É verdade. Portugal tem saudades de José Rodrigues dos Santos (JRS). Do novo mas não do recente. Tem saudades daquele jornalista que em 1991 cobriu a Guerra do Golfo e que informava, sem opinar, os acontecimentos históricos que se sucediam no Iraque.
O jornalista corajoso e constantemente à procura do melhor foco jornalístico em Angola, Líbano, Bósnia, Timor-Leste, Palestina (…) e até ultimamente na Ucrânia.
Em abono da verdade, havia até um sentimento paternalista dos telespectadores quando viam a figura do “novinho” JRS a cobrir conflitos bélicos daquele calibre. Havia até quem fizesse referências elogiosas e merecidas ao facto deste ter trabalhado na mítica BBC antes de vir para a RTP apresentar o “24 horas”, ou ter sido correspondente da CNN.
Durante largos anos, José Rodrigues dos Santos conseguiu granjear um enorme reconhecimento público por parte de todos os Portugueses e catapultou esse facto, em seu favor, para a literatura.
Contudo, desde há uns anos, JRS deixou-se levar por aquilo que alegadamente é proibido a um jornalista. Emitir opinião pessoal à la Moura Guedes, face às notícias e aos entrevistados.
As polémicas declarações sobre os Helénicos –“Muitos dos Gregos que passam a pé diante da casa do ex-Ministro da Defesa são paralíticos, ou melhor subornaram um médico para obterem uma certidão de doença fraudulenta para terem mais um subsidiozinho”; com generalizações grosseiras indignas até de qualquer jornalista do Correio da Manhã ou d’O Diabo, abriram a caixa de Pandora para que os Portugueses pudessem constatar no que se tornara o grande jornalista e escritor Português – um mero comentador.
O entusiasmo com que relata qualquer notícia da direita, contrasta com o olhar soslaio, crítico e reprovador relativo à esquerda nacional.
O programa 360º de 1 de Fevereiro é mais um exemplo. Moderando o debate entre Pedro Lains e Marco Capitão Ferreira sobre o Orçamento de Estado 2016, JRS transformou-se num terceiro comentador. Não confrontando os interlocutores com perguntas pertinentes e até diagnosticando contradições, mas sim dando opinião e transmitindo expressões de contentamento com os “supostos ralhetes” da União Europeia. Uma discussão que deveria ser técnica transformou-se num debate político ao estilo daquele que a RTP3 faz quando convida apenas comentadores do Observador.
Obrigado JRS, pelos grandes momentos jornalísticos dos anos 90 e início do milénio.
Quanto aos últimos anos, é melhor esquecer. Não temos saudades do “velho” José Rodrigues dos Santos, aquele que parece saído dos tempos da União Nacional.
Os Portugueses querem informação de qualidade e isenta… e até querem de volta o simpático: “Nós voltamos a ver-nos amanhã”!