Nós, os intrusos, no Kruger ParK
“Silêncio e olhos bem abertos. Agora, toda a atenção é pouca!”… O Sol vai alto e quente a escassos minutos das 7 da manhã, quando o portão Crocodile Bridge se eleva para dar as boas-vindas. Uma família de impalas espreita bamboleante assim que o som da viatura se atreve a privar do sossego a longa caminhada pela savana. Seguindo à toa pela estrada que a inspiração ordenar, as palavras resumem-se, mais uma vez, ao pedido de “silêncio”, transgredido pela emoção que provoca qualquer vislumbre, suspeita ou mero indício de ser vivo nas redondezas. E de repente, há quem desfile na passerelle: “Olha, olha, olha… a girafa atrás daquela árvore!”.
A partir de agora tudo é possível e os sentidos estão em alerta constante. Pegadas, galhos quebrados, fezes, rastos, nada escapa ao foco de atenção, que no meio da quietude da savana, decifra comportamentos do reino animal. A carrinha fechada de nove lugares caminha lenta entre pára e arranca. Antílopes, veados, chitas, kudus, hienas, hipopótamos, crocodilos e os afoitos macacos-cão (que aconselham a fechar os vidros), podem avistar-se a qualquer momento. A adrenalina não vai parar de subir tão cedo.
A meta que move todos os safaris, e que será sempre uma surpresa, nesta que é uma das dez reservas selvagens mais importantes do mundo, torna-se, por vezes, obstinação. Poder observar os “big five” (leão, leopardo, búfalo, elefante e rinoceronte) é um verdadeiro triunfo para os mais de 750 mil visitantes anuais.
África Selvagem
O Kruger Park, no nordeste do território sul-africano, ocupa uma área de 20 mil Km2, o equivalente a toda a região do Algarve e Alentejo, e permite debruçar-se pela “África Selvagem” que à excepção de algumas intervenções humanas permanece em estado virgem exibindo a sua braveza.
E de repente: “schiuuuu…ai, ai, ai!… olha um elefante a correr, cuidado!” Não era um, contava-se mais de uma dezena, uma verdadeira manada a atravessar a fronte da carrinha. Atrás vinham gregários, família, amigos. Geralmente andam em manadas de 15 a 30 elementos. Pesam entre 4 e 6 toneladas. Mesmo sem observar as fezes frescas do animal, ou galhos de árvores derrubados, sinal de que podem estar por perto, o susto provocou um respirar que vinha do íntimo. Bem mais forte que uma dezena de vuvuzelas, o barrir do adulto macho renegado pela restante família, segundo consta, deixou de respeitar a hierarquia e dizem ser uma ameaça para os intrusos. Agora, nada de flashes de máquinas ou cabeças fora da janela! Rezam as histórias, que por várias vezes, animais enfurecidos pelos invasores amachucam viaturas e demais empecilhos que se atravessem no caminho. Contam-se muitos episódios e escondem-se outros. A verdade é que os avisos proíbem os turistas de saírem da viatura e ao longo de todo o Parque, e as lápides com algumas dezenas de nomes obrigam à precaução. Afinal, esta não é a nossa casa. Nós, não passamos de apetitosas presas no mundo da sobrevivência. Se este é um dos acasos da vida em que podemos afirmar que nada bate a realidade, também sentimos, que afinal, somos perigosos intrusos. E o rei da selva ficou algures à espreita, sem nos ter brindado com o seu rugir.
Ir nas pegadas
Como ir?
Localizado entre a província do Limpopo e Mpumalanga (no nordeste da África do Sul, com Moçambique a leste e Zimbabué a norte) o Kruger Park fica próximo da cidade sul-africana de Nelspruit e de Maputo. Há voos da TAP e de outras companhias para Joanesburgo e Maputo, a partir de 680€ até valores bem superiores. Como a capital moçambicana fica a 100 Km (uma hora de viagem) tornou-se uma das melhores opções para quem quer visitar o parque. Já Joanesburgo localiza-se a cerca de 500Km (cinco horas de viagem). Uma vez em solo africano, tem ao dispor viagens organizadas ou, em alternativa, pode alugar um carro e aventurar-se de forma independente. Atenção: a condução é pela esquerda e não é permitido ultrapassar pela via interior.
Tendo em conta que o Kruger ocupa uma área de 2 milhões de hectares, distribuídos por 350 Km comprimento e 60Km de largura, deve atempadamente decidir por qual dos nove portões quer entrar. Se pelo Crocodile Bridge, bem perto da fronteira com Maputo, ou Malalene, Numbi, Orpen, Pafuri, Paul Kruger, Phabeni, Pholaborwa e Punda Maria.
