As redes sociais são um espaço que amplifica. A imagem do megafone fica-lhes bem. É simplista e curta, mas serve. E isto significa que lógicas de replicação de conteúdos tendem a resultar de uma amálgama entre os nossos interesses pessoais e a presunção que fazemos sobre os interesses dos nossos amigos e seguidores.
O que partilhamos diz quem somos e quase todos gostamos de pensar que temos graça. É aqui que entra o humor – um agente viral com uma força redobrada neste espaço em que nos projetamos todos os dias (mesmo sem selfies).
O humor e a política são parceiros de longa data – “que se ponha a galhofa ao serviço da Justiça!”, já bradavam Eça e Ramalho nas suas Farpas – e as campanhas eleitorais apresentam-se como uma espécie de concentrado de situações à espera de um olhar trocista. Se, nos tempos da famosa rodagem do Citröen, o trabalho de desconstruir alguns episódios cabia apenas a gente com acesso direto aos média – jornalistas, repórteres fotográficos, cartoonistas, comentadores – as redes sociais deram a oportunidade a outros actores, alguns na dependência directa de estratégias de comunicação, mas outros não.
Qualquer que seja a orientação política de cada um, é difícil não ser fã desta produção irónica que faz uso do que os políticos dizem no presente, mas também do que disseram e fizeram no passado. Espaços como o Yronikamente, Na Idade Média é que era bom, as contas twitter de Luis Vargas e Imprensa Falsa ou os vídeos auto-tuned de Bandex/Nuno Gelpi, por exemplo, estão no grupo dos que conseguem um fino equilíbrio entre a perspicácia, o enquadramento (às vezes remetendo para universos bem distintos), o humor e a (muito relevante) competência técnica para preparar segmentos ou imagens, ao estilo meme, com apelo instantâneo.
Para muitos de nós, a visão que criámos da campanha eleitoral que agora terminou incluiu, em grande medida, o contributo destes novos produtores, destes agentes com ‘certificado de garantia’ mais frágil, mas nem por isso – aos nossos olhos – menos relevantes.
Nas redes sociais, como no panorama mediático, vivemos melhor com diversidade e há, por isso, nestes fluxos algo de profundamente positivo.
Luís António Santos
Professor de Jornalismo, Universidade do Minho