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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Timor-Leste deve investir na pós-graduação e na investigação

M. Azancot de Menezes
M. Azancot de Menezes
PhD em Educação / Universidade de Lisboa. Timor-Leste

A pós-graduação e a investigação científica são elementos centrais para que a universidade de Timor-Leste não fique (ainda mais) descaracterizada.

Uma outra preocupação do próximo governo terá que ser a formação inicial de professores (leia-se: formação de excelência), baseada num modelo híbrido, adaptado de sistemas educativos que ocupam lugares cimeiros no Program for International Student Assessment (PISA), como é o caso extraordinário de Singapura.

O país que me viu nascer tem 19 Instituições de Ensino Superior (IES) autorizadas. Com a proliferação de cursos de graduação, infelizmente muitos dos quais não respondem às necessidades e prioridades do país, é imprescindível repensar a actual oferta educativa das nossas universidades, assente na lógica de um plano nacional de formação de quadros desenhado para a próxima década.

Numa outra vertente, as IES têm que passar de imediato para uma nova fase que se segue aos cursos de graduação. Estou a referir-me à criação de cursos de pós-graduação inovadores e à investigação científica, na medida em que estes elementos são inerentes ao conceito e à missão do ensino superior.

Esta é a verdade, para além de ser indispensável melhorar muito a qualidade da oferta educativa dos cursos de graduação, constata-se que a investigação científica é praticamente inexistente em Timor-Leste mas todos sabemos que a pesquisa é um elemento central da significação do próprio conceito de universidade.

Note-se, já o referi publicamente, o país está a ter muita visibilidade em termos internacionais devido à ofensiva sem precedentes do Presidente da República, José Ramos-Horta, muito bem articulada com a diplomacia do líder carismático da Resistência, Kay Rala Xanana Gusmão, contudo, verifica-se uma boa dose de inércia no sector da educação, nomeadamente no subsistema do ensino superior.

Repensar o modelo de financiamento da pós-graduação e da investigação

Na vertente da pós-graduação e da investigação, duas dimensões que hoje quero questionar, por exemplo, os critérios de financiamento devem ser revistos com prioridade e sem hesitações. Terá que haver uma atenção especial em relação ao financiamento de programas de pós-graduação e de investigação científica, com base no rigor, com critérios justos e transparentes, enquadrados em processos de avaliação entre pares.

Sobre esta questão da inércia do país em determinados sectores, escrevi no final do ano passado, neste mesmo Jornal, um texto intitulado “Timor-Leste, um país a duas velocidades”. Assim, não me irei alongar, mas insisto que é fundamental a camada intelectual e os académicos do país reflectirem e debaterem tais preocupações que nos remetem necessariamente para o imprescindível e necessário aumento da percentagem do PIB para o financiamento da investigação, designadamente um financiamento competitivo por projectos.

Em relação a esta matéria penso que as políticas públicas actuais precisam de ser corrigidas, mormente no que diz respeito à alocação de recursos financeiros para a pós-graduação e para a investigação científica, na medida em que não estão a ser baseadas no rigor e na qualidade porque entre outros aspectos não se está a enfatizar a articulação ensino-investigação e muito menos a racionalização dos recursos humanos e os necessários incentivos para a ligação das universidades às redes de investigação.

De facto, qualquer pessoa menos atenta, mesmo através de observações empíricas, verifica que o pouco financiamento da investigação disponibilizado para além de não estar a basear-se em critérios transparentes e rigorosos de qualificação do docente / investigador e da qualidade da produção científica, também não está a ser devidamente associado à competitividade que advém do financiamento externo de projectos.

Portanto, a partir de 2023, perante o desafio estratégico do país em contexto global, regional e local (CPLP, ASEAN, Extremo Oriente, União Europeia, etc.), o novo governo terá de reformular as políticas de ensino superior no geral e considerar o financiamento da investigação como uma prioridade estratégica para o desenvolvimento nacional, não só para combater a dependência externa, mas, acima de tudo para que o ensino superior de Timor-Leste passe a ter realce no âmbito da construção da nova sociedade baseada no conhecimento, atribuindo-se o relevo que se impõe à ciência e à investigação científica.

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