Um país muito maior do que o seu presidente. Essa é a constatação óbvia do que estará presente no discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 24 em Nova York.
Por tradição, cabe ao Brasil ser o primeiro a se pronunciar no evento. No período recente, o país se destacou pela contundência e consistência das falas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Ainda é recente na memória nacional o caso da denúncia da ex-presidenta sobre a espionagem norte-americana, que repercutiu no mundo inteiro — além do marco de ter sido ela a primeira mulher na história a fazer o discurso inicial, em 2011. Passaram por lá também figuras brasileiras emblemáticas, como o ex-chanceler Oswaldo Aranha, que chegou a apoiar a China do governo de Mao Tse-tung na ONU por considerá-lo o único que representava o povo chinês, logo após a Revolução de 1949.
Foram representantes que corresponderam ao tamanho do Brasil; não se dirigiram aos poderosos do mundo com voz súplice. Demonstraram capacidade de mediar suas opiniões, sem deixar de demarcar bem que falavam por um país que sabe tomar conta dos seus destinos. Líderes de verdade não precisam ser temidos para serem respeitados. Além de ouvir, precisam dominar a arte de dizer as coisas certas na hora certa. Precisam ter a capacidade de convencer, de gerar algum consenso.
Isso é tudo o que Bolsonaro não tem. Além da sua manifesta truculência, ele é notado por sua mediocridade. E, mais uma vez, as notícias dão conta de que essa sua característica estará no discurso do dia 24 — uma performance sob medida para agradar ao chefão da Casa Branca, Donald Trump (Bolsonaro recebeu orientação do guru direitista Steve Bannon, o mesmo que orientou a campanha do presidente norte-americano).
O jornal O Globo informa que o presidente alinhavou seu discurso com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). Nele, o ponto central será um pedido do denominado comissário de relações exteriores do golpista venezuelano Juan Guaidó, Julio Borges, para que os países que participarão da Assembleia Geral aumentem “ainda mais” a pressão contra a Venezuela e Cuba.
Como fiel serviçal dos interesses da Casa Branca, Bolsonaro aceitou de bom grado desempenhar esse papel submisso, se prestando a ser o triste peão do projeto de Trump na região. O Brasil teria mais o que fazer na ONU, se Bolsonaro não tivesse a missão de apequenar o país. Suas portas estão abertas a todos as nações, que sentam-se como iguais.
É uma conquista, que custou a superação de muitos obstáculos. Lá seria o lugar ideal para abordar o problema que mais aflige a humanidade atualmente — a crise econômica global. Estão aí os números recentemente divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que revelam um cenário assustador. Nele, o Brasil aparece com mais um corte na projeção para o crescimento neste ano e no próximo.
O PIB brasileiro ficou com a estimativa de alta de 0,8% para 2019 e 1,7% em 2020. A previsão anterior era de crescimento de 1,4% e de 2,3%, respectivamente. Isso é menos do que estima o último Boletim Focus, do Banco Central, que projeta crescimento de 0,87% neste ano e de 2% no próximo. Para o mundo, a OCDE reduziu as projeções de crescimento de 3,2% para 2,9% neste ano e de 3,4% para 3% em 2020.
O Brasil, comparado com outros países, tem um crescimento real do PIB per capita entre 2010 e 2018 bem abaixo da média global e do que o visto entre 1995 e 2007, o que leva à possibilidade de mais uma década perdida. Mas esses dados não estão na agenda de Bolsonaro. Com essa postura, mesmo a importante medida de cortes na taxa de juros Selic pelo Banco Central se torna inócua, perdida no vácuo da falta de ação efetiva do governo para enfrentar a situação.
Texto original em português do Brasil
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