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Domingo, Novembro 24, 2024

Supremo não se moverá por Lula mas pelo sistema

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

BRASIL

Eis que, depois do golpe assestado, com Lula condenado a 12,1 anos de prisão e já tornado inelegível pela decisão do TRF-4, o STF faz circular a informação de que pode rever sua própria decisão de 2016, que autoriza a prisão a partir da condenação em segunda instância, tal como já determinado pelo relator de Porto Alegre.  Paira porém uma pergunta: o que move o STF, a quem mesmo quer salvar e com que objetivo, quando cogita de uma medida que pode ser assim resumida: “agora que ele não pode mais ser candidato, evitemos os aborrecimentos que viriam com uma prisão imediata”. O que está chegando ao STF não é o clamor contra a condenação de Lula. É o temor de seus algozes quanto ao que virá depois.

Em 2016 um plenário dividido do Supremo decidiu por 6 a 5 votos a favor das prisões a partir da condenação em segunda instância, embora a Constituição seja clara como água ao estabelecer a garantia de liberdade até o completo trânsito em julgado, vale dizer, até o esgotamento de todos os recursos. Gilmar Mendes votou a favor mas se arrependeu e vem defendendo a revisão. Rosa Weber, por outro lado, votou contra mas seria a favor da manutenção da medida. Se esta recaída “garantista” do Supremo acontecer,  será vista como uma boia de salvação para Lula, embora a corte nada tenha feito, quando era tempo, para colocar freios no “pode tudo” do braço judiciário da Lava Jato.

Hoje está claro que Sergio Moro não é um arauto solitário mas articulado com seus pares em outras jurisdições, a exemplo de Bretas no Rio, dos desembargadores do TRF-4 e do juiz Ricardo Leite, da 10ª. Vara de Brasília (que confiscou  o passaporte de Lula).

Há alguns meses poderia o STF ter feito a revisão do excesso cometido sob o calor e as cobranças da inquisição. Foi  postergando. Neste momento a vítima  dela será Lula mas, daqui  a pouco, poderá ser outro nome do sistema político, alguém do “outro lado”, pois algum contrapeso  poderá ser jogado ao mar para atenuar a percepção da perseguição e de seu objetivo fundamental, que não é prender Lula, é impedir que ele seja candidato e se eleja. Será desgastante para o STF mas pode ser pior se a corte tiver que tomar a medida mais adiante, para beneficiar diretamente alguém do bloco vitorioso, no qual não faltam investigados, a começar do próprio presidente da República.

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, verbalizou em nome do governo o desejo de que haja a revisão. Os políticos do bloco golpista, calados, torcem para que isso aconteça. Afinal, nenhum tucanos será preso mesmo mas podem sobrar estilhaços para o PMDB e outros partidos, afora os que já foram alcançados.

A revogação agora, além de tudo, soará como uma  espécie de conciliação, uma quase “caridade” do sistema para com Lula. Decretada a prisão dele já está e não faltaram advogados e juristas prevendo hoje que os embargos declaratórios serão julgados em tempo curtíssimo pela trinca de Porto Alegre. Eles não poderão mudar a sentença mas apenas corrigir, se aceitos, alguns aspectos adjetivos dela. Revendo sua decisão, e evitando a prisão agora, o Supremo contribuirá para evitar uma escalada imprevisível da radicalização política e reduzirá os dados à própria imagem do Judiciário, que se é aplaudido aqui, pela mídia associado ao plano em marcha, vem escandalizando pelo menos consciências estrangeiras. E, o mais importante, remove-se, em nome de Lula, a decisão que ameaça investigados e réus do condomínio da direita.

O destino pessoal de Lula, adiante se verá, depois do trânsito em julgado, até porque outras condenações  agora estão a caminho.  O fundamental, a inabilitação, o Judiciário garantiu.  Esta parece ser a lógica que moverá o Supremo, caso se mova mesmo. Não por Lula mas pelo próprio sistema.

A autora escreve em Português do Brasil

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