Crónica
Gosto de bons livros. Todos os livros bons, diz ele. O critério para aferir os bons e os maus livros é sempre subjectivo mesmo para quem escreve de cátedra cheio de certezas
O sujeito que escreve vem depois. Pode ser homem ou mulher e não importa o que é na vida nem se tem o cabelo grande ou curto, se usa piercings ou não, nem qual a sua orientação sexual. Pode ser famoso ou desconhecido. Nem sempre um livro que vende muito é bom e um livro que não vende pode ser bom ou mau.
O sujeito que escreve um bom livro pode até ser um escroque? Sim, pode. Pode ser boa pessoa? Claro, mas nem sempre o é. Por mim prefiro que seja boa pessoa e que escreva bons livros, mas na hora da leitura passo bem sem a sua simpatia. O mundo está cheio de maus tipos que escrevem bem. Por vezes um autor demora anos a ser reconhecido. Muitos morreram antes do reconhecimento. Outros jazem já no grande rio do esquecimento.
Gosto de bons livros, dizia. E o que é um bom livro? O sujeito que escreve deve dominar os sinais da escrita e organizá-los com a sua própria voz. É na organização dos sinais que se encontra a gramática própria de quem escreve, um caminho, uma arquitectura para o poema ou para o livro. Sem esse trabalho não pode existir um bom livro mesmo que venda milhões de exemplares. Alguém com presença assídua na televisão só por isso já tem garantido o sucesso de vendas, mas isso nada significa sobre a qualidade de um livro.
A realidade é o que é. Quando Flaubert publicou a 1ª. Edição de “L’Éducation Sentimentale” em 1869 vendeu 150 exemplares. Dez anos depois o mesmo livro vendeu 150.000 exemplares. Mudou alguma coisa nestes 10 anos? Sim, mudou o horizonte de expectativa dos leitores. Razões para isso acontecer? Se eu soubesse escrevia um livro para a posteridade, de preferência um bom livro.
