O Parlamento chumbou a iniciativa do PCP que visava limitar as remunerações dos gestores públicos. No que à CGD respeita, ainda bem. A CGD deu, ao longo dos anos, muito dinheiro ao Orçamento de Estado mas hoje em dia todos se concentram no que ela custa ao mesmo Orçamento. Embora o saldo seja claramente positivo.
Já aqui escrevemos que se deve investigar e punir os que, por actos ou omissões, por dolo ou incompetência, mal geriram a Instituição. Nos casos de incompetência devemos perguntar quem os nomeou e com que critérios. Os compadrios políticos dos partidos que passaram pelo poder (CDS, PSD, PS) têm enormes responsabilidades nesta situação. Mas acresce mais: a CGD foi o depósito de políticos desempregados que lá foram buscar um ordenado, uma reforma e outras mordomias. Que todos estamos a pagar.
E não há responsáveis?
Claro que há mas não há quem queira apurar responsabilidades. As máquinas partidárias não o permitiram e não o permitirão.
Existem duas perspectivas de abordagem à questão das remunerações. Na primeira temos uma abordagem moralista (pseudo?) que pretende colocar um tecto às remunerações. Em defesa desta posição invocam-se razões de ordem moral. Mas não se diz que com um ordenado baixo o universo de escolha é mais reduzido e, obviamente, a qualidade é menor.
Querer resolver a questão da CGD com gestores de menor qualidade será a melhor solução para o momento actual em que mil olhares espreitam o momento de a privatizar? No pressuposto, já demonstrado como falso, de que o gestor privado é melhor que o público?
Basta recordar os recentes casos do BPN e do BES para se perceber que a “má qualidade” da gestão pública nunca produziu tamanhas barbaridades. Recordar ainda, aos esquecidos ou desconhecedores, que a CGD, especialmente nas décadas de 80 e 90, foi altamente inovadora no sector financeiro. Foi um exemplo copiado pela banca privada.
A primeira rede de teleprocessamento total, o funcionamento dos balcões em front office (o cliente levanta o cheque directamente no caixa), a primeira loja totalmente automática (na Av Almirante Reis, dois anos antes das Lojas do BPA), etc., foram da CGD.
Quando o poder político aplica critérios de qualidade na selecção dos gestores, a gestão pública não fica atrás da privada. Foi o caso daqueles tempos onde os Presidentes Oliveira Pinto e Rui Vilar comandaram os destinos daquele banco.
A alternativa é seguir as regras de mercado de trabalho
É, no dizer dos defensores do mercado como regulador, deixá-lo funcionar (nem sempre é bom). Foi assim que se recrutou Paulo Macedo para as Finanças. Também nessa altura, os velhos do Restelo, bradaram contra o ordenado milionário (naquele tempo os valores eram diferentes) que aquele gestor ia auferir. Olhando para trás, para o trabalho realizado, as cobranças conseguidas, etc., todos vemos que foi um gestor barato. Tão barato que o PS, que veio a seguir, não o dispensou. A Comissão de Trabalhadores defendeu-o. O país agradeceu.
Mal ou bem, um gestor financeiro no mercado, custa muito dinheiro. A qualidade paga-se.
Se é caro ou barato depende dos resultados que obtiver. Se António Domingues recuperar a CGD e a fizer voltar aos lucros de antigamente, mantendo-lhe as características de Banco Público, olharemos para trás e concluiremos que o “preço” foi baixo. Assim o espero!
Não podemos ter sol na eira e chuva no nabal.
Declaração de interesses: de 1977 a 1988 fui Director na CGD.