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid

Embora possam integrar outras áreas da programação da SEMINCI os documentários são exibidos, em princípio, na secção ‘Tiempo de Historia’.

Aqui são mostradas as obras que se debruçam sobre a realidade, remota ou actual. Um espaço de reflexão que oferece ao espectador a oportunidade de, a partir de ‘imagens do real’ se debruçar sobre o passado e compreender melhor os tempos actuais.

São 15 os trabalhos (todos de 2024) que integram este apartado, 6 deles com produção espanhola e, destes, alguns centrados em figuras ou realidades do país vizinho. A este propósito refira-se que, com a mudança na direcção do festival ocorrida no ano passado, deixou de existir a secção ‘Doc España’ que agrupava os documentários espanhóis presentes nesta mostra.

Nesta 69ª edição, que decorre até ao próximo dia 27, os espectadores poderão ver filmes tão diferentes como “The Invasion” de Sergei Loznitsa (concorrente ao ‘Oeil d’Or’ do Festival de Cannes), uma abordagem da resistência e resiliência, em tempo de guerra, dos anónimos cidadãos ucranianos, ou “Waldo”, filme espanhol de Charlie Arnaiz e Alerto Ortega Ahumada sobre a vida trágica do músico argentino Waldo de Los Rios que se suicidou em Madrid em 1977, aos 43 anos de idade, e que foi também muito popular em Portugal graças às suas versões da Sinfonia nº 40 de Mozart e do ‘Hino da Alegria’ da nona de Beethoven.

Uma visão muito particular dos Estados Unidos e da sociedade americana, através da vida e do testemunho de Henry Fonda e de inúmeros actores que com ele conviveram, em “Henry Fonda for President” de Alexander Horwat (Áustria /Alemanha), uma reflexão sobre os caminhos que se abrem à Europa dos nossos dias, um espaço pluri-cultural habitado por homens e mulheres imigrados dos mais diversos países, equacionados através da visão de uma professora em “Favoriten” (A Nossa Querida Professora) da austríaca Ruth Beckermann (‘Prémio da Paz’ no Festival de Berlim), ou a exploração laboral dos jovens trabalhadores da indústria têxtil na China contemporânea retratada em “Youth (Hard Times)” e “Youth (Homecoming)” dois filmes de Wang Bing com um total de mais de seis horas de projecção são outras propostas de ‘Tiempo de História’.

Um olhar sobre o passado franquista de Espanha está presente em “Turismo de Guerra”, do catalão Kikol Grau, que mostra como percursos por espaços ligados ao horror da ditadura podem agora ser o pretexto para a exploração turística ou, “La Marsellesa de Los Borrachos”, de Pablo Gil Rituerto, que em duas épocas separadas por 60 anos mostra como o canto popular e a tradição oral tiveram um papel primordial na história política dos nossos vizinhos.

Com uma actualidade desconcertante, “A Fidai Film’ de Kamal Aljafari (Palestina, Alemanha, Qatar, Brasil, França), premiado no Festival de Marselha e em ‘Visions du Réel’ (Nyon) e exibido no Indie Lisboa, mostra o saque israelita sobre o Centro de Investigação Palestiniano em Beirute em 1982. A tentativa de apagar a memória de um povo e de o desligar do seu passado.

Outros filmes da secção ’Tiempo de Historia’ são:

  • ‘Hija del Volcán’ de Jenifer de la Rosa Martín (Espanha, México);
  • ‘Mi Hermano Ali’ de Paula Palacios (Espanha, Portugal);
  • ‘TWST-Things We Said Today’ de Andrei Ujică (França, Roménia);
  • ‘Who Cares’ de Alexe Poukine (Bélgica, Suíça, França).

 

“A Savana e a Montanha’ de Paulo Carneiro, um filme português na competição

Depois de ter integrado a ‘Quinzena dos Realizadores’ de Cannes e o MDOC de Melgaço “A Savana e a Montanha” é um dos concorrentes da secção ‘Tiempo de Historia’ do Festival de Valladolid.

Terceira longa-metragem do realizador este é um filme feito com a comunidade de Covas do Barroso, no concelho de Boticas, e retrata sua luta contra as minas de lítio a céu aberto. Fá-lo num registo de ‘western’ o que dá a uma situação de algum dramatismo um inusitado toque de comicidade. O autor inspira-se sobretudo na resistência dos habitantes contra a exploração de lítio e na união da população da aldeia em defesa do seu território e património.

 

O Júri de “Tiempo de Historia”

A artista multidisciplinare realizadora de filmes experimentais Nina Danino, o catedrático da Universidade de Granada e escritor Domingo Sánchez-Mesa Martínez e o comisário de cinema do Centro Nacional de Cultura Cienmatográfica da Polónia, Tomasz Poborca, são os elementos do júri da secção ‘Tiempo de Historia’.

 

‘Memoria y Utopia’, um ciclo de clássicos

Esta é uma secção da SEMINCI surgida em 2023 e que procura recuperar filmes do passado que têm vindo a ser restaurados em diferentes países (geralmente por cinematecas) ou filmes realizados na actualidade mas que evocam figuras do passado.0

Algumas obras consideradas clássicas, censuradas (por razões políticas ou ‘morais’ ou outras) ou simplesmente esquecidas. Os dez títulos programados são oriundos de México, Estados Unidos, Portugal, Checoslováquia, Suécia, Hong Kong, Irão e Espanha.

São eles:

  • ‘La Negra Angustias’ de Matilde Landeta (México, 1949);
  • ‘Naked Acts’ de Bridget M. Davis (EUA, 1995);
  • ‘The Annihilation of Fish’ de Charles Burnett (EUA, 1999);
  • ‘Um Domingo Desperdiçado’ de Drahomira Vihanivá (Checoslováquia, 1969)
  • ‘Woman Without a Face’ de Gustaf Molander (Suécia, 1947)
  • ‘Nomad’ de Patrick Tam (Hong Kong, 1982);
  • ‘The Sealed Oil’ de Marva Nabili (Irão,1977);
  • ‘Constellación Portabella’ de Claudio Zulian (Espanha, 2024).

Em destaque, ‘Deprisa, Deprisa’ do espanhol Carlos Saura , ‘Urso de Ouro’ do Festival de Berlim em 1981.

A realçar também o português “Aparelho Voador a Baixa Altitude”, um filme de ficção científica realizado por Solveig Nordlund em 2002 a partir de um conto de J. G. Ballard, o autor de ‘Império do Sol’, e que tem Margarida Marinho e Miguel Guilherme como principais intérpretes.

 

‘Constelaciones’, obras de grandes realizadores

São 6 os filmes desta nova secção da SEMINCI. ‘Constelaciones’ pretende mostrar obras recentes de realizadores consagrados que passaram por Valladolid em anteriores edições do Festival e que agora regressam aqui numa mostra não competitiva.

Dos títulos programados constam, curiosamente, 5 que passaram no muito recente Festival de San Sebastian. Três na secção oficial (‘Emilia Perez’ de Jacques Audiard, ‘O Último Suspiro’ de Costa-Gravas e ‘Hard Truths’ de Mike Leigh) e dois na secção ‘Perlas’ ( ‘Bird’ de Andrea Arnold e ‘A Semente da Figueira Sagrada’ de Mohammad Rasoulof). O outro filme desta secção é ‘A Different Man’ de Aaron Schimberg.

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