Marcelo Rebelo de Sousa quis evitar que Maria de Belém seguisse a estratégia de Sampaio da Nóvoa e, no debate desta Sexta-feira, na RTP, resolveu deixar a posição defensiva e partir para o ataque. Até foi a sua adversária que abriu as hostilidades, ao insistir que o ex-comentador é useiro e vezeiro em fazer “intriga política e criar factos políticos”. E, para reforçar a ideia, foi mesmo buscar uma afirmação de Passos Coelho num congresso do PSD, que lhe seria dirigida, de que se trata de um “catavento político”.
Foi o que bastou para Marcelo procurar ‘virar o jogo’, devolvendo-lhe a acusação de “intriguista” e mostrando-se surpreendido por Maria de Belém vir exibir na campanha “um lado de psicólogo que não lhe conhecíamos”, sendo ele próprio o objecto da análise. Lembrou que tem vindo a dizer que é “hiperactivo, doente mental, que durmo pouco, veja-se só a que ponto chegou”, perguntando-se que interesse tem para a campanha “o número de horas que durmo”.
Maria de Belém justificou que apenas tinha reproduzido afirmações que o próprio Marcelo Rebelo de Sousa proferiu. E procurou agarrar uma das armas que, no debate anterior, havia sido usada por Sampaio da Nóvoa, no caso, uma decisão de um governo do qual Marcelo fazia parte, de suposto ataque ao Serviço Nacional de Saúde.
Marcelo aproveitou a viagem ao passado para recordar que, enquanto líder da oposição, viabilizou três orçamentos aos governos de António Guterres, “contra os barões do meu partido”, o que, do seu ponto de vista, indica que não sofre de instabilidade e que sabe colocar o interesse do país acima de tudo o resto. Graças a essas decisões, pôde Maria de Belém manter-se nesses governos, como ministra, pelo que “está a dever-me muito da sua vida política”.
Maria de Belém não se mostrou convencida disso, nem, muito menos, agradecida, até porque, garantiu, essas decisões terão tido “moedas de troca”, por parte do PS, sendo uma delas a revisão constitucional.
Um dos temas em debate foi o da Saúde, com Belém a voltar a qualificar como aproveitamento político a ida de Marcelo ao Hospital de S. José logo a seguir ao falecimento de um homem. O candidato considera que se tratou de uma forma de defesa do serviço público de Saúde e revelou que o ministro da tutela concordou com a sua ida ao hospital. E, tal como Maria de Belém, criticou o anterior governo pela política ao nível da Saúde, nomeadamente no protelamento ou adiamento de investimento que entendem ser prioritários.
Esta e outras farpas dirigidas ao executivo de Passos são vistas pela sua adversária como mais um sinal de que Marcelo “é, e não é, ao mesmo tempo”. Por um lado, recebe o apoio do seu partido, por outro, tenta afastar-se dele. Marcelo responde que o que Maria de Belém está a tentar fazer “é ir buscar à direita os votos que não tem à esquerda”. E manifesta perplexidade por alguém que “não consegue unir o seu partido, querer unir o país”.
Mas, ao fim de tantas discordâncias, no final do debate assistiu-se a alguma concordância de pontos de vista, sobretudo quanto à convicção que ambos têm de que o Governo de António Costa vai conseguir cumprir os compromissos europeus.
[…] Um debate cheio de intriga política […]