Os artesãos do concelho dão alma às tradições seculares.
Tavira tem ferreiros que executam artísticos ferros forjados, mulheres que decoram com fios de lã albardas e molins, homens que querem manter viva a tradição das suas gentes. Ofícios antigos que passam de geração em geração. Sinal de vida da cultura popular.
Poucos são os que querem estender a mão às artes ancestrais. Mas a cestaria e a empreita ainda perduram graças à sabedoria e mestria de alguns artesãos que teimam em rumar contra o tempo.
Ora transformam cana, esparto, pita e palma em cestos, ora reciclavam todo o tipo de latas em utensílios úteis ou adornos criativos. E escrevemos no passado, apenas porque o último latoeiro do concelho já não trabalha os funis, cântaros, chuveiros, cata-ventos. Aníbal da Silva Bandeira faleceu há cerca de sete anos e com ele levou o dom de transformar o zinco e lata em objectos de arte. Prometia trabalhar até que os dedos o permitissem. Assim foi e ninguém quis seguir-lhe os passos.
Nos lugares mais recônditos da serra do Caldeirão, onde o trabalho de lavoura obriga a proteger burros, mulas e éguas, os albardeiros e correeiros dedicam-se à fabricação de molins, arreios e albardas enchidas com palha para selar as bestas de carga
Do barrocal rumo à serra do Caldeirão
Outras artes de ofício demoram até chegar ao tear. É que o linho passa por um longo processo anual: semeia-se em Outubro, é mondado para retirar ervas e colhe-se em Junho. Depois é sacudido para sair a linhaça (semente do linho), alagado durante nove dias num ribeiro ou tanque, secado, e posteriormente gramado, espadelado e ripado. Fiado à roca ou à máquina, nasce, finalmente, a meada. Pronto para a tecelagem, só mesmo depois de lavado e dobado.
As fiadeiras escasseiam e os cardadores quase se extinguiram. No entanto, ainda existem exemplares de mantas, alforges e toalhas tradicionais. A tecelagem assume agora novos modelos, mais urbanos, que lutam pela sobrevivência através das mãos jovens saídas dos cursos profissionais.
Nos lugares mais recônditos da serra do Caldeirão, onde o trabalho de lavoura obriga a proteger burros, mulas e éguas, os albardeiros e correeiros dedicam-se à fabricação de molins, arreios e albardas enchidas com palha para selar as bestas de carga.
Partilhando de uma cumplicidade geracional, desde sempre a mulher algarvia embelezou pacientemente lençóis e panos. Cruzando pontos, linhas, tecidos. Manufacturando bordados e rendas. Função mais masculina cabe aos telheiros, que fabricam peças do «tempo mourisco» para isolar, sem abafar, as habitações do sul, de forma a combater o calor dos meses mais tórridos.
A cerâmica de construção já foi mais pujante no passado, mas a procura crescente de materiais de virtudes ecológicas reconhecidas e de valor estético incontestável abre perspectivas de expansão para este sector de actividade.
Associação de Artes e Sabores de Tavira
Criada há oito anos, a Associação de Artes e Sabores de Tavira (ASTA) quer preservar o artesanato do concelho. No seu ateliê, o público pode descobrir os segredos da confecção dos objectos típicos do concelho. Frequentes, são as feiras e mostras que ao longo do ano vendem peças de olaria, cerâmica, cestos e cadeiras de cana, capachos de corda, objectos de trapologia, entre outros. Sem esquecer a doçaria local e a famosa aguardente de medronho, figo e alfarroba, o concelho de Tavira continua a ensaiar a resistência à enchente do turismo de massas mas esforça-se pouco por reinventar a vazante dos marafados meses invernosos: o fluxo e o refluxo das marés, do lado de lá da Ria.