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João de Sousa

Sexta-feira, Dezembro 20, 2024

Tic tac… Um minuto e nada mais…

Ele voltou, carregado de sinceridade, não exalava arrependimento… Não precisava. Apenas a sensação de saber que tinha notado o meu sofrimento me impelia a aceitá-lo de volta… Mas como o aceitar sem perdoar?

Passar o passado, apagando-o e simplesmente virar a folha, sabia a submissão e denunciava carência excessiva.

Enquanto falava do seu desejo de voltar a me ter nos braços, trucidava seu ego… Parecia mesmo sincero, mas há sempre um senão… Eu podia simplesmente pegar em suas mãos, olha-lo nos olhos e dizer que também o queria, mas confrontei-o com porquês, receando por uma dor futura… Se eu me permitisse, se calasse o meu instinto feminino…. Aquele instante seria eternizado…

O óbvio, sobrepunha-se à carência e expunha o meu fanatismo por aquele homem, quase cedi… Tocou-me no ombro e olhou-me nos olhos feito hipnose. Só queria um beijo… Um simples beijo…. O portal para a transmutação, o caminho para a devoção… Cabisbaixa não cedi, resisti à minha vontade que contrariava o meu raciocínio. Eu também queria mas não queria… Queria poder querer sem meter e aquele eterno instante não me bastava, como se o futuro estivesse em minhas mãos, como se amanhã fosse meu.

Sim tinha de ser eterno. Viver um dia de cada vez não supre a minha ganância. Queria a felicidade empilhada nas prateleiras da despensa do meu medo e suprir todos os solavancos que enfeitam a nossa existência.

Ele só queria um beijo, um minuto e nada mais… Um eterno instante, plagiando o relógio que segue ao ritmo de um tic e depois um tac…

– O amanhã pertence a Deus, mas este momento a nós pertence…

Deixa-me tocar-te com clareza e dizer tudo que um dia não tive a certeza. Envolver teus medos na certeza do meu querer… Por favor querida não antecipes a mágoa. Vivamos apenas este instante, este mísero segundo de êxtase é o que te peço… Como poderei prometer-te céu, se em minhas mãos só cabe um punhado de teu sorriso… Beija-me por favor… Nem que seja pela última vez… (insistiu)

Voltei a negar, alegando medo. Outros fatores foram nutrindo o não… Desarmado de argumentos, saiu disparado batendo a porta com raiva… Queria gritar, chamar por ele e aceitar, mas o orgulho não deixou… impôs-se sobre o meu querer e falou mais alto. Chorei. Não sei se foi de raiva ou de arrependimento… Não ligou nem voltou… E quando liguei, disse que estava sem tempo para desperdiçar com quem não lhe queria… Mas quem disse que eu não o queria?

E foi naquele dia que aprendi a não confrontar o relógio, viver o momento seguindo os ponteiros, dançando ao ritmo do tic tac… Um minuto e nada mais é o quanto dura a eternidade…


A autora escreve em PT Angola


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