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Quarta-feira, Julho 17, 2024

Sem querer ir mais longe

José Sócrates
José Sócrates
Antigo Primeiro Ministro.

Começa a ser insuportável assistir, sem reagir, aos ataques que o líder do PS faz à história do Partido Socialista e aos anteriores governos socialistas. Nesta semana, declarou em entrevista que “os portugueses têm má memória das maiorias absolutas, quer as do PSD quer a do PS ”.

Sim, não têm boa memória da maioria absoluta do PS, nem terão – pelo menos enquanto a direção do PS se mantiver apostada em desmerece-la, juntando-se, assim, ao discurso de  todos os outros partidos que têm óbvio interesse político em fazê-lo. Gostaria, no entanto, de recordar:

– que essa maioria absoluta foi a única que o PS obteve em democracia;
– que esse governo conseguiu, em dois anos, tirar o País do deficit excessivo em que se encontrava e, no mesmo período, alcançar o maior crescimento económico verificado nesses anos difíceis (2007);
– que esse governo fez das energias renováveis uma prioridade política;
– que esse governo fez o programa escola a tempo inteiro, as novas oportunidades e iniciou a requalificação das escolas secundárias;
– que esse governo fez o maior aumento da percentagem de investimento em ciência;
– que esse governo fez da balança tecnológica um saldo positivo;
– que esse governo fez uma reforma da segurança social, mantendo-a pública, forte e sustentável;
– que esse governo propôs e ganhou o referendo do aborto;
– que esse governo fez o complemento solidário de idosos, fez as unidades de cuidados continuados, fez as unidades de saúde familiar – e ainda teve tempo de concluir o tratado de Lisboa e ganhar as eleições de 2009, já no meio da maior crise económica mundial.

Eis o que instantaneamente recordo no momento em que escrevo, sob reserva de melhor balanço político.

Para dizer a verdade nunca pensei que as coisas chegassem a este ponto. Nunca me ocorreu vir a encontrar-me na desconfortável situação de ter que recordar a alguém que o governo que agora maldiz foi, afinal, um governo no qual participou. Também nunca imaginei que alguém pudesse conceber como estratégia para ter maioria absoluta, desacreditá-la enquanto solução política. No fundo, o que parece querer dizer é que todas elas são horríveis – com exceção daquela que ele próprio obterá e que se diferenciará das outras justamente por ter sido obtida escondendo essa ambição e até negando esse propósito. É talvez a isto que chamam estratégia.

Pondo de lado as questões pessoais, sinto a obrigação de dizer que, se nenhum apoio pedi à direção do PS, também nunca esperei que esta me atacasse de forma tão injusta, ensaiando, agora, ao que parece, um segundo andamento – a diabolização dos seus próprios governos. Se assim é, e não desejando ir mais longe, aqui fica a minha breve resposta. Devo isso a mim próprio, aos meus colegas nesse governo e ainda a todos os que, livre e conscientemente, deram ao Partido Socialista a primeira maioria absoluta da sua história política.

 

Ericeira, 30 de agosto de 2019


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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