Trata-de uma “empresa” cujo modelo de negócio assenta em milhões de horas de trabalho não remunerado feito por académicos.
Também a Elsevier ou a Springer têm um volume de negócios anual de vários milhares de milhões de euros resultantes de trabalho não remunerado da mesma natureza.
Ainda a propósito de trabalho não remunerado, merece destaque as mais de 22 milhões de horas, que foram “gastas” unicamente no ano de 2013, na revisão de artigos para as 12 maiores editoras como se pode ler no editorial que foi recentemente publicado numa revista de medicina, o que para um valor hora de 40 euros (o custo de uma consulta de medicina geral em Portugal ou do serviço de uma empregada doméstica em alguns países) dá 880 milhões de euros, valor que permite perceber que, se todo o trabalho intelectual de produção científica e de revisão fosse pago o modelo de negócio atrás referido seria manifestamente inviável.
Permanece por isso um mistério porque motivo as universidades, muitas delas com graves problemas financeiros, continuam a contribuir com trabalho não remunerado para a boa saúde financeira das referidas “empresas” e bem assim para a remuneração dos accionistas das mesmas.
O que seria expectável num mundo onde as coisas funcionassem racionalmente era que as universidades fossem remuneradas em espécie, em acções ou de qualquer outra forma pelo trabalho intelectual dos seus investigadores.
É no entanto evidente que nenhuma universidade ou país conseguirá forçar uma tal mudança atendendo ao actual contexto de impunidade e hipocrisia do corporativismo transnacional “big business” que ao mesmo tempo que evita pagar impostos por menores que eles sejam, ainda se atrevem a exigir cortes na segurança social e no acesso à saúde daqueles que menos têm.
Talvez um grupo de países, como a União Europeia, pudesse consegui-lo não fosse dar-se o caso de também neste espaço geográfico e político o “big business” ter um tratamento preferencial a vários níveis, seja na evasão fiscal ou mesmo na desregulação “à la carte” em curso por via do TTIP o qual como defendem vários prémios Nobel da economia irá servir para beneficiar os mesmos de sempre (o grupo de 1% com mais rendimentos) ao mesmo tempo que agravará ainda mais as desigualdades de rendimentos actualmente existentes.
Fonte: Archport
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