72º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE SAN SEBASTIÁN
Na noite do passado sábado terminou na cidade basca de San Sebastián, a 72ª edição do Festival Internacional. Mais de quinhentas sessões, muitas dezenas de milhar de espectadores, centenas de profissionais da comunicação e da indústria cinematográfica e um contínuo desfilar de estrelas de várias grandezas fizeram de Donostia a ‘capital do cinema’ durante dez dias.
Com inúmeras secções paralelas a integrar a programação as principais atenções centraram-se, como é natural, na secção oficial. Dezasseis filmes em competição numa selecção com um nível médio bastante aceitável.
Apontada durante o festival como uma das principais candidatas ao prémio máximo do certame “On Falling”, produção luso-britânica realizada pela portuense Laura Carreira, acabou por arrecadar a ‘Concha de Prata’ para a melhor realização, ex aequo com o espanhol “El Llanto” de Pedro Martín-Calero um desinteressante filme de terror classificado em 15º lugar (entre 16) no painel de críticos organizado pelo ‘Diario Vasco’. Pior só o lamentável “Emmanuelle” da francesa Audrey Diwan que mereceu, sabe-se lá porquê, a honra de filme de abertura do Festival.
“On Falling” é um trabalho de apreciável rigor, bem interpretado (bom desempenho de Joana Santos), situado no mundo do trabalho de uma cidade escocesa. Focado na vida dos trabalhadores imigrantes, nos empregos precários e mal remunerados é um belo exemplo de um cinema que toma partido, um cinema comprometido. Não seria de esperar outra coisa de uma produção em que a parte britânica é de uma empresa fundada por Ken Loach.
O filme de Laura Carreira recebeu ainda uma menção do Prémio ‘RTVE – Otra Mirada’.
Algumas das decisões do ‘Júri Oficial’ foram, como é habitual neste e noutros certames congéneres, objecto de crítica e de polémica. Desde logo a ‘Concha de Ouro’ atribuída a “Tardes de Soledad”, incursão do catalão Albert Serra no cinema documental. O filme acompanha o matador de touros peruano Andrés Roca Rey e a sua quadrilha, no quarto do hotel, na carrinha em que se fazem transportar e sobretudo dentro da arena, com inegável mestria técnica na captação do som e das imagens e na escolha dos planos e pontos de vista. O problema é que enquanto uns valorizam o conteúdo estético da ‘obra de arte’ outros não conseguem deixar passar em claro que ela, para além de nunca tomar posição sobre um ‘espectáculo’ que vai sendo banido em Espanha e em Portugal, é feita à custa da tortura e barbárie sobre animais, coisa pouco compaginável com os valores que devem caracterizar uma sociedade evoluída no final do primeiro quartel do século XXI. Ficamos com alguma curiosidade com a passagem do filme na RTP, empresa que há tempos deixou de fazer transmissões de touradas. É que a produção tem o apoio da televisão pública portuguesa.
Entretanto aqui fica o registo dos prémios da secção oficial atribuídos por um júri formado pela cineasta basca Jaione Camborda, pela escritora e jornalista argentina Leila Guerriero, pelo actor e realizador norteamericano Fran Kranz, pelo realizador grego Christos Nikou, pela produtora francesa Carole Scota e pelo cineasta austríaco Ulrich Seidl.
- ‘Concha de Ouro’ para o melhor filme (por unanimidade !!!): “Tardes de Soledad’ de Albert Serra (Espanha / França / Portugal);
- Prémio Especial do Júri: “The Last Showgirl” de Gia Coppola (EUA);
- ‘Concha de Prata’ para a melhor realização: “On Falling” de Laura Carreira (Reino Unido / Portugal) e “El Llanto” de Pedro Martin-Calero (Espanha / Argentina / França);
- ‘Concha de Prata’ para a melhor interpretação protagonista: Patricia López Arnaiz em “Los Destellos” de Pilar Palomero (Espanha);
- ‘Concha de Prata’ para a melhor interpretação secundária: Pierre Lottin pelo seu desempenho em “Quand Vient L’Automne” de François Ozon (França);
- Prémio do Júri para o melhor guião para François Ozon e Philippe Piazzo por “Quand Vient L’Automne”;
- Prémio do Júri para a melhor fotografia: Piao Songri em “Bound in Heaven” de Xin Huo (China).
Sem qualquer referência no palmarés ficaram os muito interessantes “Hard Truths” de Mike Leigh e “Le Dernier Soufle” de Costa-Gavras.
Outros prémios
- Prémio ‘Novos Directores’: “Bagger Drama”, de Piet Baumgartner (Suíça);
- Menção Especial ‘Novos Directores’: “La Guitarra Flamenca de Yerai Cortés” de Antón Álvarez (Espanha);
- Prémio ‘Horizontes’: “El Jockey” do argentino Luis Ortega;
- Prémio ‘Zabaltegi/Tabakalera’: “Aprili”, de Dea Kulumbegashvili (Geórgia);
- Menção Especial da secção ‘Zabaltegi/Tabakalera’: “Monólogo Colectivo” de Jessica Sarah Rinland (Argentina);
- Prémio ‘Nest’: “El Reinado de Antoine de José Luis Jiménez Gómez (Cuba / República Dominicana);
- Prémio ‘Culinary Zinema’: “Mugaritz, sin pan ni postre” de Paco Plaza (Espanha);
- Prémio do Público – Cidade de Donostia / San Sebastián: “En Fanfare” de Emmanuel Courcol (França);
- Prémio do Público para um filme europeu: “The Seed of the Sacred Fig” de Mohammad Rasoulof (Irão)
- Prémio Irizar para o cinema basco: “Chaplin – Spirit of the tramp” de Carmen Chaplin (Espanha / Reino Unido / Países Baixos / França);
- Prémio da Juventude: “Turn me on” de Michael Tyburski (EUA);
- Prémio ‘Agenda2030’: “Soy Nevenka” de Iciar Bollain (Espanha);
- Prémio FIPRESCI: “Bound in Heaven” de Xin Huo (China);
- Prémio SIGNIS: “Los Destellos” de Pilar Palomero (Espanha).