Hillary Clinton (Partido Democrata) e Donald Trump (Partido Republicano) foram os vencedores nas primárias do estado de Nova York do passado dia 19.
O polémico empresário mostrou sinais de querer mudar de atitude: assim o dá a entender o seu estratega de campanha. Por sua vez, o senador do Texas Ted Cruz enfrenta acusações de manobras menos éticas para conquistar mais delegados, com vista à convenção do seu partido. Do lado dos candidatos democratas, estes medem forças em termos de fundos angariados (e resultados práticos de votos obtidos com a campanha).
Primárias de Nova York: Clinton e Trump ganham terreno face a adversários
Donald Trump e Hillary Clinton foram os vencedores das eleições primárias do estado de Nova York, na passada terça-feira. O empresário, que nasceu em Queens (distrito nova-iorquino) e fez a sua fortuna na região de Manhattan, conquistou 60,5% dos votos, o que corresponde a 89 delegados. John Kasich teve 25,1% dos votos e elegeu 3 delegados. O senador texano Ted Cruz só conseguiu 14,5% dos votos e nenhum delegado, numa expressiva derrota face ao seu rival Trump.
Por sua vez, Hillary Clinton venceu com 57,9% dos votos (elegendo 139 delegados) contra os 42,1% do seu rival Bernie Sanders, que elege assim 106 delegados. A base de apoio de Clinton foi a região de Long Island, tendo conquistado mais votos entre o eleitorado hispânico, afro-americano e feminino. Ao discursar num comício, a antiga primeira-dama disse que “a vitória está à vista”; um dos seus apoiantes, Jay Jacobs, que trabalha em representação do Partido Democrata no condado de Nassau, em Long Island, afirmou que “Bernie Sanders foi muito negativo ao atacar Clinton e ao dividir o partido em Nova York, e acho que agora ele tem de se perguntar se quer continuar por esse caminho”. Clinton foi a mais votada em Manhattan, Queens e Bronx.
O senador do Vermont teve um comício na Pennsylvania State University. “Temos cinco primárias na próxima semana e acho que vamos sair-nos bem”, afirmou aos jornalistas, insistindo no discurso do “caminho para a vitória”.
No seu discurso, Donald Trump referiu-se ao seu mais directo rival, Ted Cruz, como “Senador Cruz”, em vez de “Ted Mentiroso”, como em ocasiões anteriores. “Ele está praticamente eliminado em termos matemáticos”. “Não temos mais uma grande corrida. Vamos à convenção como vencedores, penso eu”, declarou aos seus apoiantes, quando falava nas Trump Towers. As próximas primárias norte-americanas acontecerão dia 26 de Abril em cinco estados: Pennsylvania, Connecticut, Delaware, Maryland e Rhode Island.
Trump “está a desempenhar um papel”
O estratega-chefe da campanha eleitoral de Donald Trump tem falado de forma discreta com membros do Comité Nacional do Partido Republicano, alegando que o empresário tem “desempenhado um papel” na campanha mas está a começar a mudar para uma personagem mais dedicada aos negócios.
O Washington Post afirma que Manafort tem dito a membros do Partido que o candidato está a evoluir “para ser o que eles querem”, mas que vai continuar a referir-se a Hillary Clinton, a ex-primeira-dama e candidata democrata, como “Crooked Hillary” (“Hillary Trapaceira”). Nessa conversa, os membros ter-se-ão rido do nome, e Manafort terá dito: “Ela vai odiá-lo, e ele gosta disso assim”. “Resolver aspectos negativos da personalidade é muito mais fácil do que resolver lados negativos de carácter”, ironizou o estratega político.
Manafort insiste ainda que o empresário quer “ter a certeza que não teremos uma convenção fracturada”, insistindo numa mensagem de união e de propostas para os EUA. O estratega de campanha acredita que Trump vai ver o seu mapa a estender-se (numa referência à possível vitória do candidato em próximas eleições primárias).
