A extrema concisão é utilizada pela poeta para registrar cenas da exclusão social brasileira, como a situação dos trabalhadores rurais e dos moradores de rua.
Telma Srour, poeta curitibana descendente de libaneses, pratica uma poesia centrada nas imagens, na descrição quase fotográfica de cenas e situações do cotidiano. Ela consegue captar, em poucas palavras, a essência do assunto poético. Por esse motivo, é natural que ela prefira utilizar gêneros tradicionais da poesia japonesa, como o tanka, formado por duas estrofes, a primeira com três versos, o hokku – de onde se origina o haiku ou haicai – e a segunda estrofe com apenas duas linhas.
A extrema concisão é utilizada por Telma para registrar cenas da exclusão social brasileira, como a situação dos trabalhadores rurais e dos moradores de rua, mas ela também expressa em seus versos recordações familiares, com original enfoque da imigração libanesa ao Brasil, e ainda dos conflitos no Oriente Médio, e em especial a tragédia palestina. A poesia de Telma, original e bem construída, merece ser lida por aqueles que apreciam o verso de denúncia e resistência.
Colchões nas ruas:
moradores sem teto
buscam abrigo.Marquises, viadutos,
qualquer buraco vale.
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Bêbado mija
no muro da esquina,
garrafa na mão.Urina escorrendo
faz um rio na terra.
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Acaba a feira –
sem-teto cata restos
refeição parca.Vasilha de alumínio:
sobraram apenas ossos.
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Logo anoitece:
chega moça do sopão,
a praça fervilha.Noite fria de julho
– refeição vira prêmio.
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Jorge Libanês
deixou o país pela guerra,
medo dos turcos.Com sua avó desterrada,
fez família no Brasil.
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A alquimia
da cozinha árabe
cheira hortelã.Panelas fumegando:
hoje tem charutinho.
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Faixa de Gaza:
avó derrama lágrimas –
trator destrói casa.Colonos furiosos
devastam oliveiras.
por Claudio Daniel, Poeta, tradutor e ensaísta, é formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, com mestrado e doutorado em Literatura Portuguesa pela USP, além de pós-doutor em Teoria Literária pela UFMG | Texto original em português do Brasil
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