O fato da PSP entender proceder contra o agente em causa, suspendendo-o de funções, sem mesmo que tivesse havido uma qualquer queixa como refere a notícia só pode ser entendido como uma perseguição política pelo compromisso de Manuel Morais com o combate contra o racismo dentro das forças de segurança.
Transcrevemos na integra o Comunicado de Imprensa do SOS Racismo:
O Diário de Notícias (DN) informou que o “comandante da Unidade Especial de Polícia (UEP) da PSP, superintendente-chefe Paulo Lucas, castigou com 10 dias de suspensão um agente do Corpo de Intervenção (CI), que chamou “aberração” a André Ventura na rede social Facebook e defendeu a “decapitação”, em sentido figurado, dos racistas.” E lê-se ainda no DN que Manuel Morais foi “expulso do maior sindicato da PSP, a Associação Sindical de Profissionais de Polícia (ASPP), onde foi dirigente 30 anos, por ter denunciado o racismo que existia nas Polícias, numa altura em que estava a começar o julgamento de 17 agentes da esquadra de Alfragide, acusados de tortura, sequestro, agressões, com motivação racial, contra seis jovens da Cova da Moura.” Citando o visado, o DN refere que “De acordo com o relatório final deste processo, conduzido pelo Núcleo de Deontologia e Disciplina da UEP, a que o DN teve acesso, na sua inquirição, Manuel Morais esclareceu que “em momento algum quis ofender ou decapitar alguém no verdadeiro sentido da palavra, nomeadamente na pessoa do Sr. deputado. Apenas quis transmitir que é necessário decapitar ideias racistas que prejudicam a sociedade em geral”.”
O fato da PSP entender proceder contra o agente em causa, suspendendo-o de funções, sem mesmo que tivesse havido uma qualquer queixa como refere a notícia só pode ser entendido como uma perseguição política pelo compromisso de Manuel Morais com o combate contra o racismo dentro das forças de segurança.
A falta de empenho da direção nacional da PSP no combate contra o racismo é evidente, lembramos que o atual diretor, declarou na sua tomada de posse que “não viu nada de anormal” nas agressões do agente Carlos Canha contra a cidadã Cláudia Simões. É esta mesma direção que fez um comunicado de imprensa descartando a “motivação racista” do assassinato de Bruno Candé. Tese esta que veio a ser desmentida pelo despacho de pronuncia na acusação a Evaristo Martinho, o assassino de Bruno Candé, que aponta que o homicídio qualificado foi motivado por ódio racial. De notar que ainda hoje, o jornal Público noticiava que a “Direção Nacional da PSP continua sem responder às questões relativas às medidas de sanções disciplinares contra os agentes condenados no caso da Esquadra de Alfragide.
Seja pela inércia, seja pela sua cumplicidade, a atual direção da PSP prova não estar à altura da sua responsabilidade no combate contra o racismo. Porque, uma direção da polícia que persegue um quadro seu em função do seu compromisso anti-racista não faz falta à defesa da decência, da dignidade e da democracia.
O SOS Racismo manifesta a sua solidariedade ao agente Manuel Morais e exige a revogação imediata desta decisão injusta e legitimadora da captura institucional da polícia em curso pela extrema-direita. O SOS Racismo exige ainda uma tomada de posição inequívoca da tutela que garanta que nenhum agente policial vai ser perseguido por combater o racismo.
SOS Racismo,
31 de Janeiro de 2021
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