… são voltas e mais voltas na cama e as noites até parece que esticam as horas com o fim de atormentarem o candidato; e sempre que há reboliço no leito, Zumba, a futura primeira-dama por confirmar, resolve meter conversa sobre pormenores que hão-de ser valiosos no palácio, repete-os como se com isso tornasse a vitória inevitável e insiste na lista dos mordomos que acha que já podem ir sendo contactados desde agora…
Sérgio Inocente está confuso com as últimas notícias. Teme que se veja obrigado a refazer toda a sua estratégia de campanha, porque as hostes adversárias soltaram da cartola um coelho que por muito tempo pareceu improvável: o partido “Victória Certa”, vencedor das dez últimas edições eleitorais – que, somadas, perfazem cinquenta anos a governar – decidiu avançar com um novo candidato.
Está lançado o caos porque ninguém sabe, a ciência certa, do que é capaz o novo rosto do “Victória Certa”.
Quando Sérgio Inocente ligou para a sua equipa de campanha e pediu para falar com o assessor-chefe, percebeu que havia mais confusão por lá do que certezas relativamente à «nova dor de cabeça» e, por isso, optou por trabalhar sozinho nas mudanças de rumo e ajustes convenientes para salvar a eleição.
– Candidato que não se valha de uma intuição treinada, é candidato que não vai longe -, animou-se.
Refrescou velhos conhecimentos lendo Maquiavel, Hitler e Hugo Chávez, mas nenhum dos autores foi capaz de lhe aplacar angústias nem indicar-lhe faróis na margem que parecia afastar-se a cada lançar de olhar. Apenas uma metáfora, é claro, porque na verdade o candidato Sérgio Inocente andava tão deprimido com o golpe dos vencedores habituais que falar em olhar para margens ou horizontes era um despropósito sem piada. Estava afundado no sofá, como naquela noite em que doses irregulares de aguardente ameaçaram mata-lo para a política e para a vida mesmo, e os olhos tinha-os fechadinhos em ambiente de grande meditação.
– Na política, tu só te safas quando conheces bem as manhas do adversário, os seus trunfos e pontos-fracos. Aqui mal sei quem é o homem que terei de vencer para chegar ao palácio. Ó Zumba minha, meu doce de toda a vida, parece que não vai ser ainda desta que te ofereço o palácio! – desanimou-se o candidato.
Despertou dez horas depois no mesmo lugar, arrasado por uma fome ácida que parecia capaz de estragos piores que não saber o que fazer com o candidato que lhe parecera pela frente sem aviso prévio.
O autor escreve em PT Angola