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Segunda-feira, Novembro 18, 2024

63ª SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

Cinema português em grande destaque e Miguel Gomes a presidir ao Júri Internacional


A partir de hoje, e até ao próximo dia 27, vai decorrer na cidade espanhola de Valladolid a 63ª edição da Semana Internacional de Cinema. Mostra das mais antigas e prestigiadas do país vizinho, a SEMINCI insiste, ano após ano e com indisfarçado orgulho, em focar a sua programação no chamado “cinema de autor”.

63ª SEMINCI

Este é um festival em crescimento mas que ainda permite, num ambiente sereno e acolhedor, aceder a uma programação vasta e diversificada e participar em espaços de conversa sobre o cinema, os filmes e aqueles que os fazem.

Mais de duas centenas de títulos, dos quais cerca de 50 curtas-metragens (opção permanente do festival que merece ser particularmente saudada), preenchem uma dezena e meia de secções que proporcionam à cinefilia local e aos inúmeros jornalistas e profissionais de cinema (espanhóis e estrangeiros) presentes em Valladolid um grande leque de opções.  A grande dificuldade será escolher o que ver.

O cinema português estará, nesta edição, em grande destaque. Disso falaremos em próxima oportunidade.

Para já, uma primeira referência ao realizador Miguel Gomes, o autor de “Aquele Querido Mês de Agosto”, de “Tabu” e do tríptico “As Mil e Uma Noites” que, para além de dar uma das masterclasses do Festival, será também o presidente do Júri Internacional do certame. Será necessário recuar até 1981 para encontrarmos algum compatriota nosso a ter tal honra. Nesse ano presidiu ao júri, a escritora Agustina Bessa-Luís cujo 96º aniversário foi celebrado há poucos dias.

Os outros membros do Júri Internacional são a cineasta argentina Lucía Cedrón, a actriz espanhola Bárbara Goenaga, a holandesa Inge de Leeuw e a húngara Marta Menyei programadoras do Festival de Roterdão e do Hungarian National Film Fund’s International Department, respectivamente, e o guionista, realizador e produtor espanhol Manuel Pérez Estremera.

“Tu Hijo” de Miguel Vivas – um filme espanhol na abertura da secção oficial

 

A secção oficial é, naturalmente, o principal foco de atenção dos participantes no festival.  Vinte longas metragens, das quais dezoito em competição (número que nos parece um tanto excessivo), constituem a proposta deste ano. Presença significativa, e natural, do cinema espanhol e latino-americano, obras de novos realizadores (três primeiras obras e sete segundas) e uma atenção muito particular ao cinema europeu (em alguns casos por via das co-produções) caracterizam uma seleção, com muitos trabalhos premiados noutros festivais, que inclui alguns nomes consagrados como Paolo Virzi, Denys Arcand, Pablo Trapero ou Gastón Duprat. De referir também o facto de muitos dos competidores chegarem a Valladolid com prémios obtidos noutras paragens.

Como habitualmente, o filme de abertura é espanhol.  Na Gala inaugural, a realizar hoje à noite no Teatro Calderón, será exibido “Tu Hijo”, do sevilhano Miguel Ángel Vivas. De acordo com a sinopse disponibilizada ‘a vida do doutor Jaime Jiménez desaba quando o seu filho de 17 anos fica em estado vegetativo devido a uma brutal agressão de que é vítima à saída de uma discoteca. Depois de constatar que a justiça não faz nada para prender os agressores, o pai decide vingar-se pelas suas próprias mãos”.  No papel principal, José Coronado, actor com uma vasta carreira no cinema mas mais conhecido em Portugal pela sua participação em séries televisivas, com destaque para “O Príncipe” exibida com sucesso na RTP 2.

“Djon África” de João Miller Guerra e Filipa Reis – filme português compete na secção oficial

Um destaque muito especial merece a presença portuguesa no rol dos concorrentes: “Djon África” a primeira longa metragem de ficção de João Miller Guerra e Filipa Reis que até agora trabalharam fundamentalmente na área do documentário. Co-produção Portugal/Brasil/Cabo Verde, o filme (que já participou nos festivais de Roterdão, San Francisco e Lodz) segue os passos de Miguel, um jovem que viaja de Portugal até Cabo Verde para conhecer as suas raízes e encontrar o pai, que nunca conheceu.

 

Outros filmes em competição

A lista dos outros filmes em competição é a seguinte:

