“Espero que as termas possam reabrir. A família está disponível para negociar a propriedade e recuperar a estância termal, que precisa de um grande investimento”. A afirmação é de Paulo Neiva Vieira, um dos herdeiros das Termas dos Cucos, em Torres Vedras, fechadas há 30 anos.Paulo Neiva Vieira é um dos sete filhos do último director clínico e proprietário dos Cucos, José António Neiva Vieira, falecido em Agosto de 1987 na passagem de nível de Runa colhido por um comboio.
Com o falecimento de Neiva Vieira a estância termal fechou, até hoje. A família mantém três trabalhadores no local, que zelam pela propriedade, sobretudo o jardim. O edificado está em muito mau estado e foram já suspensas as visitas ao edifício principal, devido à sua debilidade estrutural.
A antiga estância termal está integrada numa vastíssima propriedade, denominada Quinta da Macheia. O historiador local Venerando Aspra de Matos tem-se dedicado ao estudo daquela zona localizada a cerca de um quilómetro da cidade de Torres Vedras.
Segundo Venerando de Matos, no século XVI a Quinta da Macheia era já umas das aldeias mais povoadas do concelho, com 18 vizinhos. No século XVII começa a dar-se um fenómeno raro, a transformação de uma aldeia numa quinta privada, explicou o historiador. Até 1782 a quinta foi de António de Matos Pereira, passando para Miguel Lourenço Peres nesse ano. Em 1851 João Gonçalves Dias Neiva tornou-se dono da Quinta da Macheia e dos Cucos. Com o novo proprietário inicia-se uma nova etapa na história dos Cucos, já que se devem a João Dias Neiva as primeiras obras de vulto no local.
Em 1868 o sobrinho José Gonçalves Dias Neiva herda a Quinta da Macheia e manda construir o edifício das termas, atendendo à grande procura que a mesma já tinha. Nessa altura as pessoas não iam tanto à praia, segundo Venerando de Matos, e por isso a partir do século XIX o termalismo conhece um grande incremento.
Termas dos Cucos
A importância dos Cucos era já tanta que em 1887, quando começou o serviço regular de transporte de passageiros por caminho-de-ferro, na Linha do Oeste, foi criado um apeadeiro nos Cucos para captar banhistas que iam para as termas das Caldas da Rainha.
A inauguração do edifício termal tem lugar em 1893, com grande pompa. Dias Neiva idealizou ainda uma vila dos Cucos, com 40 moradias, mas apenas duas foram construídas, que são os dois chalés localizados de cada lado da Avenida das Termas. Um deles servia para alojamento do pessoal médico e o outro tinha 15 quartos para arrendar aos utentes.
A José Gonçalves Dias Neiva, falecido em 1929, sucedeu-lhe, à frente dos destinos das termas, o seu sobrinho José António Vieira, que viria a falecer em 1962. Sucedeu-lhe o médico José António Neiva Vieira, que procurou dar um novo dinamismo ao local, apesar das dificuldades acrescidas pela poluição do rio Sizandro. Os problemas foram agravados pela proximidade de uma pedreira e pelas cheias de 1983.
As termas foram entretanto sendo ampliadas, com a construção de um hotel com 300 quartos, capela e um casino. Mas com o falecimento de José Neiva Vieira a sua actividade cessou, até hoje.
Em 1996 chegou a ser elaborado um plano para recuperar o local, mas não passou do papel. Já em 2005 foi feito um projecto para toda a área da Quinta da Macheia, prevendo a recuperação das termas e o desenvolvimento da restante área. O território da quinta abrange uma parte do curso do rio Sizandro, incluindo duas antigas azenhas, o antigo apeadeiro da Linha do Oeste que servia a quinta, uma aldeia inteira desabitada e diversas outras casas, vários hectares para produção agrícola e ainda uma área montanhosa, a serra dos Cucos.
O projecto de 2005 previa a construção de um complexo integrado da Quinta da Macheia, Termas do Vale dos Cucos e espaço adjacente. Contemplava, nomeadamente, uma unidade hoteleira e um campo de golfe. No entanto, o projecto não teve viabilidade e ficou parado.