Assisti ao sétimo episódio da saga Star Wars, desta feita intitulado “o despertar da força“, munido de óculos 3D e numa sala que se diz IMAX.
E que despertar foi! Senti-me novamente um jovem de 12 anos, na plena flor do possível, do entendimento que o futuro é dividido entre e em duas cores, não dando espaço ao cinzentismo nem ao bege. Quase ao fim de quatro décadas gloriosas viajando de galáxia em galáxia, também tenho vindo a lutar contra inimigos poderosos, forças maquiavélicas e estrelas da morte, que no meu mundo tem outras conotações negativas bem mais prosaicas, como SNS, IRS, IRC, SS, IC, IMT e whatever, que emulam na perfeição as aventuras endiabradas dessa gloriosa & glorificada seita contra os maiores dos males.
Foi interessante rever caras que não disfarçam a força da decadência física por muita Força que tenham. JJ Abrams conseguiu um milagre ao emagrecer Leia, ao recuperar um esquecido Jedi – felizmente sem monólogo -, na noção de que as máquinas nos são imortais mas sentimentais e ao eternizar a gloriosa figura do maior aventureiro de todo o sempre: Indiana Jones! Ops, Solo, Han Solo!
Revi memórias acamadas e quase esquecidas por décadas de filmes, como a ponte, o bar, o xadrez, o calhambeque que é sempre melhor que os Ferrari, os grunhidos do cabeludo, a humanização robótica. Mas, ao contrário do indecoroso Jar Jar, a Disney e o seu director de referência decidiram correr um risco bem maior: transportar cinquentões à meninice para conseguir (re)moldá-los ao som do terrífico império do mal, essa coisa a que se chama merchandising. E o BB-8 mostrou o novo caminho, a renovada força, a “juventude”.
Passaram poucos dias da estreia, não vou sequer tocar em momentos chave do plot, mas confesso que estava à espera de mais, de algo diferente, de qualquer coisa que me entusiasmasse #4real…
Verdade seja dita, a realização é quase imaculada. Existem ali alguns erros de sintaxe, talvez provocados pela extrema necessidade da revisão da matéria dada. Regressamos a casa com um TPC tão bem pensado e com directrizes tão simplistas para o que aí vem – dizem que tudo muda – que abandonei a sala e os maus óculos 3D consciente que a verdadeira história acontecerá, quiçá, nos últimos 30 minutos do nono episódio, daqui a uns cinco anos.
Não saí em transe como os três amigos de Sheldon, mas revigorado no meio de centenas de fãs da saga, uns mudos, outros entusiasmados, alguns nas tintas. Senti de tal forma o chamamento da Força – que se baseia no desapego material e emocional em troca de uma vida devota – que, a meio da viagem para casa, o meu carro entregou a alma no meio de uma enorme fumarada, como um vulcão libertador de coisas mundanas, terrenas, idiotas.
O problema é que isto aconteceu numa circular de Lisboa e, tarde na noite, não tinha um sabre de luz que me alumiasse o caminho que continuei a pé.