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Terça-feira, Janeiro 14, 2025

Um banco publico que não utiliza bem os meios que dispõe

Eugénio Rosa
Eugénio Rosa
Licenciado em economia e doutorado pelo ISEG

CGD: um banco publico que não utiliza bem os meios que dispõe para cumprir a sua missão, que sacrifica os objetivos estratégicos de apoio ao crescimento económico e ao desenvolvimento do país, e de regulador do mercado bancário, à obtenção de lucros enormes imediatos, sacrificando depositantes, clientes e trabalhadores que continuam a perder poder de compra, e recusa considerar o tempo de serviço, alimentando o “ego” de Paulo Macedo

Neste estudo analiso a gestão de Paulo Macedo. Apesar dos enormes meios que a CGD dispõe, Paulo Macedo tem sido incapaz de utilizar plenamente esses meios para apoiar as empresas e as famílias, o crescimento económico e o desenvolvimento que é a missão principal da CGD. Obcecado pela ideia de obter enormes lucros imediatos fechou centenas de agencias, reduziu os trabalhadores em milhares, esmagou as suas remunerações, destruindo a capacidade da CGD para concorrer com banca comercial. E perdeu quota de mercado em quase todos os segmentos, etc. Este estudo visa repor a verdade pois Paulo Macedo enviou ao governo uma informação que constituiu a resposta deste a uma petição apresentada à A.R. pelo STEC em que apresentou um quadro “cor-de-rosa” da situação da CGD, que não é verdadeiro.

Estudo

CGD: um banco publico que não utiliza bem os meios que dispõe para cumprir a sua missão, que sacrifica os objetivos estratégicos de apoio ao crescimento económico e ao desenvolvimento do país, e de regulador do mercado bancário, à obtenção de lucros enormes imediatos, sacrificando depositantes, clientes e trabalhadores que continuam a perder poder de compra, e recusa considerar o tempo de serviço, alimentando o “ego” de Paulo Macedo

A situação na CGD e a sua missão no país tem estado em debate na COFAP, comissão da Assembleia da República, em audiências que tiveram lugar no dia 8/1/2025 pedidas pelo Sindicato dos trabalhadores da CGD (o vídeo da audiência do STEC está disponível em Audição STEC na Comissão Parlamentar Orçamento, Finanças e Administração Pública – STEC) e pela Comissão de Trabalhadores da CGD. O STEC apresentou uma petição (a Petição 49/XV1ª) com mais de 2500 assinaturas sobre a situação da CGD e sobre a recusa da administração em considerar, para efeitos de promoção, o tempo de serviço em que carreiras e salários estiveram congelados. A administração da CGD elaborou uma informação em que procurou dar um retrato cor-de-rosa da situação CGD em que tudo está bem, o que não corresponde à verdade. Para isso omitiu aspetos graves da situação da CGD e outros foram reconstruídos para compor esse retrato. Essa informação foi enviada pela CGD ao ministro das Finanças que, por sua vez, a enviou ao dos Assuntos Parlamentares que a mandou ao STEC, sem verificar a sua veracidade, como resposta à petição. Este artigo baseia-se num estudo que fizemos sobre a gestão atual da CGD para o STEC, e abrange o período 2017/set.2024, ou seja, o de Paulo Macedo, e visa repor a verdade.

 

UMA ADMINISTRAÇÃO QUE FECHA CENTENAS DE AGÊNCIAS E REDUZ A CGD EM MILHARES DE TRABALHADORES, VIOLANDO A MISSÃO DE PROXIMIDADE DAS POPULAÇÕES E ENFRAQUECENDO A CGD FACE À BANCA PRIVADA CONTROLADA POR ESTRANGEIROS

O gráfico 1 mostra a redução significativa do número de trabalhadores e de agências da CGD em Portugal levada a cabo pela administração de Paulo Macedo com consequências graves para as populações de muitas regiões do país e para a capacidade da CGD de enfrentar a concorrência da banca privada controlada por estrangeiros.

A enorme redução agências (205) entre 2016 e set.2024 (diminuíram de 717 para 512, e mesmo este número pode estar empolado pois como consta do relatório da CGD do 1º semestre de 2024,naquele total de 512 estão consideradas não só as agências, mas espaços Caixa e gabinetes de empresas que em muitos casos estão dentro das agencias) deixou muitos regiões do país sem qualquer agencia bancária, o que provocou o protestos das populações e mesmo dos próprios autarcas como os órgãos de comunicação noticiaram. E tenciona ainda agravar mais a situação com as agências “smart” (muitas, 1 trabalhador) Desta forma, a atual administração da CGD violou claramente o “principio de proximidade” que constitui um dos princípios principais que fazem parte da sua missão.

