Tema recorrente nos tempos actuais, a produtividade é invariavelmente utilizada para justificar resultados ou ideias preconceituosas e raramente da forma mais correcta. Na sua abordagem comum serve, invariavelmente e em termos pouco abonatórios, para aferir a eficiência do factor trabalho, o que parece justificar duas considerações adicionais que passo a tentar explicar:
A produtividade poderá ser um indicador (quociente entre a quantidade de bens produzidos e o trabalho necessário para obter essa produção) capaz de medir desempenhos em sectores específicos de actividade, nunca um instrumento de política económica de âmbito nacional. Esta incapacidade (melhor seria dizer inutilidade) deriva do facto das variáveis que o compõem não serem homogéneas nem a sua eventual conversão numa unidade monetária apresenta a fiabilidade indispensável para efeitos de utilização enquanto instrumento de política económica.
Nas comparações entre mercados (países) diferentes o valor final será afectado pelas variações dos preços dos bens produzidos, pelas variações dos preços do trabalho e do capital aplicado nos meios de produção (instalações, máquinas e equipamentos) e até por outros factores de natureza política e social, como seja o caso da extensão dos horários de trabalho e do peso da administração pública no conjunto da economia de cada país.
Importa ainda lembrar que sendo a produtividade definida como uma relação (quociente) entre a produção e os factores produtivos utilizados, as inúmeras combinações possíveis entre os dois factores produtivos (capital e trabalho) originarão valores muito díspares, nunca explicados e invariavelmente utilizados para fundamentar a necessidade de prejudicar o factor trabalho nas políticas de distribuição do rendimento.
Em face destas limitações e da constatada inutilidade da utilização de um indicador tão pouco fiável quanto a produtividade, surge de pronto uma outra questão – então porque é que a propósito de tudo e de nada tanto se fala na produtividade?
Como o explicou o Prof. Palhinha Machado num excelente artigo dedicado ao assunto e incluído na revista ECONOMIA PURA de Maio/Junho de 2005:
«…por se ter tornado moda no pensamento económico…»
e
«…por ser um conceito ambíguo, onde cada um verá o que melhor lhe convém: trabalha-se pouco; trabalha-se mal; a organização é uma lástima, quem executa está mal preparado; quem orienta não tem conhecimentos, nem é competente; há que investir mais para que o trabalho disponha dos instrumentos de produção que são já correntes no estrangeiro; desperdícios aqui; entraves burocráticos acolá, a imporem tempos mortos; ai! a administração pública…».
Nada melhor para quem queira dispor de um chavão que possa usar até à exaustão e ao qual possa dar o sentido “politicamente correcto” que o momento e o lugar imponham, ainda que a expensas do rigor que deve rodear o uso de indicadores económicos envoltos em polémica, como o reconhecem os próprios especialistas.