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Sábado, Dezembro 21, 2024

Temer candidato para quê? Para cometer baixarias e mandiocadas

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

Logo depois do golpe e da posse, ele garantiu, inclusive aos tucanos, que não disputaria a reeleição. Mas a cada dia surgem mais sinais de que Temer deseja não apenas ter um candidato para defender o que chama de seu “legado econômico”. Embora tenha menos de 5% de aprovação, ele começa a pensar em sua própria candidatura, avaliando que nenhum outro faria o serviço completo, defendendo-o das acusações da Lava Jato e capitalizando os supostos resultados da gestão. Mas não apenas isso faria Temer como candidato sem voto mas falante: ele se dedicaria também a atacar seus antecessores petistas, Dilma e Lula, com a grosseria e a falta de limites que demonstrou ao autorizar a inserção do programa partidário do PMDB em que desvirtua a fala de Dilma, de 2015, sobre o valor da mandioca.

Dispondo do maior tempo de televisão, o do PMDB (85 segundos diários), Temer estaria no horário eleitoral gratuito não para conquistar votos mas para matraquear. Na linha da recente agressão a Dilma, empinaria o discurso de que os governos petistas nada fizeram, apenas enterram o país na crise, tendo ele ficado com a tarefa de colocar o país nos trilhos. E o teria feito com grande êxito, diria desfilando estatísticas.

Assim como o papel aceita tudo que se escreve, o vídeo também acolhe imagens e falas sem questionar verdades ou mentiras. Temer passaria  batido sobre os resultados econômicos e sociais dos governos petistas, fixando-se nos problemas que a economia passou a enfrentar em 2015, depois da reeleição de Dilma, por conta da sabotagem de Eduardo Cunha e da banda golpista do Congresso que, além de aprovar pautas bombas, negou a Dilma toda as medidas que lhe teriam permitido resolver problemas que apenas se agravaram depois do golpe, como o rombo fiscal, a recessão e o desemprego. Candidato, Temer atacaria pesadamente Lula e Dilma. Ele seria o grilo falante contra o PT e seus aliados, favorecendo algum outro candidato conservador, seja ele Alckmin ou Bolsonaro ou qualquer outro que venha a surgir. Meirelles parece ter entendido os desejos do chefe e se recolhido.

Na discurseira, Temer repetiria também que é o homem mais honesto do mundo e que foi vítima de uma “armação” de Rodrigo Janot e Joesley Batista para o derrubarem da Presidência.

Há notícias de que, nos últimos tempos, o grupo palaciano vem estimulando Temer a bater na antecessora e  estaria colecionando dados e informações com este objetivo. Desta disposição é que teria surgido a peça da mandioca. O marqueteiro Elsinho Mouco ouviu a diretriz mas, por bronco e grosseiro, apelou para baixaria.

Quem prestar atenção verá que nos últimos tempos Temer deixou de afirmar que não será candidato. Ao mesmo tempo, Romero Jucá, prócer do golpe e líder no Senado,  passou a dizer que o governo terá candidato em 2018 e não será expectador passivo da disputa. Naturalmente, a eventual candidatura de Temer jamais seria admitida agora, quando ele ainda precisa muito dos partidos de sua base, que não marcharão unidos na sucessão. Se ele resolver mesmo fazer esta triste figuração, ela só será anunciada na última hora,  quando todos já tiverem feito seu jogo e ele não tiver mais nada a perder. Ou seja, no final de junho, quando acaba o prazo para os partidos indicarem candidatos em coligação.

PMDB faria este sacrifício? Não existe um PMDB, mas vários, todos sabemos. Mas Temer e a cúpula peemedebistas ainda controlam boa parte dos delegados. Os derrotados buscariam outro rumo, apoiando Lula ou quem quisessem. Até porque, elegendo uma boa bancada, em 2019 o PMDB novamente venderá caro seu apoio a quem tiver sido eleito, pois o sistema partidário que temos jamais dispensará um presidente de governar em coalizão para obter maioria no Congresso.

Então, prestemos atenção nesta hipótese, embora exista outro golpe sendo gestado, o do parlamentarismo. Duvido que o STF venha a autorizar o Congresso a mudar o sistema de governo sem consulta ao povo. Seria rasgar uma cláusula pétrea mas nestes tempos, tudo é possível.

A autora escreve em Português do Brasil

Fonte: Brasil247

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