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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

“Teocracia em Vertigem”: especial de Natal do Porta dos Fundos pensa sobre o Brasil de hoje

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

O especial de Natal do grupo Porta dos Fundos deste ano pensa sobre o país em que o Brasil se transformou, principalmente após a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. Bem ao estilo do grupo britânico Monty Python (“A Vida de Brian”, de 1979 e “O Sentido da Vida”, de 1981), o grupo brasileiro brinca e faz pensar sobre o ódio às classes populares e ao diferente que predomina na sociedade brasileira.

Por isso, dizem que “Cristo não vai voltar” muito provavelmente porque se retornasse seria odiado, talvez apedrejado pelos defensores da ideia da “Terra plana” e do país ser dominado por uma teocracia fundamentalista que não aceita o diálogo e rejeita o conhecimento, a ciência, as artes e todas as pessoas que ousam pensar.

 

Assista Teocracia em Vertigem (2020) pelo YouTube

Ao citar “Democracia em Vertigem” (2019), de Petra Costa, documentário sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que pode ser assistido na Netflix. Como se fosse um documentário também, “Teocracia em Vertigem” narra a vida de Jesus Cristo sob o prisma da política brasileira dos últimos quatro anos.

Com direção de Rodrigo Van Der Put e roteiro de Fábio Porchat, o especial apresenta o processo de crucificação de Cristo com Pôncio Pilatos lavando as mãos e o povo preferindo a libertação de Barrabás e a pena capital de Cristo. Este especial de Natal se encontra no canal do YouTube do Porta dos Fundos porque a Netflix não renovou o contrato com o grupo, talvez sob a influência da polêmica causada em 2019 com “A Primeira Tentação de Cristo”, que sugere um Cristo gay.

O especial deste ano não chamou tanto a atenção de grupos de fanáticos religiosos, movidos pela raiva insana. Com a notória citação de “A Última Tentação de Cristo”, (1988), de Martin Scorsese, “A Primeira Tentação” provocou a ira de radicais de extrema direita e, chegou a  ser proibido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, sendo liberado pelo Supremo Tribunal Federal. A censura chamou mais a atenção ainda ao trabalho do Porta dos Fundos.

 

Veja A Primeira Tentação de Cristo (2019)

Mas como o objetivo do Porta dos Fundos é provocar e com sua provocação fazer as pessoas pensarem sobre a vida, desta vez, o grupo traz um Cristo loiro, assexuado e talvez muito por isso não tenha causado horrores. Mostra o descalabro da extrema direita dominar o Estado e tentar levar o Brasil para uma teocracia fundamentalista, fundamentada na violência, no medo e no ódio. Vale a pena assistir para rir e pensar.


Texto em português do Brasil


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