No período dez.2016-set.2024, a administração de Paulo Macedo reduziu o número de trabalhadores em 1886 só em Portugal, que associado ao fecho de agências, destruiu uma parte importante da estrutura e da capacidade da CGD para enfrentar a concorrência da banca privada controlada por estrangeiros, o que está a causar a perda continuada de quota de mercado de crédito no país.

 

APESAR DOS MEIOS FINANCEIROS DA CGD TEREM AUMENTADO SIGNIFICATIVAMENTE, A ADMINISTRAÇÃO DE PAULO MACEDO TEM SIDO INCAPAZ DE OS UTILIZAR PLENAMENTE PARA AUMENTAR A CARTEIRA DE CRÉDITO, PERDENDO ATÉ QUOTA DE MERCADO

No início de 2017, o capital da CGD foi reforçado com 4400 milhões €, sendo em 2500 milhões € pelo próprio Estado, o que aumentou muito os seus rácios de capital e de liquidez, criando assim as condições para que a CGD pudesse apoiar fortemente as empresas e famílias, o crescimento económico e o desenvolvimento do país. Mas não foi isso que aconteceu.

Quadro 1 – O aumento reduzido do crédito à economia e famílias e a queda continua do rácio de transformação -2016/2024


A reforçar a conclusão de que a atual administração da CGD tem sido incapaz de utilizar os meios financeiros que dispõe para promover o crescimento económico e o desenvolvimento do país, apoiando as empresas e as famílias, está a queda significativa do “rácio de transformação” da CGD que, entre 2017 e set.2024, diminuiu de 86,8% para apenas 61,2%. Isto significa que por cada 100€ de recursos que CGD captou aos clientes (a maioria depósitos à ordem e a prazo), a CGD emprestou (concedeu crédito) apenas 86,8€ em 2017 e, em set.2024, só 61,€ (-29,6%) a nível de contas consolidadas. E a nível de contas individuais, que são as que refletem mais adequadamente a atuação da CGD no país, por cada 100€ de recursos dos clientes a CGD concedeu, em 2017, 84,6€ de crédito e, em set.2024, apenas 61,3€, uma redução de 27,5%, o que é muito significativa. Pode-se afirmar que a administração de Paulo Macedo tem sido incapaz de utilizar plenamente os meios que possui para aumentar o crédito, embora isso faça parte da missão da CGD, violando este princípio. E também não é por falta de liquidez ou de capital pois estes rácios de capital e de liquidez são muitos superiores aos exigidos pelo Banco de Portugal (quadro 2).

Quadro 2 – Rácios de capital e de liquidez da CGD e os exigidos pelo Banco de Portugal (mínimos)

Em set.2024 , os rácios de capital (CET1 , Tier 1, Rácio Total ) e de liquidez (LCR) da CGD eram muito superiores aos exigidos pelo Banco de Portugal, respetivamente, em 138%, 96,7%, 62% e 239%. Estes níveis de rácios de capital e de liquidez mostram que a CGD poderia acomodar muito mais RWA concedendo muito mais crédito (o de liquidez defende o banco de levantamentos anormais a curto prazo) sem pôr em risco a sua solvabilidade (o que CGD precisa é de uma gestão mais capaz e que compreenda qual é função de um banco público) reduzindo mesmo a taxa de juro para tornar o crédito mais acessível às empresas e às famílias como têm feito outros bancos cuja carteira tem crescido O BCP já ultrapassou a CGD no crédito total e o líder no crédito às empresas é já o Santander e não a CGD.

Quadro 3 – A evolução das quotas de mercado de crédito da CGD durante a administração de Paulo Macedo

Apesar da CGD ter meios para conceder muito mais crédito, o certo é que a sua administração ou por incapacidade ou por decisão deliberada ( ex. fazendo exigências e cobrando juros mais elevados que outros bancos, destruindo a capacidade da CGD para concorrer com a banca privada) não tem feito, e a quota de mercado de crédito da CGD tem continuamente diminuído. Entre 2017 e set.2024, a quota de crédito total da CGD caiu de 20,6% para apenas 17,7%. Apenas o segmento de crédito à habitação registou uma melhoria em 2024, mas no crédito a “Particulares” (inclui a habitação e consumo), registou uma diminuição desde que Paulo Macedo está na CGD. No crédito às empresas, em que se estava a verificar também uma redução, para esconder eventualmente esse facto, a administração da CGD, a partir de 2021, deixou de divulgar ou então juntou-o ao das “entidades institucionais”, tornando assim o valor não comparável com os valores anteriores. Assim oculta o facto do Santander ter ultrapassado a CGD neste segmento mercado COMO É QUE A ADMINISTRAÇÃO DA CGD, APESAR DA REDUÇÃO DO CRÉDITO (quadro 1) CONSEGUE OBTER ENROMES LUCROS: reduzindo os custos da estrutura, fechando centenas de agências, reduzindo milhares de trabalhadores, esmagando os salários, aumentando muito os juros e as comissões cobradas, e não pagando juros por metade dos depósitos (34000M€ à ordem) mas cobrando comissões a esses depositantes.

