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Sexta-feira, Julho 26, 2024

O trabalho é um instrumento de tortura

Paulo Vieira de Castro
Paulo Vieira de Castrohttp://www.paulovieiradecastro.pt
Autor na área do bem-estar nos negócios, práticas educativas e terapêuticas. Diretor do departamento de bem-estar nas organizações do I-ACT - Institute of Applied Consciousness Technologies (USA).

Paulo Vieira de Castro

Na origem da expressão felicidade está a palavra grega eudaimonia, ou seja, a representação da motivação humana. Trabalho tem como origem no latim a palavra tripalium, designando o instrumento de tortura usado para controlar os escravos, isto no tempo dos romanos… Veja-se a energia negativa que esta palavra tem desde tempos imemoriais.

Sucesso e fracasso são – agora – os dois maiores  impostores convertendo a concepção do trabalho em algo  doloroso. Isso tornou-se, quanto a mim,  bem mais grave que o desemprego. Todos sentimos que, cada vez mais, o que incentiva os portugueses a trabalhar é a fome e a sede. E, isto é desumano! Falta portanto pensar o trabalho desde o estimulo da felicidade.

 

Ser feliz é ser útil!

O que é que a felicidade e o trabalho, estas duas dimensões do horário nobre das nossas vidas, poderão ter em comum nos nossos dias? Nada! A não ser que ambas terão de ter outro lugar no nosso quotidiano. Penso que até aqui estamos  de acordo. É urgente a mudança! Se a tradicional concepção de trabalho, seja como valor ou como transacção, está ultrapassada, o papel da  felicidade nas organizações terá de ser, igualmente, repensado.

trabalhoConsequentemente, felicidade e trabalho terão de ser debatidos do ponto de vista do ser humano que questiona activamente. Para alterar o resultado torna-se imprescindível mudar as questões que nos farão avançar, muito em especial as que se relacionam com as nossas escolhas profissionais, cultivando aquilo que é mais forte em cada um de nós. Todavia, falta coragem para que todos partam de si próprios, dos seus limites, sem diabolizar o sistema, pois ele é resultado das nossas crenças  mais profundas. O desfecho disto é bem conhecido. Todos os dias fazemos coisas na ânsia incontida de ter o que nos deixa felizes, esquecendo-nos de ser o que nos faz felizes.

Infelizmente, temos depreciado a felicidade que nos chega por “me sentir útil”, a que nos realiza desde a essência, preferindo a  felicidade  que “me faz sentir bem de certo modo”. Esta última é facilmente, ainda que fugazmente, realizada pelo ter. Isto é, ter um bom carro, boas roupas, boas férias,…, ter crédito, etc.

 

O “Clube da Felicidade”

Ser feliz é, também, poder escolher. O acesso à felicidade sem a necessária responsabilidade remete-nos para a  angústia do trabalho transformado no sonho de ser feliz. A vida fez-se, então, monotonia e, por via disso, tornamos-nos iguais a ela. Mia Couto confessou ser  feliz só por preguiça. “A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer.”.

Mas, como poderemos levar a felicidade para o ambiente organizacional ? Desde logo, criando Clubes da Felicidade nas escolas.

Nas organizações a felicidade deverá fazer parte do plano de trabalho de todas as equipas, o mesmo para famílias ou as salas de aula. Sendo medida como um indicador de sucesso empresarial será uma fonte de atractividade para a construção de uma nova matriz estratégica de recursos humanos. Outras actividades, igualmente, importantes para a inclusão da felicidade no trabalho são a prática desportiva e espiritual em equipa, a gentileza e a cortesia autênticas, a dieta e o tipo de alimentação, o tempo despendido em actividades na Natureza, a compaixão, a gratidão, a forma como gerimos o stress e o silêncio, o envolvimento religioso, o activismo social etc.

As mais modernas formas de sociabilização são alicerçadas no enfraquecimento interno do ser humano, sustentadas maioritariamente por estratégias de pânico e medo. O insucesso, a solidão, a infelicidade, o desemprego, o divórcio, a pobreza, são conceitos que a todos amedrontam no mundo contemporâneo, distraindo-nos daquilo que realmente importa: ser autêntico. A verdadeira felicidade vem daqui mas, para isso, será necessário que conheça a sua “face original”.

A sua felicidade, assim como a minha, está dependente da  resposta a esta questão. Comecemos por aí, independentemente do ambiente onde nos encontremos. E, este é um desafio para a vida…

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