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João de Sousa

Domingo, Novembro 10, 2024

Um giro à direita. Um não ao extremismo

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

A eleição de domingo não tem ganhador único. Tem vários, e eles não estão na esquerda nem na extrema direita. Vencedores foram os partidos da direitona, a velha, a que sempre existiu, inclinando-se ora para um lado, ora para outro.

A extrema direita mostrou que ainda tem força, mas Bolsonaro, que já não tem grande perspectiva de poder, colecionou derrotas (e cometeu muitos erros). Não se pode dizer que o presidente Lula saiu derrotado, pois se envolveu muito pouco, mas sai enfraquecido pelas derrotas do PT e da esquerda. No caso do PT, foram derrotas importantes, considerando o fato de estar há dois anos no poder com Lula, que tem feito um bom governo. Muitos petistas estão invocando o argumento válido de que o partido foi espancado e jogado no fundo do poço nos últimos anos. Isso é fato, serve de conforto mas o que a disputa futura vai exigir é musculatura política.

O PT fez até seu gol de honra em Fortaleza, numa final de 7 a 1, e ampliou ligeiramente seu número de prefeituras. Para quem não tinha prefeito de capital há oito anos, a conquista foi um avanço, mas pequeno diante do giro para a direita que saiu das urnas.

Afora a importante derrota em São Paulo com a candidatura de Boulos, do PSOL, afora ter ganhado em apenas uma capital, o PT perdeu em grandes cidades onde já foi forte, como as do antigo cinturão vermelho paulista. O Norte e o Nordeste são mesmo refratários à esquerda mas, no Nordeste onde Lula é rei, aqueles cinco maiores partidos levaram todas as prefeituras, com exceção de Fortaleza.

Óbvio que o PT precisa descobrir onde é que está errando, ao ponto de não converter em votos os bons resultados econômicos e sociais do governo Lula. A tal renovação que nunca acontece continua sendo uma necessidade, assim como as táticas eleitorais. Ontem mesmo esta discussão teve início no partido.

Os resultados informam que o eleitorado preferiu os partidos da velha direita, dê-se a ela o nome que quiser (centro, centrão, direita liberal, envernizada, não extremista etc…), rejeitou bolsonaristas extremistas e em menor escala os candidatos petistas.

Os partidos do que chamo direitona colheram o maior quinhão de votos e o maior número de prefeituras, inclusive nas capitais. O PSD de Kassab completou, no segundo turno, uma cesta de 887 prefeituras, seguido do MDB com 856, do PP com 745 e União Brasil com 583. A seguir vem PL com 515. O PT vem em nono lugar com 252 (tinha 184).

Os cinco primeiros partidos juntos vão governar 68% dos eleitores em 3.615 cidades. Mas, se o PSD de Kassab ficou com o maior número de prefeituras, o PL recebeu o maior número de votos, mais de 15 milhões. Isso significa que a extrema-direita continua forte, o bolsonarismo é que perdeu força com a falta de futuro do inelegível.

Bolsonaro colecionou derrotas e cometeu muitos erros. Como fez corpo mole em São Paulo na campanha de Ricardo Nunes, não é sócio daquela vitória, onde o ganhador maior é o governador Tarcísio Motta. Fora isso, apoiou de forma decidida candidatos que chegaram em primeiro lugar ao segundo turno mas foram derrotados no segundo: Fortaleza, João Pessoa, Manaus, Belo Horizonte, Curitiba e Goiânia, onde o mico foi maior porque ele chegou a brigar com o governador Caiado, que apoiou o vencer Sandro Mabel, do União Brasil. Bolsonaro ganhou em Aracaju e em Cuiabá, derrotando o PT numa polarização direta, mas perdeu na refrega dura de Fortaleza.

Este quadro saído das urnas fala algumas coisas sobre o futuro próximo.

1. Para ser reeleito, Lula precisará cooptar um ou alguns partidos da direitona, que estão em seu governo mas não têm compromisso para 2026.2. O PT precisa mesmo fazer um retiro para pensar na vida, repensar seu discurso, sua comunicação, suas práticas e táticas.3. O PSD agora se torna um partido pêndulo importante. Poderá ter projeto presidencial próprio em 2026, poderá ficar com Lula ou com a extrema direita (especialmente se Tarcísio for candidato a presidente). Ou mesmo continuar com um pé em cada canoa. Agora, porém, ele já colheu os frutos desta ambiguidade.4. O PL, segundo seu presidente, Waldemar Costa Neto, talvez tenha que fazer um giro para o centro, e isso significa disputa com Lula e o PT apoios dos vitoriosos de ontem.5. O resultado pode ter impacto sobre a disputa pela presidência da Câmara. Talvez o PSD de Kassab queira agora construir uma frente para garantir seu candidato, Antônio Brito. Lula e o PT não poderão errar neste jogo.

No mais, veremos.


Texto original em português do Brasil

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