Reportagem conjunta dos jornalistas Ricardo Balthazar, da Folha de S.Paulo; e Rafael Moro Martins, do The Intercept Brasil, revelou nesta segunda-feira (29) que há seis dias do primeiro turno da eleição presidencial do ano passado o então juiz Sergio Moro “agiu por considerações políticas” ao tomar a decisão de divulgar parte da delação do ex-ministro Antonio Palocci, mesmo tendo dúvidas sobre as provas apresentadas pelo ex-ministro.
Apesar de considerar o depoimento fraco, o atual ministro de Bolsonaro achava relevante “mesmo assim por representar uma quebra dos vínculos que uniam os petistas desde o início das investigações”.
Mensagens trocadas na época por procuradores da Lava Jato deixam claro os objetivos políticos de Moro:
“Russo comentou que embora seja difícil provar ele é o único que quebrou a omerta petista”, disse o procurador Paulo Roberto Galvão a seus colegas num grupo de mensagens do aplicativo Telegram em 25 de setembro, tratando Moro pelo apelido que eles usavam e associando os petistas à Omertà, o código de honra dos mafiosos italianos.
Segundo a matéria, outros membros do grupo também comentaram o assunto: “Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele”, afirmou a procuradora Laura Tessler. “O melhor é que fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja”, acrescentou Antônio Carlos Welter.
“Nesse dia, Moro acabara de receber as provas entregues pelo delator e se preparava para divulgar um dos depoimentos que o ex-ministro prestara sobre a corrupção nos governos do PT. O comentário reproduzido por Galvão sugere que o juiz deixou de lado sua insegurança sobre as provas ao tornar a delação pública”, diz um trecho da reportagem.
Os jornalistas lembram que Polocci recorreu à PF após não conseguir acordo com a Procuradoria-Geral da República e a força-tarefa à frente da Lava Jato em Curitiba, que negociaram com o ex-ministro durante quase oito meses.
“As mensagens examinadas pela Folha e pelo Intercept mostram que os procuradores encerraram as negociações ao concluir que a delação de Palocci acrescentava pouco ao que os investigadores já sabiam e não incluía provas capazes de sustentar os depoimentos que traziam novidades”, diz o texto.
Sem provas
Apesar do cenário negativo para uma possível delação, Moro divulgou a delação de Palocci no dia 1º de outubro, uma semana após o comentário reproduzido por Paulo Roberto Galvão no Telegram e uma semana antes do primeiro turno das eleições presidenciais.
Sem apresentar nenhuma prova, Palocci diz que as campanhas da ex-presidente Dilma Rousseff em 2010 e 2014 receberam dinheiro de caixa dois e custaram muito mais caro do que os registros oficiais indicam. Somadas as duas campanhas, ele estimou que elas haviam custado R$ 1,4 bilhão, o triplo do que foi declarado.
Também sem provas e novidades do que já havia afirmado, o ex-ministro disse que Lula autorizou o loteamento da Petrobras pelos partidos que apoiavam seu governo e sabia que eles recolhiam propina das empreiteiras que faziam negócios na estatal, como a Odebrecht.
O fato foi usado a exaustão pela mídia nacional em detrimento da candidatura de Fernando Haddad. “No dia 1º, o assunto ocupou quase nove minutos do Jornal Nacional, da TV Globo. A reportagem citou duas vezes a ligação do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli com a campanha do então candidato presidencial do PT, Fernando Haddad, que aparecia em segundo lugar na corrida eleitoral, bem atrás do favorito, Jair Bolsonaro (PSL)”, diz outro trecho da reportagem.
Os jornalistas lembram ainda que ns dois últimos programas da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) mencionaram as acusações do ex-ministro, dizendo que ele havia mostrado por que era preciso impedir a volta do PT ao poder.
Desfecho
Como seria responsável por avaliar os benefícios oferecidos a Palocci, Moro alegou que necessário anexar os autos aos termos de colaboração do ex-ministro. Ao responder a uma reclamação no Conselho Nacional de Justiça, o atual ministro deu outras explicações e negou que sua intenção tivesse sido influenciar as eleições presidenciais.
“Um mês depois, Moro abandonou a magistratura para ser ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro. Duas semanas depois, o TRF-4 soltou Palocci, que estava preso em Curitiba havia dois anos, e determinou seu recolhimento em prisão domiciliar, monitorado por tornozeleira eletrônica”, diz um dos trechos da reportagem sobre o desfecho do caso.
Texto original em português do Brasil
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