Ocorreu, entre os dias 1 a 4 de novembro, o I Encontro Brasileiro de Saúde Trans.A denúncia do conservadorismo que cresce no Brasil e no mundo e afeta importantes parcelas da população, especialmente os homossexuais e os transsexuais, foi tema de um importante encontro ocorrido em São Paulo, no início de novembro. Foi o I Encontro Brasileiro de Saúde Trans, que aconteceu entre os dias 1 e 4 de novembro, na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Lá estavam especialistas brasileiros e estrangeiros sobre transsexualidade, travestilidade e medicina trans.
Além do sofrimento e desconforto a que a população trans é submetida pela negação de sua condição humana, tratada como anormalidade e doença, eles debateram e denunciaram o conservadorismo que ameaça, inclusive, a volta da classificação do homossexualismo como doença mental pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 1990 a OMS havia abandonado essa classificação preconceituosa, mas agora há a ameaça concreta de voltar atrás.
A denuncia foi feita pelo britânico Sam Winter, palestrante no Encontro; ele é membro da equipe que revisa a CID (Classificação Internacional de Doenças) da OMS na área de saúde mental.
O encontro acontece, disse na abertura a Reitora da Unifesp, Soraya Smaili, num momento de “tantas incertezas que, há pouco tempo, não imaginávamos enfrentar”, e uma disputa na sociedade que envolve “tamanho grau de intransigência”, que torna urgente o diálogo “para que possamos enterrar a intolerância.”
Foi intenso o debate e a denúncia da patologização do homossexualismo e do transsexualismo. Isto é, de sua consideração como doença. Não tem cabimento tratar esta condição humana como doença, proclamaram unanimemente os palestrantes do Encontro. É uma condição humana normal, e assim deve ser encarada, disseram. Eles questionaram com ênfase o bissexualismo dominante mesmo na medicina, que vê dois sexos, considerados como normais e naturais com base na biologia e na anatomia, no formato e aparência dos corpos.
A identidade sexual vai além, defendem, e envolve considerações de ordem psicológica que devem ser vistas como naturais e determinam a identidade de gênero. O britânico Sam Winter comparou a identidade de gênero com a identidade étnica, e disse que ninguém trata esta como doença.
Foi forte também a denúncia da violência de que visa esta população. Violência que se manifesta desde os constrangimentos a que é submetida no atendimento médico (em que clínica é posto, em casos de internação: entre homens ou entre mulheres?), até a violência explícita, que fere e mata.
Dados divulgados por Alicia Kruger, do Departamento de Prevenção, Vigilância e Controle das IST (Ministério da Saúde) mostram que, em 12 capitais brasileiras, a população trans é a mais afetada pela AIDS. Ela alertou: As pessoas trans precisam encarar o estigma que o HIV traz. O foco é adotar a prevenção combinada, mas a população trans não tem, ainda, acesso a todas essas informações”
Os transsexuais são ainda vítimas de violência explícita, que torna o Brasil campeão mundial em assassínio destas pessoas. É o país onde mais se matam trans no mundo. A expectativa de vida desta população, segundo o IBGE, é de 35 anos.
Ao final do encontro, foi eleita a diretoria da BRPATH, oficialmente inaugurada como Associação Brasileira da Saúde Trans, ligada ao World Professional Association for Transgender Health (WPATH). A diretoria geral coube aAlice Kruger, e Jaqueline Gomes de Jesus.
Texto original em português do Brasil