Como tomar decisões responsáveis e lúcidas, perguntam-me com muita frequência. Respondo, por norma, “decidir é fácil, difícil é querer decidir”.
Para transcender a consciência grosseira na tomada de decisão proponho, habitualmente, o seguinte exercício. Coloque-se num ambiente silencioso, feche os olhos e imagine a sua vida representada por uma humilde e velha casa construída em madeira.
Agora, olhe para o telhado, sempre desde dentro da casa, imaginando que as dificuldades que foram surgindo ao longo da sua existência foram deixando vestígios no telhado. Os maus momentos, as dificuldades, os maiores medos,…, estão todos aqui representados por fendas que marcam, mais ou menos violentamente, o enegrecido telhado que é a sua vida.
Finalmente, escolha o maior entre esses buracos e, seguidamente, descreva-o pausadamente. Como é que o referiria? Preto? Castanho? Azul? Qual seria a cor?
Por norma é aqui que falhamos, i.e. na percepção das dificuldades. O buraco no telhado da casa não poderá ter outra cor que não seja a do céu. Logo, não tem cor. Outro esquecimento frequente é que sem telhado não haveria buraco. Estes são elementos funcionais da lógica que nos poderá conduzir a uma resposta coerente. Porque seria diferente nas organizações?
Os decisores organizacionais, em especial, esquecem-se, frequentemente, da importância do constrangimento impercetível que tudo abarca, ou seja, não conseguem ver o que realmente dá estrutura ao problema, isto é, “o telhado à volta do buraco” e, não exclusivamente, o buraco em si mesmo.
A dimensão sistémica dos problemas
Quando somos capazes de nos colocar numa metaposição, abarcando o todo que é tudo, accionamos a dimensão intuitiva. Todas as questões, todos os problemas, todas as relações se inserem numa dimensão sistémica/holística, isto na perspectiva útil de não pertencerem, exclusivamente, ao nosso passado, sendo o nosso presente e, ainda, o que virá. Uma só realidade, portanto… Sem que nos apercebamos disso, este é um erro que cometemos todos os dias quando tomamos decisões.
Não sendo possível separar o buraco do telhado, também vida e dificuldades são uma mesma tela, inseparáveis. Nas organizações, nas famílias, nas salas de aula, tal significaria – no limite – que pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades são elementos indissociáveis . Claro que é mais fácil fazer uma análise estratégica se separarmos as peças, isso eu compreendo. Mas, não nos poderemos esquecer que elas estão, apenas, separadas na projeção representada no modelo prospectivo, não na realidade.
Pela mesma ordem de razões, o conhecimento não pode ser separado de quem conhece, acontecendo o mesmo entre professor e aluno, o dançarino e a dança, etc. Por que seria diferente nas organizações? Não é possível separar nenhum momento da nossa existência, essa é a verdade.
A nossa realidade é holística, ou seja, uma só em todas as dimensões da nossa existência. Por tal motivo não poderemos separar a vida profissional da vida pessoal. Isto do mesmo modo que não poderemos separar “buracos e telhado” Reconheço que perante as actuais lideranças, em geral fracas, acreditar nas vantagens de nos elevarmos a tal ideia será um dos maiores desafios que se pode lançar. Para tal, será necessário mudar de olhos e , justificadamente, de coração…
Eu tenho problemas, mas eu não sou os problemas…
Geralmente, aquilo que nos aprisiona não são os problemas em si, apenas a nossa vontade de lá estar nos condiciona. Apegamo-nos a eles… Por isso, costumo dizer, “eu tenho problemas mas eu não sou os problemas…”. Então, como nos poderemos posicionar de forma serena e lúcida perante a necessidade de tomar decisões?
É simples. Bastar-lhe-á escolher a sua energia de origem. Falo de onde parte, dos seus próprios princípios e do respeito pelos valores dos seus ancestrais. Das suas crenças, da sua realidade mais profunda, enfim, de si próprio… Não me refiro às ideias dos outros, mas, exclusivamente, aos seus pensamentos, palavras e ações.
Para perceber a importância de tais questões bastará fazer um simples exercício, estabelecendo uma relação de grandeza relativa entre a importância de cada um dos órgãos/sentidos do sistema a que chamamos corpo/vida.
Para além de o fazermos enquanto indivíduos, poderemos fazer igual esforço para o planeta, para as ideias, para as empresas, etc. Haverá pessoas, organizações, países, que dirão que o cérebro é o mais importante. Outros considerarão que o órgão mais relevante será o coração, a mente e, por aí fora… Agora que já sabe de onde parte bastará reflectir a propósito do que significa tal responsabilidade.
E eu, qual será o órgão que escolho como mais importante?! Este é o verdadeiro poder da escolha, eleger a origem para um destino. Escolher só o destino, como se faz habitualmente, é puro engano, ilusão. Daí a importância de nas organizações, nas famílias, nas salas de aula, voltarmos a ter estratégias de origem, partindo do sítio certo.