(1906 – 1986)
Advogado, foi um cidadão da Resistência politicamente interventivo, muito respeitado pela ponderação e espírito de abertura que revelava, quer na luta contra a ditadura, quer na sua acção para a construção da Democracia.
Aos célebres jantares que, durante a Ditadura, promovia regularmente para celebração do «5 de Outubro»[1], acorriam antifascistas de diversas correntes ideológicas, de Alenquer e de outros concelhos do distrito de Lisboa.
O seu espírito lutador e inconformista levou-o à prisão por diversas vezes. Como profissional, advogou em Alenquer e em Lisboa e, no decurso da sua carreira, defendeu diversos cidadãos detidos pela polícia política.
Após o 25 de Abril de 1974, recusou lugares no Governo, mas aceitou ser deputado pelo PS à Assembleia Constituinte e depois à Assembleia da República.
Cidadão da Resistência politicamente interventivo
Teófilo Carvalho dos Santos nasceu a 4 de Setembro de 1906, filho de Joaquim Carvalho dos Santos e Gracinda dos Reis Carvalho, e faleceu a 24 de Março de 1986.
A sua acção cívica começou ainda no Liceu, enquadrando-se no movimento associativo. Estudou em Lamego e em Viseu, onde foi Presidente da Associação Académica de Viseu.
Ingressou depois na Universidade de Lisboa e participou intensamente nas greves académicas contra a ditadura. Foi eleito delegado dos estudantes de direito ao senado universitário, cargo que não ocuparia por decisão do Governo que suspendeu este órgão. Em 1931, a sua intervenção nas lutas estudantis valeu-lhe a perda do ano, pelo que só concluiria o curso em 1932. Nos 2 anos seguintes, trabalhou para o Ministério Público. Em 1936, mudou de residência, fixando-se definitivamente em Alenquer, onde se estabeleceu, abrindo um escritório.
Teófilo dos Carvalho Santo foi um militante activo na luta contra a Ditadura nas quatro décadas que antecederam o 25 de Abril, lutando para restaurar a Democracia em Portugal e fazendo, muitas vezes, a ligação entre os sectores civil e militar. O seu nome encontra-se intimamente ligado aos movimentos da Oposição contra o regime, nomeadamente às campanhas presidenciais de Norton de Matos, Quintão de Meireles e Humberto Delgado. Participou no MUNAF e foi um dos promotores da reunião no Centro Almirante Reis, em que foi criado o Movimento de Unidade Democrática (MUD), para cuja Comissão Central foi eleito[2].
Interveio activamente nas campanhas eleitorais das eleições legislativas de 1969 (CEUD) e 1973 (CDE). Foi um dos subscritores do «Programa para a Democratização da República» (1961).
Foi um dos fundadores do jornal clandestino “Tarrafal”. Esteve presente em todos os movimentos que antecederam a Acção Socialista Portuguesa, que, em 19 de Abril de 1973, deu lugar ao Partido Socialista – Em 1945, foi um dos fundadores do Partido Trabalhista e, quatro anos mais tarde, integrou o núcleo da Resistência Republicana Socialista. Em 1969, aderiu à Acção Socialista Portuguesa (ASP) e, em 1973, juntamente com outros membros da ASP, funda o Partido Socialista (PS).
Tarrafal
Órgão antifascista da FDL
(1945), “Tarrafal”, Domingo, 24 de Junho de 1945, Disponível em CasaComum.org
Após 25 de Abril de 1974
A nível autárquico, foi o primeiro Presidente da Assembleia Municipal de Alenquer, eleito no sufrágio para as autárquicas, em Dezembro de 1976, as primeiras após a Revolução do 25 de Abril, lugar que dignificou com a sua vasta experiência política, dando mostras da sua proverbial sensatez.
Foi eleito, em 1975, deputado à Assembleia Constituinte. Depois, durante 11 anos, foi sucessivamente eleito deputado à Assembleia da República nas listas do Partido Socialista, vindo a desempenhar as funções de Presidente daquele órgão de soberania. Ascendeu à presidência da AR, em 1978, por lhe ser reconhecido o “contributo de toda a sua vida para as lutas pela conquista da Democracia e da Liberdade”; e manter-se-ia no cargo até 1980, desempenhando essas funções com elevada dignidade, discrição, serenidade e ponderação.
Foi membro da Comissão Política Nacional do PS.
Teófilo Carvalho dos Santos
No corredor que dá acesso ao Gabinete do Presidente da Assembleia da República, encontram-se os retratos dos Presidentes: Henrique de Barros, Vasco da Gama Fernandes, Teófilo Carvalho dos Santos, Leonardo Ribeiro de Carvalho e Oliveira Dias
Em 1981 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo e em 1985 com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Em 10 de Junho de 1993, foi-lhe atribuída, a título póstumo, a medalha de ouro do Município de Alenquer “por serviços excepcionais”.
Pertenceu à Maçonaria Portuguesa desde 1931, atingindo o mais alto grau hierárquico desta instituição.
[1] A comemoração do primeiro aniversário da proclamação da República em Alenquer, em 5 de Outubro de 1911, ditou um modelo que se procurou repetir nos anos e décadas seguintes, assente nas festas populares, nos jantares-convívios e outras manifestações, que se transformaram em autênticas tradições locais.
[2] O MUD, formado em 1945, após o fim da II Guerra Mundial, herdeiro do anterior movimento da oposição MUNAF, foi criado para reorganizar a oposição, prepará-la para as eleições e proporcionar um debate público em torno da questão eleitoral. Conseguiu em pouco tempo grande adesão popular (principalmente entre intelectuais e profissionais liberais) e começou a tornar-se uma ameaça para o regime. Salazar ilegalizou-o em Janeiro de 1948, sob o pretexto de que tinha fortes ligações ao PCP. Apesar de tudo, viria ainda a apoiar a candidatura presidencial do general Norton de Matos, em 1949.
Organizadas no âmbito do MUD, entre 1946 e 1956 realizaram-se as Exposições Gerais de Artes Plásticas (SNBA, Lisboa), perfazendo um total de 10 exposições de grande impacto cívico e cultural
Dados biográficos
- Assembleia da República: Teófilo Carvalho dos Santos (1906-1986)
- Wikipédia: Teófilo Carvalho dos Santos
- Tinta Fresca: Teófilo Carvalho dos Santos homenageado em Alenquer
- Wikipédia: Movimento de Unidade Democrática
- Casa Comum: Teófilo Carvalho dos Santos
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.