  • “A Land Imagined”, (Singapura/França/Holanda), de Yeo Siew Hua, filme que conquistou o ‘Leopardo de Ouro’ do Festival de Locarno;
  • “Ága”, (Bulgária/Alemanha/França), vencedor do Festival de Sarajevo, realizado pelo búlgaro Milko Lazarov;
  • “La Chute de l’empire américain”, (Canadá), o novo trabalho de Denys Arcand, que regressa ao universo de “O Declínio do império americano” (1986) e “As Invasões Bárbaras” (2003);
  • “Dogman”, (Itália/França), o novo filme do italiano Matteo Garrone, em que Marcello Fonte obteve o prémio de melhor actor no recente Festival  de Cannes;
  • “Genèse”, (Canadá), de Philippe Lesage, que esteve nos festivais de Hamburgo, Locarno e Montréal;
  • “Gräns”/ Border, (Suécia),  segunda longa-metragem do realizador dinamarquês de origem iraniana Ali Abbasi. Presente em vários festivais, o filme foi o vencedor da secção ‘Un Certain Regard’ no Festival de Cannes;
  • “In Den Gängen”, (Alemanha), terceira obra de Thomas Stuber, vencedora de dois prémios paralelos no Festival de Berlim, entre eles o do Júri Ecuménico;
  • “Jaulas”, (Espanha), primeira obra do sevilhano Nicolás Pacheco;
  • “Kona Fer I Strid” / A mulher da montanha, (Islândia/Ucrânia/França), que participou na ‘Semana da Crítica’ do Festival de Cannes. Este é o segundo trabalho do islandês Benedikt Erlingsson, autor do premiado “Histórias de cavalos e homens”;
  • “Mi obra maestra”, (Argentina/Espanha), o novo trabalho do argentino Gastón Duprat, um dos autores de “O Cidadão Ilustre” premiado com a Espiga de Prata na SEMINCI/2017. ‘Mi obra maestra’ foi exibido fora de concurso no Festival de Veneza;
  • “The Miseducation of Cameron Post”, (Estados Unidos), segundo filme de Desiree Akhavan, produtora, guionista, actriz e realizadora iraniana-norte americana que, com esta obra, obteve o Grande Prémio do Júri no Festival de Sundance;
  • “Notti magiche” / (Noite mágica, (Itália) de Paolo Virzì, protagonizado por Ornella Muti e Giancarlo Giannini. O regresso a Valladolid do autor de “La Pazza Gioia “ (em Portugal, ‘Loucamente’), vencedor da ‘Espiga de Ouro’ e dos prémios para a Melhor Actriz e do Público na SEMINCI/2016;
  • “La Quietud”, (Argentina/Itália), do argentino Pablo Trapero, um dos nomes maiores do cinema latino-americano;
  • “The Reports on Sarah and Saleem”, (Palestina/Holanda/México), de Muayad Alayan, um drama sobre a relação adúltera de Sarah, uma mulher israelita e Saleem, tal como o realizador, um palestiniano de Jerusalém. O filme obteve o Prémio do Público e uma menção para o argumento no Festival de Roterdão;
  • “Den Skyldige” /The Guilty, (Dinamarca), filme de estreia de Gustav Möller, premiado em Sundance;
  • “Utøya 22. Juli” /Utoya, 22 de Julho, (Noruega), de Erik Poppe, trabalho que recria o atentado que em 2011 um neo-nazi perpetrou num acampamento de jovens do Partido Trabalhista Norueguês fazendo várias vítimas mortais. Premiado na Noruega o filme competiu na secção oficial de Berlim.

Fora de competição será exibido, no encerramento, no dia 27, “Head full of honey” do alemão Til Schweiger. Baseado num outro filme que o realizador fez na Alemanha em 2014, “Honig im Kopf”, a película que fechará e SEMINCI é de 2018 e tem como principais intérpretes Nick Nolte, Matt Dillon, Emily Mortimer, Jacqueline Bisset e o próprio Til Schweiger. A história é a de um norte-americano doente de Alzheimer, viúvo depois de 50 anos de matrimónio e que tem um filho que vive em Inglaterra e cujo casamento atravessa uma crise. Uma abordagem dos valores da família a partir de situações desencadeadas com o agravamento da doença.

Presença portuguesa também na principal competição de curtas metragens

“Agouro”

“Entre Sombras”

Como já foi referido a SEMINCI dedica uma particular atenção às curtas-metragens ao ponto de na secção oficial haver uma competição para este formato. Na lista de catorze concorrentes encontram-se dois filmes portugueses (na verdade co-produções luso-francesas): “Agouro” de David Doutel e Vasco Sá e “Entre Sombras” de Alice Guimarães e Mónica Santos.

As “Espigas de Honra” de 2018

Os homenageados este ano com as “Espigas de Honra” são cinco realizadores, dois actores e um programa de televisão. A saber:  o actor norte-americano Matt Dillon (que apesar de ser um dos protagonistas do filme de encerramento será a estrela mais mediática da cerimónia de abertura), a    alemã Margarethe von Trotta, o iraniano Mohammad Rasoulof (do qual será exibida uma retrospectiva), o catalão Juan Antonio Bayona, a madrilena Iciar Bolain, o actor catalão Eduard Fernández, o veterano cineasta de Burgos Antonio Giménez-Rico e o programa de divulgação do cinema espanhol “Versión Española”, exibido desde há 20 anos no 2º canal da televisão pública de Espanha e habitualmente moderado por Cayetana Guillén Cuervo.

Margarethe von Trotta e a evocação de Ingmar Bergman

Já hoje, primeiro dia da SEMINCI será exibido , “Ingmar Bergman – A Vida e Obra do Génio” de Margarette von Trotta, actualmente em exibição em Portugal. Integrando a secção oficial (fora de concurso), e fazendo parte de um mini-ciclo com que a SEMINCI evoca o centenário do nascimento do cineasta sueco a exibição deste filme será pretexto para homenagear a realizadora alemã (autora de “Hannah Arendt”, por exemplo), presente em Valladolid, e que, como já foi dito será uma das distinguidas com a “Espiga de Honra” da 63ª edição.

Os outros trabalhos do ciclo dedicado a Ingmar Bergman são:

  • “Aiòn# oo1_DCP version  _MAR.CORE”, um espectáculo audiovisual desenvolvido por _mar.core (também conhecido como ‘Marco Rocca’) e dedicado a Ingmar Bergman e ao seu director de fotografia, Sven Nykvist:
  • “O Sétimo Selo” (Ingmar Bergman – Suécia, 1957):
  • “Bergman – ett år, ett liv” / Bergman, o seu grande ano (Jane Magnusson- Suécia/Noruega, 2018).

 

 

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