Quinzenal
Director

Independente
João de Sousa

Sexta-feira, Abril 18, 2025

Somos todos sefarditas

Filipa Vera Jardim
Filipa Vera Jardim
Mantém o blogue literário “Chez George Sand” onde escreve regularmente.

Nos últimos dias assistimos a um pedido de revisão da lei que concedeu a nacionalidade portuguesa aos judeus sefarditas, vítimas de um dos períodos mais negros da nossa História e, que culminou com a sua expulsão de Portugal.

A lei que está em causa tentou, de alguma forma, concedendo a nacionalidade portuguesa aos que inequivocamente provassem a sua descendência, reparar um dos grandes erros da nossa História. E, fê-lo porque esses descendentes existem e mantém juntamente com a sua cultura judaica sefardita, os seus costumes portugueses, a sua saudade e, não poucas vezes, como aliás se tem assistido nos últimos anos, as chaves das casas de onde fugiram e que foram passando em testemunho de geração em geração.

As exigências pouco informadas de prova de língua, como se o português fosse língua única num País multicultural que já o fomos e, que com esta lei projectamos para o futuro, vêm lançar um véu sobre o nosso sentimento colectivo, a nossa partilha e heranças comuns. Face a este triste propósito há que elucidar que não seriam certamente só em português que se fizeram ouvir os gritos no largo de São Domingos no fatídico dia do massacre de Lisboa. O Ladino ecoou certamente nesse dia de triste memória, como aliás, em tantos outros menos desafortunados, juntamente com o hebraico que se fazia ouvir das várias sinagogas existentes no País.

Gravura do Massacre de Lisboa

Efectivamente e, basta olhar para os apelidos e tradições portuguesas para afirmar que somos todos sefarditas. Se não pelos apelidos que são tantos, somo-lo certamente pelo coração.

A saída dos judeus da Península e particularmente de Portugal deixou-nos mais pobres e deixou-nos com saudades.

Basta ver o que foi a diáspora judaica, para perceber que Portugal teria tido um outro futuro e um outro destino, muito mais completo, muito mais enriquecido, com a permanecia das suas comunidades judaicas.

Numa altura em que o anti-semitismo cresce no mundo, é tempo de ser diferente e de afirmar a nossa herança colectiva, tornando Portugal um país amigo de todos aqueles que por terem aqui as suas raízes nos procuram de novo.

Como portugueses que somos, povo de miscigenação aqui e nos quatro cantos do mundo, resta-nos abraçar os que pretendem voltar aquela que é também a sua terra porque aqui é Sefarad e nós, nós somos todos sefarditas.

Sejam bem vindos !
! הבאים  ברוכים


Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

 

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -