Secções paralelas: outros “festivais” dentro do Festival
A mostra de San Sebastián que teve início na passada sexta-feira e se prolonga até ao próximo sábado oferece, como habitualmente, para além da secção oficial um conjunto de secções paralelas cuja qualidade e diversidade suscita particular interesse dos espectadores. Falamos hoje de duas delas.
Zabaltegi / Tabakalera
Zabaltegi é palavra basca que significa ‘zona aberta’. Esta é uma secção histórica do festival, da qual ao longo dos anos foram saindo vários conjuntos de filmes que entretanto deram origem a outras áreas da programação: ‘Perlas’ e ‘Novos Directores’. Muito recentemente à designação ‘Zabaltegi’ foi acrescentado o topónimo ‘Tabakalera’ isto porque os filmes passaram a ser exibidos na antiga fábrica de tabacos de San Sebastián cujo edifício foi recuperado no âmbito de ‘Donostia – Capital Europeia da Cultura /2016’ e transformado num grande centro cultural.
Para melhor definir esta secção o melhor é utilizarmos as palavras do próprio Festival:
Zabaltegi Tabakalera é a secção competitiva mais aberta do Festival de San Sebastián, onde não há normas, nem limitações de estilo ou tempo: curtas, médias e longas, ficções, não-ficções, animações, séries, instalações audiovisuais, descobrimentos de futuro e clássicos contemporâneos. É uma secção em que cabe o cinema que procura novos olhares e formas, uma autêntica zona aberta e de risco.”
O filme de abertura foi a Palma de Ouro de Cannes: “The Square” do sueco Ruben Östlund e no conjunto de trabalhos que constituem este ciclo destacam-se, entre muitos outros, o prémio FIPRESCI da Mostra de Veneza – “Ex-Libris – The New York Public Library”, filme com quase 200 minutos de Frederick Wiseman (lenda viva do cinema documental), os franceses “L’Amant d’un jour” de Philippe Garrel e “12 Jours” de Raymond Depardon, o coreano “Geu-Hu /The Day After” de Hong Sang-Soo, “Tesnota/Closeness” filme russo de Kantemir Balagov, prémio FIPRESCI de ‘Un Certain Regard’ de Cannes e o divertido documentário familiar espanhol “Muchos Hijos, un Mono y un Castillo” de Gustavo Salmerón (melhor documentário em Karlovy Vary/2017).
Presença portuguesa
É em Zabaltegi /Tabakalera que encontramos a representação portuguesa na edição deste ano: “Flores” de Jorge Jácome, em que uma história de uma praga incontrolada de hortênsias que leva à evacuação total da população de uma ilha dos Açores é o ponto de partida para uma reflexão sobre a identidade e o sentido de pertença e “Spell Reel” da artista (e não apenas cineasta) Filipa César, portuense radicada em Berlim, uma viagem ao ‘nascimento’ do cinema da Guiné-Bissau a partir de material de arquivo encontrado em 2001
Perlas
Embora possam ser encontrados noutros ciclos (por exemplo em Zabaltegi) ‘Perlas’ é a secção em que, em princípio, são exibidos filmes que se destacaram, ou foram premiados, noutros festivais. Da lista deste ano fazem parte, entre outros, os seguintes títulos:
- “Happy End” de Michael Haneke (França-Áustria-Alemanha), outra vez com Isabelle Huppert e Jean-Louis Trintignant
- “Jusqu’à la garde” de Xavier Legrand (França), Prémios do Melhor Realizador e da Melhor Primeira Obra no Festival de Veneza
- “Nelyubov /Loveless” de Andrey Zvyagintsev (Rússia- França-Bélgica-Alemanha), Prémio do Júri em Cannes
- “On Body and Soul” de Ildikó Enyedi (Hungria), Melhor Filme / Urso de Ouro em Berlim,
- “The Big Sick” de Michael Showalter (EUA), Prémio do Público nos festivais de Locarno e ‘South by Southwest’
- “Three Billboards outsider Ebbing, Missouri” de Martin McDonagh (Reino Unido), Prémio do Melhor Guião em Veneza
- “Wonderstruck” de Todd Haynes (EUA), o Presidente do Júri de San Sebastián em 2013
- “You were never really here” de Lynne Ramsay (EUA-França), Prémios de Melhor Actor e Melhor Guião em Cannes
- “La Villa” de Robert Guédiguian (França)
- “The Third Murder” de Hirokazu Koreeda (Japão)
A abrir a secção ‘Perlas’ foi exibido “Call me by your name” de Luca Guadagnino (Itália-França) e no encerramento teremos “Loving Pablo”, mais um filme centrado na figura do patrão do narcotráfico Pablo Escobar, produzido por Javier Bardem, que é também o principal intérprete acompanhado por Penélope Cruz. A realização é do espanhol Fernando León de Aranoa, o vencedor da Concha de Ouro de San Sebastián em 2002 com o magnífico “Los lunes al Sol”.