Acorde!
Safari é sinal de que tem de despertar com o nascer do sol. Prepare-se para chegar ao parque por volta das 5 da madrugada, altura em que sopra o frio da savana. Quando o calor aperta é mais difícil ver animais, por isso, os melhores horários para ter óptimas surpresas é de manhã cedo ou ao final da tarde.
Horário de funcionamento do Kruger Park: de Novembro a Fevereiro, das 5h30 às 18h30; de Março a Outubro, das 5h às 18h; em Abril, das 6h às 17h30; de Maio a Julho, das 6h às 17h30; e em Agosto e Setembro, das 6h às 18h.
Anote que os safaris diurnos e nocturnos variam entre 50 e 60 €. Se alugar carro a entrada fica a 15€ por pessoa.
Quando ir?
A África do Sul é geralmente um destino ameno e solarengo quase todo o ano. No entanto, saiba que o Verão vai de Setembro a Abril e o Inverno de Maio a Agosto. No Kruger, Inverno e Primavera, especialmente entre os meses de Junho a Outubro, são as melhores épocas, já que no Verão, com as chuvas, a relva cresce demais e acaba por atrapalhar a visão em muitos locais.
Fauna e flora
147 espécies de mamíferos; 507 espécies de aves; 114 de répteis; 34 de anfíbios; 49 de peixes (nos rios Sandy e Sabie); 336 de árvores e 2 mil de plantas, num total de 23 mil espécies no domínio da flora. Acrescente milhares de ruminantes, entre girafas, zebras, gnus, impalas, e outros antílopes.
Curiosidade
O seu nome foi dado em homenagem a Stephanus Johannes Paul Kruger, último presidente da República Sul-Africana bôere e líder da resistência contra o domínio britânico na África do Sul.
Fundado em 1898, foi oficialmente nomeado reserva natural e declarada o primeiro parque natural do país em 1926. Como zona protegida, evitou-se que o número de animais selvagens diminuísse drasticamente depois da forte invasão dos caçadores e traficantes de peles.
Onde ficar?
Protegido pelo governo sul-africano, o Parque Nacional possui várias infra-estruturas com estradas asfaltadas (mas também trilhos de terra batida), aeroporto, restaurantes e diferentes tipos de alojamentos.
Desde lodges, bangalôs, chalés, cabanas e hotéis luxuosos, há oferta para todos os gostos e carteiras. Há mais de vinte campos, estrategicamente situados junto a rios e lagoas e acampamentos fixos para intrépidos aventureiros. Para os mais exigentes à procura de grandes comodidades também existem dezenas de opções, como o Pestana Kruger Lodge, apenas a 150 metros da porta sul do parque, a Melelane Gate. Desde 15€ por pessoa até 180€ (ou mais) a escolha é sua! Saiba que 1€ equivale sensivelmente a 10 rands (R).
Pestana Kruger: tel. na África do Sul (+27) 13 790 25 03, Fax (+27) 13 790 02 80; ou: +2711 462 1714 (Internacional).
e-mail: [email protected]
Para mais informações consulte os sites: krugerpark.co.za; sanparks.org e places.co.za.
Conselhos
É extremamente perigoso aventurar-se sem guia pelo parque (a não ser nas zonas demarcadas onde se podem fazer pausas). Se optar por contratar guias exteriores ao Kruger, nunca saia do carro. Não colocar nenhuma parte do corpo fora do veículo ou fechar as janelas para não ser surpreendido por algum macaco-cão também é lei. Leve roupas de cores neutras para os safaris, e um casaco quente ou polar para as noites. Não se esqueça dos binóculos, máquina fotográfica e protector solar (o sol é bastante quente e frequentemente os visitantes apanham insolações). É recomendada a profilaxia da Malária.
Para entrar na África do Sul deve possuir passaporte com validade mínima de seis meses após a data de saída do país e pelo menos duas páginas vazias (que não poderão ser as últimas). Para muitos países, incluindo Portugal, não é necessário visto (para visitas até 90 dias).
O visitante que fale inglês não terá problemas quando viajar pelo país. Existem 11 línguas oficiais na África do Sul: Inglês, Afrikaans, Ndebele, Sotho (Sotho só no Sul e Norte Sotho, quando chega às escolas), Swazi, Tsongo, Tswana, Venda, Xhosa, Zulu e Pedi.