Poema inédito de Beatriz Aquino
Também eu sou como um náufrago a intuir caminhos
Também eu sou como um náufrago a intuir caminhos,
e a pensar adivinhar-te no bojo de algum barco que se aproxima
como um exausto viajante em busca do porto dos meus olhos,
olhos que te acolheriam como um abrigo em meio à chuva,
como o sol que rasga a densa neblina
e mostra as cores e texturas de todas as planícies.Também eu reinvento estradas,
traço rotas antes inexistentes.
As Índias e suas especiarias não são nada
diante do mundo que construo e penso existir.
Istambul em meio ao fog, as muralhas chinesas,
os jardins suspensos e os Taj Mahals,
tudo crio para te ofertar
assim como faz um devoto
aos pés de quem escolheu para amar.Mas sei que invento também monstros misteriosos
que se escondem em lagos profundos.
Assassinos em série,
desses que se aproveitam das sombras que os medos fazem
e da letargia dos que desistem antes do bom alvorecer.
Mas veja que eles nem sempre vencem.
Embora reapareçam com seus rostos pálidos e cínicos
a nos repetir mantras antigos,
eles nem sempre vencem.Há um dia de sol para cada dois de nós nesse mundo.
Quatro mãos moldam a argila das coisas infinitas.
É bom ser farol de olhos que flutuam sozinhos nesse oceano frio.
É bom encontrar o bom porto onde teus pés pisam com leveza e alegria.É espanto o que experimento, decerto.
Mas vou onde me queres.
Tuas mãos me indicam o horizonte.
Lugar onde o sol é vasto e beija todas as cercanias,
onde pequenos de língua estrangeira
se aninham no colo das mães no café da manhã,
onde pais se enternecem com isso,
onde se ouve os pássaros e o rugir dos tigres
Onde o crepúsculo dos dias não chega…
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