Disse Costa, à saída de uma estreia teatral: “Quero também expressar publicamente desculpas às duas pessoas, uma pela qual tenho particular estima, e outra, o dr. Pulido Valente, por quem tenho consideração”.
E sentenciou ainda: “Já recordei os membros do governo que enquanto membros do Governo nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo. Devem ser contidos na forma como expressam as suas emoções e se é assim à mesa do café quanto mais nestes novos espaços comunicacionais”.
Em suma, o primeiro-ministro deu a João Soares um puxão de orelhas público. O Bloco de Esquerda, o PSD e o CDS também exigiram desculpas, enquanto Augusto M. Seabra se revoltava nas televisões contra o ministro.
A graça disto é que João Soares não pediu desculpas. Pediu, mas assim: “Peço desculpas se os assustei”, que é apenas reforçar a promessa de tabefes. Reagiu bem Vasco Pulido Valente: “Cá fico à espera das bofetadas”. VPV sabe bem que é assim que se responde às ameaças do séc. XIX.
Em todo o episódio, o PCP disse que aquilo não era nada e apelou a que se seguisse em frente. Mas nada pára a polémica. Resta agora saber como acabará o que vai andando. As bofetadas prometidas colocaram o ministro da Cultura numa posição de fragilidade política. Por causa do texto do Facebook? Não! Por causa das palavras do primeiro-ministro.
Pouco importa aqui o cenário das bofetadas, já. António Costa e João Soares são duas pessoas de forte vontade. O primeiro mostra que não admite fugas à linha e está à vontade para umas vergastadas verbais num ministro. O segundo, nem verberado pela sociedade se retrata.
Seria bom, no entanto, pensar se teríamos a mesma medida para toda a gente. Se Cristas, Catarina ou Simplesmente Marisa dissessem ao Arroja que ele precisava era de duas bofetadas bem dadas, depois de este afirmar que “elevar mulheres à direção de partidos é enfraquecer o espírito partidário”, provavelmente ninguém condenava.