Se Vladimir Safatle fosse comentar esse filme, certamente o consideraria como um produto sem nação.
Ontem assisti a uma obra que não via há muito tempo: um filme policial com toda a cara dos modernos filmes policiais de Hollywood: Time to Hunt (Tempo de Caça), dirigido pelo coreano Yoon Sung–hyun e com todo o elenco formado por atores coreanos do sul. E tudo o mais sendo da Coreia do Sul, inclusive as paisagens. Se o filósofo Vlademir Safatle fosse comentar esse filme, certamente o consideraria como um produto sem nação, pois ele considera que a arte não tem pátria. Eu o vi se referir assim à literatura, mas certamente se a literatura não tem pátria, quanto mais um filme!
Tempo de Caça está em cartaz na Netflix e tem duração de 2h 14min. Ele é narrado e falado em coreano, mas a cópia tem legendas em várias línguas, inclusive em português e é simples de ver. Eu o vi por sugestão do cineasta Heber Pessoa. Achei o filme interessante pelo fato de que há muito tempo não me enfronhava numa missão assim. Um filme filme. Um filme a que se assiste para se ver um filme simplesmente. Como quem joga futebol.
Na produção coreana, esse não me parece ser um filme popular, mas um produto que tem a pretensão de ser de interesse cultural. O diretor Yoon Sung–hyun é um jovem com formação intelectual. Quando lançou seu primeiro filme, Bleak Night, como projeto de graduação, foi não só bastante premiado como destacado como “um jovem promissor”.
Tempo de Caça tem uma estória que se situa no que seria um filme de bom conteúdo. Conta o tempo em que a Coreia do Sul estava em franca decadência e com uma tremenda crise econômica e social, com o enorme débito com o FMI e principalmente os jovens não tinham emprego. E três jovens amigos, um deles com passagem na polícia, resolvem assaltar uma casa de jogos clandestina, com o sonho de comprarem um terreno numa ilha para viverem num paraíso. Conseguem fazer o assalto com sucesso. Mas a partir daí é que começa o filme policial. Um pistoleiro de aluguel contratado pela casa de jogos começa uma perseguição totalmente rigorosa, pesada, até conseguir matá-los.
E aí é então que temos o filme policial com sequências violentas e com toda a visualização do que Hollywood considera um filme policial. Em Tempo de Caça, as cenas visuais são muito difusas no claro e escuro. O que atrai muito o espectador é a trilha sonora, não só musical, mas em forma de ruídos e sons em gerais. Toda a densidade dramática se encontra justamente nesse aspecto fílmico.
O que me parece fundamental nesses diretores do melhor cinema atual é como eles estão conseguindo fazer filmes com uma linguagem hollywoodiana, mas sempre com um pulo um tanto fora da fórmula. Sem dúvida, a tecnologia digital ajuda nessa maneira de fazer cinema.
por Celso Marconi, Crítico de cinema mais longevo em atividade no Brasil. Referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8 | Texto em português do Brasil
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