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João de Sousa

Sexta-feira, Novembro 22, 2024

TAP: É preciso destapar interesses e mistérios das negociatas

A quem interessa a venda da TAP?
Qual o Impacto da TAP na Economia?
Consequências do COVID e da Guerra na Ucrânia na TAP?
Que Resultados da TAP, em 2022, foram divulgados pela CEO?
Porque foi demitida a CEO da TAP?

Em face da geolocalização de Portugal, país arquipelágico no extremo ocidental da Europa, sendo o mais próximo das Américas e da África, com grandes comunidades nestes continentes, lusodescendentes e lusófonos, a TAP é um instrumento crítico de sucesso para assegurar a presença cultural, linguística e económica no agora designado Sul global, África e América do Sul, onde Portugal tem um papel a desempenhar, no ar e, também, no imenso mar português que lhe compete defender e desenvolver, ou outros nos substituirão nessa missão.

Com efeito, a TAP é uma grande empresa nacional, senão vejamos alguns indicadores:

  • Em 2019 foram geradas pela TAP 3.3 mil milhões de euros em receitas (TOP 10 nacional), das quais cerca de 2.6 mil milhões euros em exportações;
  • Empregava 10 000 pessoas, representando em massa salarial bruta 650 milhões de euros;
  • Adquiria mais de 1 000 milhões euros em cerca de 1.300 empresas nacionais fornecedoras, ligadas à TAP e ao seu hub em Lisboa, dinamizando a actividade económica e o emprego.

Impacto na Economia:

  • O Turismo tem um peso significativo na Economia Portuguesa, representando, nos anos mais recentes, entre 9% e 12% do PIB;
  • Cerca de 75% dos turistas que chegam a Portugal, fazem-no por via aérea;
  • A geolocalização de Portugal (no extremo ocidental da Europa, e país europeu mais próximo das Américas e de África) favorece a existência de um hub global, mas requer um player local;
  • Mais de 90 destinos (10 no Brasil e 6 nos EUA) foram, em 2019, conectados directamente a Portugal pela TAP;
  • Analisando a evolução do número de passageiros transportados pela TAP, entre 2015 e 2019, verifica-se um crescimento de 61% para 17,1 milhões em 2019;
  • Do ponto de vista fiscal, em 2019, a TAP foi responsável por cerca de 350 milhões de euros em impostos e contribuições para a Segurança Social;
  • Cerca de 235 milhões de euros em IVA sobre o consumo dos trabalhadores do Grupo e dos turistas não-residentes transportados pela TAP;
  • Por isso, a cadeia de valor da TAP induz um volume de receita fiscal significativa, pelos seus trabalhadores, os seus fornecedores directos, no turismo, e, ainda nos sectores indirectamente impactados pela TAP.

Consequências do COVID e da Guerra na Ucrânia:

  • O impacto da pandemia e da guerra, foram enormes nas companhias de aviação à escala global, a que a TAP, não escapou, pelo que se tornou necessário que o Estado injectasse 3,2 mil milhões de euros e apresentasse à Comissão Europeia um plano de reestruturação com projecção até 2027, que foi aprovado;
  • O Estado assumiu, por isso, a totalidade do capital da empresa, na perspectiva da recuperação do capital injectado no final da reestruturação;
  • Nesse quadro foi aprovado um plano de redução do pessoal, para 7 000 trabalhadores, com ajuste dos custos laborais;
  • Preservação do ecossistema de fornecedores;
  • Redimensionamento da frota com a optimização da rede e redução do nº de aviões para 88;
  • Negociação das locações dos aviões;
  • Disponibilização de 18 slots/dia em Lisboa;

Finalmente, por concurso internacional foi seleccionada e contratada uma CEO, com experiência no sector da aviação para dirigir a companhia, Christine Ourmières-Widener, em 2021.

Resultados da TAP em 2022, divulgados pela CEO em 21/03/2023:

