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Terça-feira, Dezembro 24, 2024

65.º Festival Internacional de Cinema de San Sebastián

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

Um festival de descoberta de novos valores e de promoção do cinema da América Latina.

O cinema latino-americano tem, nos últimos anos, vindo a demonstrar uma pujança e vitalidade cada vez maiores. Apesar da instabilidade política e das dificuldades financeiras e sociais que se registam em muitos países o cinema oriundo daquelas paragens tem conseguido um crescente reconhecimento internacional quer pelos prémios obtidos em vários festivais quer pelo sucesso alcançado junto do público (e aqui incluímos o europeu e norte-americano).

O Festival de San Sebastián não é ‘inocente’ neste processo. O programa ‘Cine en Construcción’, que já vai em mais de trinta edições e que San Sebastián mantém em parceria com o Festival de Toulouse tem sido um verdadeiro motor para a realização de filmes de jovens realizadores de língua espanhola e portuguesa, alguns dos quais já brilharam em Berlim, Cannes, Veneza e outros certames de primeira grandeza. Aqui, em San Sebastián, existe há muitos anos a secção “Horizontes Latinos”, competitiva, “seleção de longas-metragens do último ano, produzidas total ou parcialmente na América Latina, dirigidas por cineastas de origem latina, ou que tenham como tema comunidades latinas do resto do mundo”. Os filmes de “Cine en Construcción” estão aqui em força. Naturalmente.

Cinema da América Latina

Na lista de trabalhos incluídos na presente edição encontramos obras vindas da Argentina, Brasil, Chile, México, República Dominicana, Venezuela, Uruguai e Costa Rica, alguns deles com co-produção com outros países (a Espanha à cabeça).

“Una Mujer Fantástica”, de Sebastián Lelio

“Arábia”, de Affonso Uchôa e João Dumans

O filme inaugural desta secção foi “Una Mujer Fantástica” do chileno Sebastián Lelio, jovem cineasta que viu o seu trabalho anterior, “Gloria”, um produto de “Cine en Construcción”, conquistar o prémio de melhor actriz (Paulina Garcia) no Festival de Berlim/2013.

Destacamos também o filme brasileiro que tivemos oportunidade de ver em Karlovy Vary e que esteve também em Roterdão e no IndieLisboa: “Arábia” de Affonso Uchôa e João Dumans. Esta é a história de um rapaz que vive num bairro operário junto a uma fábrica de alumínio em Ouro Preto, no Estado de Minas Gerais e de um operário da fábrica que é vitima de um acidente de trabalho. As memórias deste último que relatam a sua viagem à procura de emprego são o pretexto para um “road movie” que é um retrato muito interessante do Brasil da gente pobre, que tem um grande sentido de solidariedade e de entreajuda. Muito longe das telenovelas passadas em condomínios de luxo. Um filme importante para conhecermos um pouco melhor a nossa “pátria irmã”.

“Nuevos Directores”

O certame “donostiarra” pretende ser também um lugar de descoberta. Por isso tem, desde há muitos anos a secção “Nuevos Directores”, competitiva, na qual têm lugar primeiras ou segundas longas-metragens, produzidas no último ano.

Este ano podemos ver filmes de Dinamarca, Reino Unido, Taiwan, Espanha, Suíça, China, Suécia, Bélgica, França, Colômbia, Filipinas, Coreia do Sul, Chile, Argentina e Índia.

O trabalho selecionado para a abertura desta secção foi “Charmøren / The Charmer”, filme dinamarquês de Milad Alami, Charmøren um drama psicológico construído a partir da história de um jovem iraniano que procura uma mulher dinamarquesa com quem possa estabelecer uma relação e assim garantir a sua permanência na Dinamarca.

Outro das obras apresentadas é “Pailalim / Underground” é um filme filipino de Daniel Palacio que conta a história de um coveiro que vive com a família, no cemitério, dentro de um mausoléu. Vive no temor constante de ser desalojado do local em que se aloja ilegalmente.

“Charmøren / The Charmer”, de Milad Alami

Pailalim / Underground”, de Daniel Palacio

‘Culinary Zinema’ e “Savage Cinema’

A terminar o texto de hoje a referência a outros dois ciclos que integram a programação.

O primeiro, ‘Culinary Zinema’, faz jus à fama que San Sebastián tem na área da gastronomia, com vários restaurantes conhecidos mundialmente e várias ‘esrtrelas Michelin’. De entre os filmes deste ano, que como habitualmente serão exibidos em sala mas também em restaurantes (neste caso com jantar confecionado por cozinheiros famosos), destacamos “The Trip to Spain” de Michael Winterbottom que continua o seu périplo, com Steve Coogan e Rob Brydon, agora por Espanha e depois do êxito de “The Trip to Italy” e “The Cakemaker” filme alemão-israelita de Ofir Raul Graizer que participou na competição de Karlovy Vary.

“The Trip to Spain”, de Michael Winterbottom

“The Cakemaker”, de Ofir Raul Graizer

Já em ‘Savage Cinema’, este ano na 5ª edição, podem ser vistas películas de ficção ou documentais em que o desporto e aventura são protagonistas. Desta vez o espectador poderá a acompanhar a subida ao Evereste ou a montanhas australianas, entrar pelos fiordes da Islândia, ou conhecer vários surfistas norte-americanos.

 

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