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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

5 dias para conhecer a Arte do Corval | Dia 1

Anabela Oliveira_Corval_9
A loja, de luz branda, acolhe o colorido das peças

Corval, a tradição ainda é o que era

O céu abre-se em água quando chegamos à freguesia rainha da olaria alentejana: São Pedro do Corval. Mais correctamente, Corval, que a designação de São Pedro caiu, quando o sítio passou a freguesia.

Temos já a mira apontada, quando desembocamos na estrada da vila. Porta sim, porta sim, as olarias espraiam-se pela rua principal, paralelas e perpendiculares. Por isso Corval é tido como um dos mais importantes centros oleiros de Portugal e aí é organizado um dos maiores eventos ibéricos na área, a Festa Ibérica da Olaria e do Barro (FIOBAR).

Os tornos devoram blocos de barro, transformados em peças típicas

Na impossibilidade de entrever todas as cerâmicas, há que fazer opções e inclinamo-nos para a olaria mais antiga. Curiosamente, também aquela onde trabalha o mais novo de quantos se ocupam do mister em toda vila. Rui Santos, de seu nome, com a irmã, Neida Santinha, são hoje os proprietários da Olaria Patalim, testemunho transmitido de pais para filhos desde o tempo dos seus bisavós.

 

 

 

Patalim, de “patalinhar”

Para tornear o barro, a habilidade tem de estar ao nível da velocidade

À vista desarmada, pouco distingue esta das outras olarias, excepto talvez a ausência de exposição ao olhar de quem passa rápido. A loja é recatada, as portas estão abertas a quem queira entrar mas, nitidamente, dá-se primazia à oficina. Lá dentro usa-se o quente sotaque alentejano, meio cantado, sorriso simples, como que a dizer “bem-vindos”. É Neida quem nos recebe. Acertámos na hora do almoço, imprópria para aquilo a que nos propomos. Nada nos interessa a manja de cada um, mas antes o que dá alimento a todos: a arte de bem tornear e decorar todo o barro.

Da original palavra escolhida para nome da olaria não rezam os dicionários, antes fazendo parte do léxico muito próprio de uma mulher, quem sabe se do próprio Alentejo, que disso não fala a História.

Corre o ano da graça de 1927 quando o mestre Manuel Nunes Fialho decide mandar construir um forno apropriado para cozer as peças de barro que fabrica. Contratados os pedreiros, reclama a consorte, Maria Antónia Conde, da falta de rapidez dos operários,  “sempre a patalinhar”. Tanto “patalinham” que facilitam o baptismo da Olaria Patalim.

 

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