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João de Sousa

Terça-feira, Novembro 5, 2024

Tailândia, lutas em nome de Buda

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Colaboração do Núcleo de Investigação Nelson Mandela – Estudos do Humanismo e de Reflexão para a Paz (integrado na área de Ciência das Religiões da U.L.H.T.)

Associamos ao Budismo um lado decisivamente contemplativo, prática que devia ser coincidente com a paz, a um mesmo tempo paz interior e auto-regrada e exterior, partilhada e coletiva.

A Tailândia, com uma população de 67 milhões de habitantes e uma esmagadora maioria budista, mais de 90 por cento dessa população, desmente a regra e apresenta exceções.

Em 2014 viveu um golpe de Estado, graças ao qual o exército tomou o poder criando revoltas consequentes que estão ainda abem vivas quase três anos passados. Uma das decisões imediatas do golpe foi a de suspender a Constituição criando “alternativas internas”, o que traduzido à letra significa a supressão de liberdades, entre todas a liberdade religiosa, o que instalou um mau estar geral numa população habituada a um lugar do religioso na sociedade como facto assente e não questionável.

A partir de então, as discussões instalaram-se, grupos de leigos e de monges budistas organizaram-se – nomeadamente em torno do Centro Nacional de Proteção do Budismo Tailandês e do Conselho de Voluntários Budistas da Sociedade Civil. Sucederam-se movimentos de rua, manifestações, concentrações à porta do Parlamento que se recusa a incluir uma cláusula constitucional que consagre o Budismo como religião maioritária e reconhecida. O argumento é que uma cláusula como essa seria “perigosa a longo prazo”.  Foi prometido, todavia, um texto específico para “proteger e apoiar o Budismo”. As últimas grandes negociações nesse sentido datam de Janeiro de 2016, sem consequências de maior.

O olhar mais interessante neste processo parece ser o do nacionalista Korn Meedee, secretário do comité da campanha a favor da consagração do Budismo na Constituição tailandesa. Numa entrevista ao Bangkok Post, jornal de grande tiragem na Tailândia, Meedee afirmou que:

se o budismo se tornasse, oficialmente,  a religião nacional sairia reforçado e fortalecido”.

Nos seus exemplos incluiu:

a imposição de penas pesadas, como multas e prisão, para os monges que desonrem o Budismo e a aprovação de estatutos legais que tornem possível destruir imagens que representem o budismo de maneira desadequada”.

Ainda acrescentou:

queremos erradicar as formas impuras do Budismo, como o uso da religião para fins comerciais e o uso de imagens bramânicas no interior dos templos budistas.”

O governo, todavia, segue uma política de censura proibindo práticas culturais concretas – veja-se o exemplo: em 2015 a polémica girou em torno da proibição, feita pelo ministro da cultura, da exibição do filme, Abhat, da realizadora Kanitta Kwanyoo, que acabou por ser exibido meses depois quando Kanitta aceitou cortar cenas tidas governamentalmente por ”impróprias”.

O filme conta a história – e os pormenores, nomeadamente sexuais – da vida de um jovem delinquente tailandês que a mãe obriga a tornar-se bonzo (monge, servidor de um templo, estudioso de teologia e outras ciências humanas). Mas o jovem quebra as normas fundamentais da vinaya pitaka, o código de disciplina monástica.

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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