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João de Sousa

Quinta-feira, Dezembro 26, 2024

Sim, Senhor Jacques Tati

Obra integral de Jacques Tati. Edição de colecionador 6 DVD com os 6 filmes + 7 curtas-metragens

JACQUES_TATI_boxset_3D

Inclui: Há Festa na Aldeia, As Férias do Sr. Hulot, O Meu Tio, Playtime – Vida Moderna, Traffic – Sim, Sr. Hulot, Parade

O cinema todo de Jacques Tati até poderá caber num pack de 6 DVD’s, embora a dimensão do estilo único vigente na sua obra integral jamais tenha sido superado. Talvez porque Jacques Tatischeff, o seu nome de baptismo dada a sua descendência russa, sempre preservou uma liberdade total no seu trabalho, por mais meticuloso que fosse, sem nunca se submeter ou ceder aos interesses de produtores que, eventualmente, poderiam ter prolongado a sua carreira e, eventualmente, ter-lhe dado as posses para continuar a filmar.

De resto, a sua carreira não chegaria a três completar décadas de duração e limitar-se-ia a seis longas metragens e sete curtas, seja como realizador ou actor, que integram a valiosa edição da Leopardo Filmes, devidamente editada em cópias digitais devidamente restauradas. Uma descoberta integral de Jacques Tati, atrás e à frente das câmaras, onde podemos mesmo ver evolução do seu estilo e o apuramento para a criação de Mr. Hulot, a tal personagem alta demais para as suas calças que revelam as meias listradas, e que insiste em carregar o guarda-chuva faça chuva ou sol, uma gabardina, chapéu e cachimbo.

Percebemos nesta edição como o cinema de Tati teima em resistir à passagem do tempo, apresentando-nos um humor muito físico, dir-se-á, próximo de Chaplin e Keaton ou mesmo de Mr. Bean. Se bem que o cinema de Tati seja erguido pelo acentuado cómico que existe nas situações involuntárias, no acaso meticuloso do seu cinema milimétrico. Outro aspecto muito particular no seu cinema, e que só uma visão ampla como esta permite com comodidade, é reparar como cada filme parece ser já o início do seguinte. Não que isso fosse premeditado, mas algo que brota naturalmente, como que partindo de uma estética do cinema mudo e que evolui para um futurismo ao qual Tati/Hulot tem dificuldade em abarcar.

Este trajecto começa com Há Festa na Aldeia, a sua estreia na realização de longas metragens, mas que acaba por ser antecedido pela curta curiosíssima, Escola de Carteiros, datado de 1947, onde está já bastante apurado o estilo burlesco que o iria afirmar e que serviria, dois anos mais tarde, de ensaio para a sua longa consagrada no festival de Veneza e que incorporará mesmo algumas cenas desta Escola. Mesmo com diálogos percebe-se já a força do gesto a tomar forma no seu cinema.

JACQUES_TATI_boxset_3D_versoCom As Férias do Sr. Hulot, para muitos um dos seus melhores momentos, Tati apresenta-nos esta personagem reverencial que acaba por gerar a maior confusão com os veraneantes de um pequeno hotel à beira mar. Uma sucessão ininterrupta de sketches onde se percebe todo o rigor dedicação ao detalhe na mise em scène do cineasta-actor. Citamos a título de exemplo, a sequência em que Hulot pinta uma cadeira sentado num bote à beira mar e em a lata de tinta vai e vem com as ondas. Precioso.

Bem diferente é o cenário de O Meu Tio, de 1958, onde Tati aborda as incongruências do mundo novo, da sofisticação dos automatismos hi-tech programados, cenário indicado para colocar a personagem mais improvável e inadaptada numa casa que acaba por ser a personagem principal do filme. Esta comédia deliciosa viria a ganhar o Prémio Especial do Júri, no festival de Cannes, para além do Óscar do Melhor Filme estrangeiro. Aliás, este admirável e estranho mundo moderno acabará por preparar aquele que será talvez a sua obra mais prima e mais depurada, ou seja, aquela em que atinge a perfeição, Play Time – Vida Moderna, de 1967. Embora num projecto demasiado arrojado (talvez demasiado) para a época, seguindo as atribulações de um grupo de turistas americanos de visita a Paris, não viria a acolher a recepção merecida. Temos Hulot no seu melhor, impreparado para uma modernidade revelada num espaço demasiado assético, formal e pleno de singularidades sonoras. Um projecto bastante ambicioso que o levou mesmo a construir um estúdio novo, o Tativille, para encenar o aeroporto de Paris, e que mais tarde serviria de inspiração a Spielberg na criação do seu Terminal de Aeroporto. Quase meio século depois, Playtime – Vida Moderna continua a ser, por mérito próprio, um dos grandes filmes de sempre.

Traffic Sim, Sr. Hulot talvez não seja tão impressivo quanto Playtime, seis anos depois, aborda a odisseia de conduzir o veículo mais utilitário até à feira de Amesterdão. Na verdade, em mais um autêntico desafio catastrófico entre o homem e a modernidade, ou Hulot e as máquinas, num filme tão hilariante quanto acidentado.

Criado para a televisão sueca em 1974, Parade é o último filme de Jacques Tati, num desafio bem diferente ao entrar na arena de um circo. Deixa aqui de lado o Sr. Hulot para se apresentar uma personagem mestre de cerimónias que anuncia os diversos números de circo. No fundo, mais do que um filme, mas uma experiência circense.

No entanto, esta colecção ganha um interesse suplementar ao ser acompanhada pelas diversas curtas-metragens realizadas por Tati ou em que este entra como actor. Seguramente, o melhor dos extras para os entusiastas ou para aqueles que agora descobrem um dos cineastas mais singulares da História do Cinema.

Cada DVD inclui ainda como extras o making of da ilustração correspondente, e distribuídos pelos DVD estão apresentações dos filmes por Catarina Sobral, Manuel Graça Dias, Jorge Silva Melo e Leonor Pinhão.

As capas dos DVD reproduzem os cartazes exclusivamente criados pelos seis ilustradores portugueses (Sara-a-dias, Marta Monteiro, Catarina Sobral, João Fazenda, André Letria e Madalena Matoso), para as seis longas-metragens de JACQUES TATI.

PVP: 39.99€

Editora: Leopardo Filmes

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