  • «Durante o primeiro ano completo do Plano de Reestruturação, a TAP gerou um lucro operacional que é um recorde histórico para a empresa, gerando, também, um lucro líquido positivo muito forte, tendo em conta o seu nível de alavancagem», uma vez que, o plano de reestruturação só previa o regresso da TAP aos lucros em 2025. Isto é, antecipou-os em três anos o que é bem revelador do potencial da empresa;
  • Mesmo transportando menos passageiros e operando menos aeronaves do que em 2019, a TAP conseguiu um novo recorde nas receitas operacionais, que totalizaram 3.485 milhões, mais 151% do que no período homólogo. As receitas cresceram de forma expressiva em quase todos os segmentos: 187,9% nas passagens, 143,6% na manutenção e 9,4% na carga e correio;
  • A companhia aérea transportou 13,8 milhões de passageiros em 2022, mais 136,1% do que no ano anterior, mas ainda aquém (81%) dos 17 milhões contabilizados em 2019. O número de voos operados atingiu 74,9% dos níveis registados no ano anterior à pandemia e a capacidade oferecida 87%. Já a taxa de ocupação (80%), ficou encostada à de 2019. A companhia aérea tinha no final de Dezembro 93 aviões em operação. Isto é, «não é uma tapezinha»;
  • Por outro lado, sendo a TAP um dos principais impulsionadores do crescimento significativo de turistas estrangeiros em Portugal nos últimos anos, contribuiu decisivamente para o seu aumento nos mercados dos EUA e Canadá, alavancado Portugal como um destino turístico para os norte-americanos;
  • Com o resultado de 2022, a TAP põe fim a um longo ciclo de prejuízos, que atingiram os 1,6 mil milhões no ano passado, devido ao impacto da pandemia e à má gestão anterior. Perdas que levaram ao resgate da companhia com a injecção de 3,2 mil milhões de euros em ajudas de Estado e à aplicação de um plano de reestruturação, com despedimentos e cortes salariais.
  • A redução de pilotos foi sensível, passando de 3411 em 2020, para 2517 em 2021 e 1535 pilotos em 2022, o que se revela insuficiente para manter o crescimento da operação;
  • Todavia, para ajustar a esse crescimento, os custos com pessoal subiram 11,6%, com a contratação de 779 novos trabalhadores, apesar de ser necessário reverter a redução salarial;
  • «Durante o quarto trimestre de 2022 a TAP foi capaz de gerar as receitas trimestrais mais elevadas da sua história e uma rentabilidade recorde, apesar dos contínuos desafios operacionais», destacou Christine Ourmières-Widener, CEO da TAP.

Porque foi demitida a CEO da TAP:

  • Os resultados de Christine Ourmières-Widener à frente da empresa, não impediram a demissão por «Justa causa» da gestora francesa que entrou na companhia em Junho de 2021 e do chairman, Manuel Beja, anunciada, 15 dias antes, a 6 de Março pelo Ministro das Finanças;
  • Falemos, então, um pouco dos antecedentes próximos e das narrativas em curso, porque podem fazer sentido se o objectivo for alienar a TAP, «Quanto mais depressa melhor, a qualquer preço, para evitar mais custos para o contribuinte»;
  • Com esse objectivo foi lançada uma cortina de fumo mediática que surtiu efeito. O pretexto foi o «valor da indeminização» para saída da companhia, por renúncia ou acordo, com a administradora Alexandra Reis;
  • Mergulhou-se o país no psicodrama dos custos elevados com um benefício de favor a essa gestora, que seriam os contribuintes, mais uma vez, a pagar;
  • Em consequência a CEO e o Chairman da TAP, foram demitidos «com justa causa» e a «Nação ficou feliz porque se fez justiça», o comentariado agradeceu e afiambrou-se ao tema, e arengaram os políticos, sobremaneira os do sistema;
  • Foi, então, constituída uma Comissão de Inquérito Parlamentar;

O que se se seguiu e viu até agora:

  1. A argumentação do «sistema com os seus comentadeiros» apesar das tentativas de fazer sangue com as inquirições, não foram bem sucedidos, e não conseguiram encontrar forma de justificar a demissão «com justa causa». Pior ainda depois de serem conhecidos os resultados da TAP, poucas sessões decorridas;
  2. Porém, a estratégia para a companhia e para o transporte aéreo em Portugal têm sido negligenciados, e passou a ajustar-se a narrativa à costumada dialéctica esquerda/direita de que o Estado é incapaz de gerir as empresas públicas, apesar de haver 143 empresas nesse universo;
  3. O que se pode extrair disto até ao momento é que o sistema quer impedir a discussão do essencial; a importância da TAP para a imagem do país. Leva a sua «Marca» a três continentes, sendo a maior empresa nacional. Um peso significativo na economia, no PIB e no emprego;
  4. Além disso, suscita a discussão da localização do futuro aeroporto de Lisboa, pelo que no processo de ajustamento da narrativa, foi necessário introduzir confusão, agora já se fala em oito hipóteses de localização, i.e., baralhar e dar de novo, pour épater les bourgeois;
  5. Não se dá, assim, espaço para a discussão do que está subjacente e é decisivo para o futuro do país, i.e., que a TAP e o hub em Lisboa são indissociáveis, e ao separar-se um vector do outro, põe-se em causa o futuro do país e da sua viabilidade enquanto tal;
  6. Com efeito, se a TAP for vendida ao grupo Iberia, dada a proximidade a Madrid, põe-se em causa a manutenção do hub de Lisboa e, com isso, a própria viabilidade estratégica, política e económica da existência de Portugal, que passará a ser um sítio sem conexões autónomas, mesmo ao seu próprio espaço de influência que ficará na esfera de Madrid. Melhor ainda quando, para fechar o puzzle, se fizer a ligação a Madrid por TGV.

Foi justamente pelo que antecede que Christine Ourmières-Widener foi demitida, por não se inserir no «ecossistema» e ter antecipado lucros da empresa em três anos pondo o jogo a descoberto. Não percebeu que eram politicamente indesejáveis!


por Lúcio Vicente

Exclusivo Tornado / IntelNomics

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