O linguista Gustavo Conde alerta para mais uma safra de enunciados ‘paralisantes’, de origem progressista, que temem a convulsão social no Brasil. Ele afirma que esta convulsão chegará aqui mais forte do que no Chile e que, agora, o único agente político capaz de dialogar com essa convulsão será Lula – o que torna a sua libertação uma questão de sobrevivência, até para as elites
O Brasil padece de um mal muito maior do que o bom comportamento do povo trabalhador. O Brasil sofre de “estrategismo”.
Comentaristas, ideólogos, “líderes”, opositores acham que revolta popular é questão de timing e senso de oportunidade.
“Ah, não é hora de tomar as ruas” (como se isso fosse uma questão de ‘desejo’). “Ah, pedir impeachment é um erro”. Ah, se brasileiros forem às ruas como os chilenos, teremos o endurecimento do ‘regime”.
Ou seja: é melhor ficarmos todos quietinhos esperando a “ordem” de alguém “muito inteligente” que saberá exatamente o momento exato para “nos revoltarmos”.
Chega a ser ridículo, se não fosse tragicômico.
Intelectuais autoproclamados de esquerda às pencas achando que podem decidir o timing de uma revolta popular.
Nas redes sociais e nas mídias digitais isso dá até algum ibope. Internautas idólatras (ai, como fulano de tal é inteligente!) amam um cabresto intelectual para se sentirem parte de alguma coisa maior do que eles.
É dessa paralisia consentida, desse pacifismo burro e estrutural que a extrema direita extrai sua eficiência retórica. Rasa, belicista e debochada, a direita fascista sobrevoa essa pretensão romântica e tecnicista da esquerda digital como quem observa carneiros bem comportados no cativeiro da história.
Depender dos esquerdomachos, ocupados com esses cacoetes de líderes não reconhecidos associados a libidos interrompidas para fazer a revolução, realmente, pode nos fazer esperar mais quinhentos anos.
Eles até ficam em pânico com a iminente libertação de Lula (mas só confessam em off). “Caraca, e agora, como é que eu faço?”. “Pra quem eu vou vender a minha estratégia histórico-política?”
Só Lula para dar um jeito nesse desvario “estrategista” vendido por aí como “conteúdo”.
Lula não fica “falando”, Lula faz. Fez greve e fará de novo. Fez um partido. Negociou, produziu políticas, foi pro pau nas eleições, perdeu, ganhou, levou milhões às ruas. Discursou uma monumentalidade, mas o discuso de Lula não é esse falatório pequeno-burguês de colunismo de vitrine e/ou palestra de gabinete. O discurso de Lula leva à ação, ao voto, à autoestima e à soberania, valores que são os verdadeiros inimigos de nossa elite escravocrata – e a deixam em pânico.
Tem gente com medo de generais a essa altura do campeonato. O Brasil entregue a uma organização miliciana, violenta e genocida e gente com medo de generais?
A esquerda burguesa é um desastre. São os primeiros a correr. Não à toa, o Chile foi o primeiro destino para os covardes que envergonham o Brasil ontem, hoje e sempre. Correram FHC, Serra e mais um punhado. Um até assinou o nome numa tese jamais lida em lugar nenhum do mundo (de autoria de Enzo Faletto) e outro fantasiou um diploma de graduação em economia.
Plagiários e recalcados, FHC e Serra são a expressão máxima do intelectualismo pretensioso, vazio e patriarcal, disfarce perfeito numa sociedade cuja elite é subdesenvolvida e subserviente.
Só para constatar, no corte abrupto do discurso: convulsão social não se combina. Convulsão social não se programa. Convulsão social não se controla. Convulsão social não tem dono.
A semântica de ‘convulsão’ impede que se a interprete como uma “opção”.
O Brasil está na fila da convulsão. E se isso trará generais de volta, se isso levar o país a um golpe branco ou verde-oliva, trata-se absolutamente do imponderável.
Timing se identifica, não se produz. Curiosamente, o timing histórico coloca Lula mais uma vez no olho do furacão. Ironicamente, Lula é a única chance da elite – e de todos nós -, para se evitar um banho de sangue.
Só Lula conseguirá ‘controlar’ a convulsão social que está por vir. Lula é parte estrutural da identidade de todo e qualquer brasileiro e sua presença no cenário social destruído a que o Brasil foi lançado poderá evitar aquilo que hoje se vê no Chile.
Aquele enunciado “só Lula pode restaurar a rotina democrática no país” foi se tornando mais verdadeiro à medida em que sua prisão política foi se prolongando no tempo – e à medida em que o bolsonarismo foi destruindo o país e sua estrutura político-partidária.
Cada vez mais, é preciso dizer e entender, humildemente: “só Lula pode resolver esse impasse gigantesco chamado Brasil”.
Até porque, ele parece ser o único brasileiro verdadeiramente interessado na restauração da nossa democracia, de nossa verdade e de nosso futuro. No caso dele, o desejo faz a diferença.
por Gustavo Conde, Mestre em linguística pela Unicamp, editor e colunista do Brasil 247 | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial Brasil247 / Tornado