(para o Dia Mundial da Poesia)
“Veio ter comigo hoje a poesia.”
No princípio era a voz de um deus
só e ausente? Que se impôs à própria vontade?
Foi dada como alma aos homens para que estes vivessem,
veio para ser o seu consolo e mortalha
nos dias em que os seus mortos
se inscrevessem na memória?
Os homens eram o que o deus quis,
tocadores de lira de astros?
Condição esta de serem apenas jograis
das palavras de um rei e para o rei?
Veio para refrescar as almas aquecidas
em serões de vinho e risos partilhados
ouvindo os relatos de como os heróis
viviam para vencer batalhas
e de como amavam nos tempos mortos?
Veio para dar-lhes à noite uma face solar
e ser a flor que faltava nos seus jardins?
Não será apenas a confidência do rio
pedindo água ao mar?
De que sono nos veio acordar a nós homens
a poesia? Em que nome nos veio
fazer crer que ela é afinal e somente
o testemunho instintivo do nosso sangue
depois de todo ele se ter esgotado?
Que para nós homens acima da vida no céu
existe a vida na terra?