Quadro 4 – O corte significativo dos custos de estrutura (remunerações, gastos gerais administrativos e amortizações) com Paulo Macedo

Entre 2017/set.2024, a redução do “Cost-to-income”, que se obtém dividindo a soma dos custos com os trabalhadores, administrativos e amortizações pelo Produto Global da Atividade, em -48,2% nas contas consolidadas e em -56,2% nas contas individuais, , revela bem a dimensão do corte que a administração de Paulo Macedo fez na estrutura da CGD tornando-a mais frágil e com menor capacidade para enfrentar a concorrência da banca privada, causando assim a perda de quota de mercado. A queda do rácio Custos com Pessoal/Produto Global da Atividade de 32,7% para 17,4%, de 2017/2024 confirma a perdas de poder compra.

Quadro 5 – O Aumento enorme dos juros e das comissões cobradas pela administração de Paulo Macedo 2017/2024

Entre 2017 e 2023, os juros cobrados pelo crédito concedido aumentaram muito (+53,6%) e a Margem Financeira, diferença entre juros cobrados e juros pagos, cresceu 159,7% porque os juros pagos aos depositantes diminuíram -40,7%. As Comissões líquidas também aumentaram 21,5%. Como consequência destes aumentos enormes da Margem Financeira e das Comissões líquidas a sua SOMA aumentou 118,7% apesar do crédito ter diminuído, entre 2017 e 3T2024, em -5,9% (de 55255 para 52009 milhões €-contas consolidadas). No 3T de 2024, a espoliação de clientes e depositantes continuou, pois, a SOMA MF+CL atingiu 2558 Milhões €. São estes aumentos enormes da Margem Financeira e das Comissões Líquidas à custa dos clientes e depositantes que contribuem para os enormes lucros obtidos pela CGD (os lucros de 2017- 2023 aumentaram 2387% nas contas consolidadas e 4703,7% nas contas individuais, estes 27M€ para 1182M€, e, no 3ºT2024, foram 1369 M€),apesar crédito diminuir. Os sucessivos governos nada têm feito para impedir esta gestão de Paulo Macedo que viola a missão da CGD obtendo enormes lucros à custa de clientes, depositantes e trabalhadores.

 

ENTRE 2010 E 2017, AS REMUNERAÇÕES ESTIVERAM CONGELADAS COMO ACONTECEU NA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA APESAR DOS PREÇOS TEREM AUMENTADO 10,6%, E ENTRE 2017 E 2025, COM PAULO MACEDO, MUITOS TRABALHADORES PERDERÃO PODER DE COMPRA, MAS PAULO MACEDO RECUSA-SE A CONSIDERAR O TEMPO DE SERVIÇO FEITO APESAR DOS ENORMES LUCROS

Quadro 6 – A evolução do poder de compra dos trabalhadores da CGD com Paulo Macedo – 2017/2025

Como revela o quadro, 96,8% dos trabalhadores da CGD vão perder poder de compra entre 2017/2025 ( os dos níveis da última coluna à direita a vermelho do quadro) com a administração de Paulo Macedo apesar dos enormes lucros obtidos pela CGD. E isto depois de terem perdido 10,6% entre 2010/2017 (IPC do INE) porque as suas remunerações mantiveram inalteráveis o que imposto pelos governos de Sócrates/ Passos Coelho/troika à Administração Pública e prolongado durante um ano pela entrada de Paulo Macedo e os preços, segundo o INE, aumentaram 10,6% de 2010/2017. Apesar de tudo isto a atual administração recusa-se a considerar os 4 anos de serviço em que as carreiras estiveram congeladas apesar do Ministério do Trabalho ter proposto a sua negociação, aceite para os professores e outras entidades publicas. Eram 8 milhões €por ano que Paulo Macedo devia aos trabalhadores em 2017 de que se está a apropriar (agora são 6,1 M€ -126€/mês- devido à redução de trabalhadores) apesar de representar menos de 1% (0,68%) dos lucros da CGD em 2023 e no 3T2024, violando a missão da CGD (a valorização dos seus trabalhadores). Eis o retrato real da CGD e não o de cor-de-rosa construído pela administração de Paulo Macedo na informação que enviou ao governo e este divulgou sem confirmar a sua veracidade.


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