No seu primeiro discurso, após tomar posse como presidente interino do Brasil, Michel Temer fez questão de referir a necessidade “urgente” de “pacificar e unificar o Brasil” e assegurou que todos os esforços estarão centrados na eficácia da governação pública e na restauração do equilíbrio das contas públicas.
Nesse sentido, uma das primeiras medidas do agora presidente foi reduzir de 32 para 24 os ministérios existentes, cujos ministros foram empossados de imediato. Mas no seu discurso, Temer elogiou também o trabalho da Lava Jato, afirmando mesmo que a operação se tornou numa referência.
A ironia disto tudo é que, além do próprio Temer estar sob mira da investigação por benefícios em escândalos de corrupção, outros dos sete novos ministros agora empossados, são citados, precisamente, na operação Lava Jato.
Romero Jucá, ministro do Planeamento, Desenvolvimento e Gestão, é o nome mais sonante neste processo, tendo sido citado como beneficiário de um esquema de desvio na Petrobras. Durante um depoimento à Polícia Federal, em Fevereiro, Romero Jucá terá mesmo admitido que pediu a Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, doações para a campanha do seu filho, Rodrigo Jucá (PMDB), para a candidatura a vice-governador de Roraima.
Outro dos nomes citados na investigação é do agora ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, a quem foram apreendidas mensagens em que o ex-ministro de Lula, ex-vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Económica Federal e ex-deputado federal, usou a sua influência para actuar a favor dos interesses da construtura OAS.
Também Henrique Eduardo Alves, que assumiu a pasta do Turismo – dois meses após ter abandonado o cargo – é suspeito de receber dinheiro do dono da OAS, Léo Pinheiro, em troca de favores no Legislativo.
Por fim, os deputados Mendonça Filho, Raul Jungmann, Bruno Araújo e Ricardo Barros, que vão assumir os ministérios da Educação, Defesa, Cidades e Saúde, respectivamente, são citados na famigerada lista da Odebrecht, apreendida pela Polícia Federal em Março.
Recorde-se que, após a votação no Senado, em Brasília, que ditou o afastamento da Presidência da República de Dilma Rousseff durante, pelo menos 180 dias, Michel Temer assumiu oficialmente o cargo de presidente interino.
Fonte: Carta Capital