DIA 15, FALAMOS
Uma das mais cínicas afirmações dos detractores do SNS é a de que as pessoas deviam poder escolher, deviam ter a liberdade de optar por outras alternativas (privadas, claro…).
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Habituámo-nos a ter um Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito. Melhorámos os cuidados básicos de saúde a milhões de portugueses. Temos excelente estatísticas no que diz respeito a saúde pública. Temos um serviço nacional de saúde que resistiu durante anos a inúmeras tentativas da sua destruição ou, pelo menos, da sua descaracterização sobre a essência da sua existência: o direito à saúde para todos. A sua manutenção ao longo de todo este tempo é uma das vitórias do 25 de Abril.
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O nosso SNS é há muitos anos alvo de ataques e de críticas de vários sectores. Por vezes, com razão como, por exemplo, devido aos atrasos das consultas, às listas de espera para cirurgias, à lentidão de alguns serviços.
Um aspecto curioso é que estas críticas redundam, habitualmente, não em propostas de resolução dos problemas mas em supostos argumentos sobre a necessidade e a premência da sua destruição uma vez que havia melhores soluções nas empresas privadas de saúde.
Uma das mais cínicas afirmações dos detractores do SNS é a de que as pessoas deviam poder escolher, deviam ter a liberdade de optar por outras alternativas (privadas, claro…).
Antes de mais, apetece-me sempre perguntar: que pessoas? As que vivem no limiar de pobreza? Os desempregados? As que ganham o salário mínimo nacional? Não me parece…
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Mas, com este discurso, foram condicionando os governos que por convicção anti-SNS foram cortando verbas ao seu orçamento e criando barreiras, dificuldades e problemas. O essencial era desmantelar para que, no horizonte empresarial, surgissem oportunidades de negócio para os grandes grupos de saúde. E, como é óbvio, a iniciativa privada não se fez rogada: temos hoje uma oferta privada de grande dimensão, com uma fatia considerável do negócio da saúde em muitos ramos, designadamente nos mais lucrativos.
É a economia de mercado a funcionar, dirão… Pois é.
Mas, a crise gerada pela pandemia do COVID-19 veio mostrar que um (debilitado) Serviço Nacional de Saúde, a energia e a capacidade de milhares de profissionais de saúde são a melhor garantia para apoiar todos os portugueses que necessitem de cuidados de saúde.
Imagine-se o que seria hoje de nós todos se esta pandemia tivesse acontecido num Portugal sem SNS. Para mim, esta é a questão.
E esta é a grande lição a tirar: reforce-se a eficácia, a eficiência, os meios (designadamente recursos humanos qualificados) e os recursos técnico-científicos das unidades de saúde. Com o SNS temos saúde para todos. Pode não ser o sistema perfeito. Mas, quando mais foi preciso funcionou. E salvou milhares de vidas.
Um hospital privado no Porto estava a cobrar esta semana a módica quantia de 7 euros a cada cliente que lá se dirigiu para fazer um exame ou um raio X… Vem tudo na factura com a designação singular: «ACTOS DE ENFERMAGEM: Material de Prevenção e Controle infeção – 7,00€».
Uma lógica imbatível: há uma pandemia. Queremos vender os nossos serviços. As instalações para serem atractivas para esse negócio têm de estar limpas e têm de ter uma imagem de segurança e limpeza. Quem paga? Os clientes… Brilhante!
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