Um ano passado, já poucos se lembrarão de todos os pormenores da tomada de posse de Donald Trump, marcada por aspetos que muitos então comentaram, tais como a atitude de enfado e a vários títulos surpreendente do filho mais novo, ou certas expressões quase assustadas e para alguns pouco sinceras da sua mulher, Melania, a quem a vida aparentemente acabara de dar uma prenda envenenada, essa, a de ser a primeira-dama de um País difícil. Ambos, o filho mais novo e a mulher, foram praticamente retirados de cena. Melania ainda aparece em atos oficias, mas os dois são remetidos a um limbo defensivo, um muro que Trump ergueu para se defender (e não a eles, supõe-se).
Nessa mesma cerimónia de tomada de posse, poucos são os que se lembram que esteve presente de modo muito ativo uma senhora loira, com gestos e palavras animadas que proferiu em público: “Deus misericordioso, revele ao nosso presidente a capacidade de conhecer a vontade, a Sua vontade, a confiança para nos liderar e a compaixão para ceder perante os nossos melhores anjos”.
O 45º presidente dos Estados Unidos, olhou com ar complacente essa mulher loira, de casaco vermelho que conduziu a cerimónia. Paula White, a “pastora” pessoal de Donald Trump, o mesmo Trump que disse ao mundo que era um homem religioso, repetindo em atitudes e palavras o que, em 2011, sublinhara num canal de televisão confessional: Sou um cristão protestante; sou um presbiteriano. E tenho uma boa relação com o cristianismo. Acho que a religião é uma coisa maravilhosa. Acredito que a minha é uma religião maravilhosa.”
Se Trump tem uma boa relação com o cristianismo, o cristianismo não tem uma boa relação com Trump e muitos crentes são cada vez mais críticos das atitudes insanas do presidente. Mas a verdade é que não nos cansamos de repetir que homens e religião não são um todo. A religião, por si só, nunca foi uma construção bélica, embora desde cedo tenha sido instrumentalizada como motivação de combates e querelas. A fé, escolha individual, e a crença, onde se estruturam e organizam os que têm fé, não podem ser confundidos com as atitudes individuais dos homens, em especial os que se batem pelo seu poder pessoa, as suas ambições, o seu desamor pelo próximo.
A atitude provocatória de Donald Trump ao deslocar a embaixada norte-americana dentro de Israel, é um ato político e que promove a instabilidade política no médio oriente – porque Jerusalém, a cidade agora em causa, é ponto de encontro do sagrado para três estruturas de crença: cristã, muçulmana e judaica. Trump sabe ao que vai, quando promove a discórdia. Como uma criança, faz a maldade e esconde-se, ansiando pela impunidade. Por falar em crianças, há um provérbio oriental que assenta nas atitudes de Trump: os meninos atiram as pedras à superfície do lago, mas são as rãs que aparecem mortas.
Como sublinhou o embaixador da Palestina, a mudança da embaixada destrói “pontes de paz”. Jerusalém é um dos principais diferendos que opõem israelitas e palestinianos, judeus e muçulmanos, desde 1947, quando a Assembleia Geral da ONU decidiu a partilha da Palestina, entre um Estado árabe e outro judeu, o Estado atual de Israel.
Em 1948, no fim da guerra israelo-árabe, junto à declaração da independência de Israel, Jerusalém foi dividida: a parte ocidental ficou sob controlo israelita e a parte oriental sob domínio da Jordânia.
As Nações Unidas nunca reconheceram Jerusalém como capital de Israel, nem a anexação, em 1967, de Jerusalém Oriental. O Mundo, na sua quase totalidade, seguiu esta orientação da ONU. Agora, são novos tempos a marcar o ritmo futuro. Cabe ao mundo a construção da Paz – e aos ambiciosos a sua destruição.
Qual será a opinião da senhora loira do casaco vermelho?
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90