Senador do Texas acusado de fazer acordos com rival
Ted Cruz, senador republicano do Texas e pré-candidato à Casa Branca, foi acusado pelo governador do estado do Maine, Paul LePage, de ter “hooligans políticos gananciosos” a dirigir a sua campanha, tentando mesmo acordos secretos com o seu rival directo, Donald Trump.
Na sua página de Facebook, LePage acusa Cruz de ter feito um acordo com o seu adversário para eleger delegados para a convenção nacional do Partido Republicano na proporção dos resultados saídos do caucus de 5 de Março naquele estado, conhecido como “O Estado do Pinheiro”. Tal acordo, a confirmar-se, traduzir-se-ia em doze delegados para Cruz, nove para Trump e dois para o governador do Ohio, John Kasich.
O jornal britânico The Guardian diz que existiram encontros para uma espécie de acordo de unidade entre as duas candidaturas no estado do Maine, mas não há certezas acerca de se ter chegado de facto a um acordo entre Trump e Cruz. Earl Bierman, o responsável de campanha de Cruz para aquele estado, assumiu ter existido uma tentativa de acordo, porém, a base de apoiantes do senador texano vetou-a.
LePage, na sua página de Facebook, chega mesmo a acusar um dos membros da campanha do senador texano de “nos esfaquear pelas costas”. O representante de Ted Cruz negou as acusações do governador de Maine e afirmou que a campanha do senador texano era “honrosa”, sublinhando que a campanha a nível nacional não teve qualquer papel em discussões sobre um acordo de unidade.
Sanders persiste apesar das sondagens menos favoráveis
O senador democrata do Vermont, Bernie Sanders, teve um comício esta semana em Scranton, estado da Pennsylvania, e insistiu: “temos ainda um caminho até à nomeação” pelo Partido Democrata para a corrida à Casa Branca. “Não me importo de perder, mas três milhões de pessoas no estado de Nova York registadas como independentes não tiveram o direito de participar nas primárias democratas ou republicanas. Isso não é democracia”, frisou o pré-candidato democrata.
Neste comício, felicitou a sua rival (que esta semana evitou mencionar Sanders, num contraponto ao tenso debate que ambos tiveram antes das primárias nova-iorquinas) e criticou a Comissão de Eleições daquele estado. Sanders persiste em ser candidato, apesar das primárias de Nova York e das sondagens não lhe serem favoráveis, quando faltam 15 estados para encerrar o ciclo e o candidato necessita de vencer pelo menos 60% dos delegados necessários para ser nomeado.
Angariação de fundos para a campanha: os números dos democratas
Hillary Clinton, antiga senadora nova-iorquina, pode ter angariado menos fundos do que o seu adversário Bernie Sanders, porém, por cada voto conquistado gastou 15 dólares em campanha, enquanto que o senador do Vermont gastou 22 dólares, de acordo com relatórios financeiros de ambas as campanhas.
No total, Clinton gastou mais de 157 milhões de dólares desde que arrancou com a campanha, conquistando 10,4 milhões de votos nas primárias. Por sua vez, Sanders gastou 168 milhões na sua campanha e conquistou 7,7 milhões de votos. No fim do passado mês de Março, Clinton ainda tinha para gastar na campanha 29 milhões de dólares, e Sanders tinha 17 milhões.
Caso a ex-primeira-dama seja nomeada para concorrer à Casa Branca pelo Partido Democrata, prevê-se que vai necessitar de mais fundos para enfrentar Donald Trump, o polémico empresário que deseja ser o nomeado pelo Partido Republicano; recorde-se que Trump é considerado um especialista em conseguir publicidade e cobertura mediática gratuitas. Em 2008, quando perdeu a nomeação para o então candidato Barack Obama, Hillary Clinton terminou a campanha com uma dívida de 9,5 milhões de dólares.
Fontes: Ag Reuters, ABC News, The Guardian, New York Times, CNN