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João de Sousa

Sábado, Agosto 31, 2024

Soberania ameaçada

Há evidências suficientes que nos permitem concluir, com razoável margem de segurança, que ao final e ao cabo das chamadas “operações lava-jato” o que de fato estará seriamente ameaçada é a nossa soberania.

Três fatos inter-relacionados nos ajudam a compreender perfeitamente essa situação: a prisão do “pai do programa nuclear brasileiro”; a insolvência das empresas de infraestrutura; e o ataque frontal ao agronegócio, o setor mais dinâmico da economia nacional.

Os fatos indicam que está havendo um ajustamento na “ordem mundial”, na qual as potências imperialistas – especialmente Estados Unidos da América – procuram destruir as economias emergentes para eliminar competidores e assegurar seus privilégios. Simples assim.

Embora não seja um fato novo, a atual ofensiva contra a nossa soberania é bastante requintada,na medida em que envolve múltiplus aspectos e distintos atores.

O método é razoavelmente conhecido. Já foi usado em diferentes épocas com diferentes objetivos.

Na época da ditadura militar, por exemplo, a CIA recrutava, no Brasil e demais países sob ditaduras, “jovens talentosos” e os enviava para os Estados Unidos para participarem de um programa de treinamento (lavagem cerebral seria o termo mais apropriado) denominado “amigos das Américas”. Depois, no retorno aos seus países, o departamento de estado americano providenciava, aos mais “talentosos e destacados”, boas colocações nos aparelhos de estado, onde essa legião de “amigos das Américas” passava a fazer apologia das “maravilhas” americanas e, principalmente, procurando criar alternativas a eventuais saídas revolucionárias – o eterno pavor dos EUA – com o fim da ditadura militar.

Assim como eles tinham claro o fim da ditadura militar, providenciaram os “5ª coluna” para alardearem sua ideologia. Agora, igualmente, eles sabem que o governo Temer é provisório e, somando a sua ineficiência com a frustração geral da população, é perfeitamente previsível o fim melancólico do “governo” Temer.

Diante do fracasso, em todos os terrenos, do governo Temer e sua política, é muito provável que tenhamos um retorno aos fundamentos da política anterior, independente de quem seja o eventual presidente da república. Segundo a lógica do império americano é preciso, portanto, cuidar para que a nação não possa se recuperar. Eis o que explica a lógica de destruição dos fundamentos da nossa tecnologia e da nossa capacidade operacional, especialmente em grandes obras.

Analisemos as consequências práticas desses três fatos mencionados e a conclusão será evidente: estamos sob ataque do império e é preciso reagir para não permitir que se destrua a tecnologia e o patrimônio nacional conquistado a duras penas.

 

A prisão do Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva representou um duro golpe contra o programa nuclear brasileiro. Ao tirar de circulação um cientista que com a engenhosidade típica do povo brasileiro foi capaz de construir, mesmo trabalhando em condições rudimentares e sob pesado boicote americano, uma centrífuga nacional para enriquecimento de urânio, representa, sem dúvidas, o retardamento se não a destruição de um projeto de natureza estratégica, de forte repercussão em nossa soberaniaNo momento, as principais obras de infraestrutura do país, bem como as concessões de aeroportos ou qualquer outro empreendimento de vulto só é acessível às empresas estrangeiras, na medida em que as empresas nacionais estão inviabilizadas, seja por impedimentos legais ou insuficiência de caixa. A consequência natural será a invasão de empresas estrangeiras controlando setores estratégicos de nossa economia, igualmente de comprometimento de nossa soberania, como acaba de acontecer com a concessão dos aeroportos de Florianopolis, Fortaleza, Porto Alegre e Salvador – todos arrematados por alemães, franceses e suíçosO estardalhaço em torno da chamada “operação carne fraca” criará sérias dificuldades ao mais dinâmico e competitivo setor de nossa economia, responsável direto pelo saldo da balança comercial brasileira. O setor primário é o responsavel exclusivo pelo saldo de nossa balanca comercial. O Brasil é o 2º maior produtor de carne do mundo e o maior exportador. Essa espetacularizacao causará o rompimento de dezenas de contratos mundo afora, especialmente quando se sabe que os concorrentes diretamente interessados no colapso da economia nacional nao deixarão de aproveitar a oportunidade para eliminar o mais forte concorrente do planeta. E nao é com pouco orgulho que devemos salientar que o Brasil é detentor de tecnologia de ponta no setor primário, o que nos tornou referência no mundo inteiro. Eis porque, sob a lógica do império, precisamos ser abatidos. Agora que brasileiros se prestem a isso é de fato deplorável. E antes que se dê interpretacao de conveniência, realço que criminosos tem que ser exemplarmente punidos. O que nao é tolerável é destruir o patrimonio e a soberania nacional

Alguém tem ideia do tamanho do “estrago” que esse espetáculo vai nos custar, tanto econômico quanto em termos fitossanitários?

Como profissional da área e ex-secretário de produção tive oportunidade de conhecer de perto o quanto o sistema de defesa sanitária do Brasil é rigoroso – o que não elimina possibilidades de fraudes, naturalmente – e o quanto vários países do mundo recorrem a pretextos fitossanitários para impedir a entrada de produtos brasileiros em seus mercados. Imaginem agora, com esse “presente”!

Como se pode ver, esse é mais um terreno no qual um governo desmoralizado é incapaz de defender o país, mesmo naquilo em que somos referência tecnológica mundial.

Eron Bezerra, Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.Texto original em português do Brasil

Exclusivo Portal Vermelho /Tornado

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