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Quinta-feira, Abril 17, 2025

Supremo, que barrou Lula, vai limpar mais uma lambança para Temer?

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

Sobrou para o STF, e mais diretamente para a presidente da corte, ministra Cármem Lúcia, a tarefa de limpar a nova lambança feita por  Michel Temer com a nomeação de Cristiane Brasil para o ministério do Trabalho, embargada por um juiz de primeira instância e pelo vice-presidente do TRF-2 por conta dos crimes trabalhistas já cometidos por ela. Nas próximas horas (no máximo até 6ª. feira) o Supremo optará por manter ou derrubar a liminar que impede a posse da filha de Roberto Jefferson,  e é mais provável que permita a nomeação, assumindo o desgaste que devia ser de Temer, por não observar qualquer critério moral na escolha de seus auxiliares.

É provável que o Supremo derrube a liminar porque a Constituição não veda a nomeação de réus ou condenados para ministérios. Exige apenas que os indicados tenham mais de 21 anos e estejam no pleno exercício dos direitos políticos (art. 87). Quem for relatar a matéria deve apegar-se a isso para dizer que o presidente tem a prerrogativa de escolher livremente seus ministros segundo estes parâmetros. A mesma  regra, entretanto, não observada em relação à presidente eleita Dilma Rousseff quando o STF barrou, através de liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, a nomeação de Lula como ministro-chefe do gabinete civil. Se ele tivesse sido nomeado, talvez o golpe não tivesse acontecido. Quando a liminar caiu, Inês era morta.  Seria delicioso que a suspeita roleta dos sorteios do Supremo reservasse agora para Gilmar a decisão sobre a liminar que barrou a posse de Cristiane Brasil.

O problema, entretanto, não é jurídico, mas político. Ainda que a Constituição não proíba a nomeação de ministros investigados ou condenados por crimes de qualquer natureza, só numa republiqueta como esta em que transformaram o Brasil alguém condenado por crimes trabalhistas seria escolhido para o Ministério do Trabalho. Mas Temer, em seu descompromisso com a probidade, não procurou conhecer a ficha de Cristiane.  Antes da degradação em curso, o Planalto sempre levantava previamente a ficha dos indicados, e se havia algo desabonador, ele era descartado. Assim procederam Itamar, FHC, Lula e Dilma.  Mas Temer  age com o descuido de um dono de um boteco.

Não apenas aceitou sem qualquer cuidado prévio a indicação da deputada para agradar a Jefferson e ao PTB. Quando veio, com a primeira liminar, a revelação dos antecedentes desabonadores para o  cargo, ao invés de recuar da indicação, ele vergou-se à insistência dela e do PTB e agora empurrou a batata para o Supremo. Terceirizou o desagaste.  Se a liminar cair, haverá a posse da deputada e ele ficará bem com Jefferson e com o PTB.  Se eventualmente o Supremo a mantiver, poderá dizer que fez todo o possível, culpando o Judiciário pelo veto à indicação.

A filha de Jefferson, se chegar a ser nomeada, talvez venha a se arrepender.  Por ora,  o que está em pauta, é a derrubada da liminar que barrou sua posse. Mas depois virão  as investigações sobre as suspeitas que continuam surgindo contra ela, e que extrapolam a condenação já sofrida na justiça trabalhista. O Globo revelou que, mesmo depois de condenada, ela não recolheu o INSS de um dos ex-funcionários que a processaram. E continua pairando a suspeita de que empurrou para a funcionária Vera Lucia o pagamento do débito trabalhista parcelado,  numa prática muito comum na Câmara, de garfar parte do salário dos funcionários com a prática do rebate: tomando-a em dinheiro vivo ou empurrando compromissos financeiros para os empregados do gabinete.  Foi Vera Lucia que pagou as parcelas do débito trabalhista mas Cristiane recusou-se a mostrar comprovantes de que ela foi ressarcida pela despesa.

Não é por ser filha de Jefferson que ela está na frigideira. É pelo que fez, embora Temer não tenha procurado saber.

A autora escreve em Português do Brasil

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